𝟢𝟣. 𝗁𝗈𝗆𝖾 𝗌𝗐𝖾𝖾𝗍 𝗁𝗈𝗆𝖾

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Mamãe deixou um beijo grudento na minha testa em despedida.

— Mãe... tá tudo bem, não é como se nunca mais fôssemos nos ver. Também vou sentir sua falta, mas preciso ir.

Ela apertou os olhos e assentiu com a cabeça, fitando minha face pálida pela última vez antes do assistente de vôo dar a última chamada para o embarque.

Meu destino era Forks, em Washington, para cuidar da minha tia Kate. Sempre fomos loucas uma pela outra, como melhores amigas, então sempre pedia para Claire que minhas férias de verão fossem na reserva. Mas agora, as coisas mudaram. Ela recém descobriu uma anomalia no esôfago e precisaria realizar alguns exames arriscados, logo, estou me mudando por tempo indeterminado para sua casa.

O colégio da reserva pediu alguns documentos via e-mail e os demais, deixei para entregar diretamente na secretaria em virtude de finalizar minha transferência.

Vôo 147 em destino ao aeroporto de Forks, última chamada.

Dei um último abraço apertado na minha mãe e segui caminho à aeronave, entregando minhas passagens e documentações para a aeromoça, que me recebia com um sorriso terrivelmente largo e lábios avermelhados por um batom craquelado.

Três horas e meia de avião foram necessárias para que eu finalmente estivesse desembarcada em Forks. Despachei minhas malas grandes e senti meu estômago embrulhar pela emoção de voltar naquela cidadezinha pequena, deprimente e chuvosa. Apesar de ser da Califórnia, eu sentia que me encaixava ali: minha pele não via sol há muito tempo, era pálida e amarelada. Meus cabelos não eram tão chamativos, eram acastanhados e claros, nada que me destacasse. Minha postura parecia cansada, insegura... A única coisa que conseguia captar alguns olhares eram: o formato dos meus lábios rechonchudos, olhos azuis como a nascente de uma piscina-natural e bochechas naturalmente pintadas de rosa. Eu me achava bonitinha, mas não tanto quanto as californianas louras e bronzeadas com suas marcas de biquíni e cílios postiços.

Percorri os portões do aeroporto com os olhos semicerrados em busca da figura feminina que mais aguardava ver naquele momento, o que não demorou muito para acontecer. Corri com as malas pesadas de rodinhas ao avistar minha madrinha, que me recebeu com um abraço aconchegante, me confortando entre suas mão atarracadas.

— Você tá tão linda, Heidi! Como cresceu! — Se minha consciência não estava enganada, percebi uma condolência em sua voz doce, como se estivesse nostálgica quanto minha aparência. Não nos víamos há alguns anos e aquele reencontro havia preenchido meu coração de boas expectativas sobre o período que eu residiria ali.

— Ainda sou a mesma garotinha de sempre, prometo. — Respondi prestativa, meiga e confiante.

Alguns quinze minutos de carro foram o suficiente para que colocássemos os assuntos de longos anos em dia e fofocássemos um pouco sobre a rotina ironicamente agitada das pessoas da reserva. Tia Kate contou que redecorou meu quarto de uma forma mais "jovem", mas que havia deixado alguns pertences que lembravam-a de quando eu era pequenininha. Logo mudou de assunto, comentando sobre um homem que estava paquerando e que já tinha três filhos, duas gêmeas mais velhas e um rapaz da minha idade.

— Amanhã já é segunda. Trouxe seus documentos para finalizarmos sua matrícula no colégio? Não quero que se atrase nas matérias. — Disparou como uma parente preocupada. Não tirava sua razão.

— Sim, estão na mala. — Respondi mesmo sabendo que, pela diferença entre os colégios qual eu me transferiria, já estaria bem avançada nos estudos.

O Ford Bronco verde musgo foi estacionado na garagem da residência de madeira, porém rusticamente moderna e elegante, típico da minha madrinha. Retirei minhas malas do porta-malas e murmurei com o exagero de ter colocado todo o guarda-roupa dentro de duas bolsas grandes.

De longe, conseguia ver um rapaz moreno de roupas largas na casa mais próxima treinando com sua bola de futebol, dispersando-se do jogo para observar eu e minha tia retirando as coisas do carro. Ele acenou e Kate acenou de volta, deve ser algum vizinho novo. Não lembrava dele, talvez na última vez que visitei Forks o garoto e sua família ainda não haviam se mudado.

— Caleb, como está sua mãe? — Gritou a madrinha, me assustando por um momento. O garoto respondeu um "bem" e voltou a jogar, ignorando completamente nós duas como se não estivesse muito afim de papo.

Adentrei à minha nova residência – por tempo indeterminado – e subi as escadas com as malas pesadas, abrindo as portas do quarto "juvenil" decorado pela Kate e um tanto preparada para arrumar tudo em seu devido lugar no resto da tarde que me sobrara.

Três horas já haviam se passado e Kate pediu uma pizza de pepperoni para o jantar, coisa que eu já estava ciente de que aconteceria, visto que nós duas não somos muito fãs de cozinhar. Comi, tomei um banho, deixei uma mensagem no e-mail da mamãe e deitei no acolchoado macio e com cheiro de sabão de lavar roupas.

Embrulhada no cobertor para me proteger do frio assassino da reserva, tentei descansar, mas um barulho estranho na janela me despertou da vontade de passar logo para o dia seguinte.

Levantei da cama um tanto trêmula e com o coração saltitado, puxando a cortina esbranquiçada e me deparando com o rapaz que havia visto mais cedo. Como diabos ele havia subido até o segundo andar e ainda por cima alcançando a minha janela?

Confusa com toda aquela situação, abri a vidraçaria e ele adentrou ao cômodo com seus tênis sujos e cabelos desgrenhados.

— Sou Caleb, Caleb Hawk. Somos vizinhos agora. — Na maior naturalidade, ditou.

— Você é louco? Invade a casa de todo mundo e ainda age como se nada tivesse acontecido? — Rebati incrédula.

— Tecnicamente, não invadi, você deixou eu entrar. — Mais um ponto para Caleb!

Resmunguei e fechei a janela para evitar que o ar congelante do lado de fora esfriasse meu ambiente quente e confortável, que talvez não estivesse mais tão confortável como eu gostaria.

— Minha família é amiga da Kate, sempre estamos todos juntos. Minha mãe pediu que fizéssemos amizade e eu ajudasse você na escola, meio que sabemos da condição da sua tia, então... se precisarem de nós, é só pedir.

Talvez ele não fosse tão patético quanto pareceu quando quis apoderar-se do meu quarto. — Obrigada... sou a Heidi. — Assenti doida para que ele fosse embora.

— Aí, me dá uma carona amanhã pra escola? Posso te ajudar com os documentos e sua grade escolar. Minha letra não é uma das melhores, mas te empresto meu caderno.

Own, que gentil. O invasor de quartos de meninas novas na vizinhança quer ajudar a mocinha com suas anotações! — Pensei.

— Pode ser. Te espero amanhã então. — Forcei um sorriso gentil e observei o moreno abrir a janela novamente, pulando para o gramado logo abaixo e sumindo na escuridão.

 — Forcei um sorriso gentil e observei o moreno abrir a janela novamente, pulando para o gramado logo abaixo e sumindo na escuridão

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𝐏𝐀𝐑𝐀𝐃𝐈𝐒𝐄 | Jacob Black Onde histórias criam vida. Descubra agora