Amiga do Pássaro

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Num detestável orfanato
Vivia uma menina melancólica,
Dominada por uma doença
Descrita como diabólica.

Sua pele era pálida,
Parecia estar sempre cansada,
Uma criança com a expressão
De uma alma amargurada.

Uma doença cruel, nunca detectada,
Uma condição humilhante,
Que deixava isolada.

Ela vomitava sangue
E tossia até chorar,
Nenhuma alma no recinto
Tinha coragem de se aproximar
Para consolar.

Seus dez anos de vida
Foram anos de castigo,
Dez anos sem alguém,
Dez anos sem um único amigo.

Ela pediu à Deus a morte,
Ela pediu à Deus para ser forte,
Ela pediu à Deus um pouco de sorte,
Pediu à Deus para que se importe.

E então
Na estação que vem antes do verão,
Um pássaro negro pousou
Na janela de seu quarto
E assistiu-lhe a solidão.

A menina o admirou,
Abriu a janela,
E com as mãos o chamou,
Mas seu coração quase parou
Quando o pássaro negro falou.

E ele lhe falou:
"Oh pobre e solitária criança,
Você terá paz se me aceitar".

E então ele partiu
Sem nada explicar,
Deixou a criança
Assustada a pensar.

No outro dia ele voltou,
No quarto entrou,
A menina o encarou,
E mais uma vez ele falou:

"Deixe-me ser
O que você nunca teve,
Deixe-me ser
A projeção perfeita que sempre desejou".

E o pássaro novamente partiu,
E novamente retornou,
Uma nova frase enigmática proclamou;
Com o passar dos dias
A menina se acostumou,
Amiga do pássaro se tornou.

Aquela criança enfim sentiu a felicidade,
Provou do amor em meio a tanta maldade,
Os seus olhos viram outra realidade,
Uma luz que sobrepunha a insanidade.

Entretanto, seu estado de saúde não melhorou,
Estava cada vez mais abatida,
Sua batalha pela vida parecia perdida.

Mas o pássaro lhe falou:
"O fim pode ser o começo,
Pode ser a liberdade
E o fim das aflições".

"Basta apenas mantermos
A alma pura,
Longe daquela profana loucura".

E então a menina encarou
O fim como uma benção,
O destino ela abraçou,
Seu espírito se acalmou.

Ela contemplou com amor
As estrelas da noite,
As flores do jardim,
O alívio após a dor,
O dia em seu fim.

Contemplou o próprio sorriso,
E pôs-se a chorar,
Não de tristeza, mas sim por sua beleza
Que era de emocionar.

Após aqueles dias vividos
A garota enfim partiu,
O pássaro com ela ficou até o fim,
Por isso a menina
Antes de fechar os olhos
O beijou e sorriu.

Poemas e Poesias - Volume 02Onde histórias criam vida. Descubra agora