III - O Inferno Continua (PT. 2)

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Eu corri até a porta embaixo da escada que ligava a parte superior do orfanato, dava o porão. A escada era de madeira e o odor de mofo era forte, e então me encontrei. Era naquela noite, naquela noite onde eu consegui as cicatrizes. Eu queria gritar (novamente) para impedir mas não podia, e de qualquer jeito a chave de fenda já havia penetrado na minha carne, eles encostaram aquela coisa suja de ferro em mim. A cada pancada eu sentia como se fosse o eu de hoje sentindo-o.

Eu não queria olhar para aquilo, mas já havia olhado, e agora meus olhos viraram oceanos de lágrimas. Subi novamente, descontrolado, gritando, chorando e correndo daquele lugar maldito. Minha dor está marcada na minha pele.

Naquela noite, depois de tudo, eu havia dormido na calçada do orfanato. Quando acordei, meu corpo estava deitado no chão e meu rosto estava molhado, uma brisa fria batia levantando meu cabelo e uma forte chuva molhava meu corpo. Eu me levantei lentamente do chão, minha franja molhada batia em meu nariz e bochechas, minha calça branca estava encharcada, fiquei de pé e me virei para a entrada do hospício com um olhar sombrio e doloroso.

Andei lentamente para a porta do edifício, passo por passo, mais perto, a porta se abriu lentamente com a minha presença e um trovão foi a trilha sonora do momento. Vi meus "colegas" do orfanato todos já adultos, até mesmo as freiras más estavam lá (mas já esqueléticas).

Dei um grito de dor e desespero, foi espontâneo, todos me olhavam amendrontados. Na minha frente via Clarita, em carne e osso, foi ela quem deixou aquela família desgraçada me levar. Andei lentamente até ela, a olhando no fundo dos olhos, me aproximei mais e agarrei seu pescoço.

- MORRE! MORRE! - Eu gritava para ela enquanto a asfixiava. Ela ria, ria da minha cara a cada grito que eu dava, e, por uma fração de segundos, ela se metamorfoseou em uma estátua de ossos.

Me afastei assustado, agora ela estava correndo atrás de mim, mudando entre seu corpo normal e o conjunto óssil. Eu corri até a porta de entrada tentando fugir dela mas, ao me virar para a porta, senti suas mãos frias feito cadáver tocar meus ombros frágeis me puxando para baixo. E então, o chão era como areia movediça, eu estava descendo e descendo e descendo e descendo... Cai em uma cama velha de hospital, amarrado por cordas, havia três freiras conversando entre si na minha frente, uma pegou um desfibrilador e ao invés de colocar em meu peito, o colocou na minha cabeça, dando choques no meu cérebro e arrepios que se espalhavam pelo meu corpo frágil. Minhas pálpebras ficaram pesadas, pesa... pe...

Acordei em um pulo, ainda estavam enrolado nos lençóis e sentado na cama mas não estava mais naquele lugar horrível. Uma brisa morna atingiu meu rosto secando e levantando minha pequena franja, sai da cama e fui passear pelo local ja totalmente seco de toda água. Tinha uma diversidade de tamanho de grama, a mesma era rosa igual o céu, "será que cheguei no paraíso?" pensei comigo mesmo. No meio do gramado havia um espelho flutuante onde eu podia ver todo o meu corpo, fazia tempo que não via meu rosto horroroso e meu corpo magro, me virei para ver minhas costa e todas as cicatrizes haviam sumido.

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