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Era noite. Uma linda noite, na verdade, e como vinha acontecendo com muito mais frequência recentemente, Izuku e Katsuki se encontravam no telhado de casa, deitados observando as nuvens.

Por mais comum que fosse, a quantidade de escapadas noturnas que estavam fazendo era grande ultimamente. E, na verdade, na maioria delas era Katsuki quem os arrastava pra lá.

Era bom. Mesmo que resmungasse em protesto sempre que tinha que sair de sua cama quentinha, Izuku adorava estar ao ar livre assim, principalmente a noite. Era onde ele poderia ser mais leve, mais despreocupado e estar com seu irmão, tranquilo, sentindo a brisa fria e observando as estrelas.

Izuku sempre foi um cara da noite, mesmo sendo um madrugador completo. Diferente de Katsuki, que com certeza era um despertador humano que preferia o sol e o calor e tinha horário pra dormir. Por isso a, leve, estranheza.

Kacchan gostava da noite, sim. Ele gostava dos jantares em família, (sim, ele gosta) da noite de pizza e das ocasionais escapadas noturnas normalmente feitas por Izuku. Mas isso não mudava que o loiro era um cara de rotinha.

Ele gostava de ter tudo programado e, com certeza, seu tempo de sono era uma dessas coisas. Katsuki dormia cedo e acordava mais cedo ainda, então era realmente estranho ele chamar pra tantas saídas à noite quando isso poderia acabar com seu cronograma de descanso. – O que ele odeia, vale ressaltar.

— O que é? - Izuku perguntou, relaxado no loiro.

O verde não precisou elaborar mais pra que o irmão soubesse o que ele queria dizer. Katsuki deixou que Izuku se acomodasse mais perto de si, esse era um dos raros momentos em que o verde se deixava ser mais suave, e ele gostava da sensação da névoa do irmão em seu corpo, o acalmava, tranquilizava. Seguro calmo seguro—

— Izuku.... você acha que aquele cara está vivo? - Perguntou, olhando as estrelas.

A névoa de Izuku os embalava, o cheiro doce ficando fraco pela brisa, concentrado apenas neles, os ocultando dos olhares curiosos. Ambos enrolados no telhado, o verde jogado como um felino em cima do loiro carmesim.

— Sim.

Disse sem rodeios, e era verdade. Izuku sentia que ele poderia estar vivo, e isso não tinha nada haver com danger sense. O loiro apertou o irmão contra seu próprio corpo.

— ...Vai ser perigoso.

— Sim. - Disse-lhe sinceramente.

O loiro ponderou sobre o que dizer a seguir, suspirando em seguida.

— Eu sei que você é forte pra caralho, e a tendência é ficar ainda mais. - Revirou os olhos, o irmão riu baixinho.

— Mas... Izuku, aquele filho da puta é muito poderoso. Eu só...

E ele finalmente encontrou os olhos do irmão, que observavam-no com atenção. Amor devoção carinho confiança—

— Fizemos uma promessa, não a quebre.

Ele pediu. Os olhos vermelhos sérios, tentando passar a severidade do perdido, dos sentimentos. Amor preocupação medo devoção confiança—

— Eu...eu não consigo! Não consigo confiar neles!! E se eles me machucarem de novo!? Porra!

— Eu não vou deixar! Eu prometo! Você é o meu irmão, não vou deixar ninguém machucar você. Não vou te deixar sozinho!

— Você promete?? Nunca?

— Eu prometo se você também prometer. Nunca ficar sozinhos, sempre juntos. Eu só confio em você, você só precisa confiar só em mim também.

— Eu só confio em você. Sim, eu também prometo! Sempre juntos!

— Sempre juntos.

— Eu não vou se você também não fizer. - O loiro sorriu.

— Vadia.

O verde sorriu, aconchegando-se mais ao irmão.

— Idiota.

[...]

Yagi estava tonto. E não, não por causa de sua constante perda de sangue ou por uma luta com algum vilão, não. Era pelo caderno de análise do jovem Midoriya.

Sinceramente, ele não esperava muita coisa. Ele sabia que seu sucessor era muito inteligente sim, mas ele ainda era uma criança. Talvez fosse por isso que o surpreendeu tanto, ele o subestimou.

Toshinori não entendia muito bem sobre análise, mas já teve sua cota de contato com elas ao longo de sua vida como profissional e podia dizer que aquilo era de competência superior.

Talvez ele devesse deixar o encontro de Nezu e do jovem Izuku por último. Infelizmente não seria evitável, independente de seus maiores esforços, ele sabia melhor.

Além disso, surpreendentemente, Midoriya-shounen não desenvolveu super-força como ele ou seus antecessores. Na verdade, ele adquiriu não uma, mas duas individualidades que Yagi sequer sabia da existência e, pelo visto, tinha a possibilidade da criança adquirir ainda mais com o passar do tempo.

O quão absurdo isso pode ser!?

Assombrado pela análise de ponta do caderno que ele queimou agora a pouco e pelo poder bruto do menino que o possui, ele ligou para Tsukaushi. Ele precisava conversar, Deus, e aproveitaria a deixa pra marcar o bendito encontro que lhe foi exigido.

Kami, se aquele garoto consegue fazer análises de si mesmo tão bem, o quão bom ele pode fazer isso dos outros? Quantas Quirks ele pode ter a partir de agora?

— Toshinori? - Questionou da outra linha.

A voz de seu amigo o acalmou mais do que ele estava disposto a admitir.

— Naomasa, oi. Será que podemos conversar?

[...]

Tsukaushi Naomasa é um homem ocupado. Ele trabalha no departamento de polícia central de Musutafu, e normalmente é encarregado de casos do crepúsculo e noturno, sempre lidando com a maioria das coisas ruins com pessoas discretas e da noite.

Naomasa é um cara ocupado e discreto e, ainda sim, é o melhor amigo de Yagi Toshinori, o completo oposto de descrição e, além disso, o maior herói dos holofotes que o Japão já teve em muitas eras.

Toshinori era animado e contagiante normalmente e, por esse motivo, quando o homem ligou em seu horário de descanso antes do trabalho e lhe chamou pra conversar com uma voz abalada, ele ficou um pouco preocupado.

Acontece que era sobre o novo pupilo de seu amigo, Midoriya B. Izuku, e a cada frase que seu amigo lhe dizia, mais Naomasa ficava empatado entre estar lívido e extremamente impressionado.

Realmente, as preocupações do garoto eram plausíveis e sinceramente, nem mesmo Tsukaushi sabia o que dizer ao menino sobre isso. Além disso, pela palinha sobre o caderno de análise do garoto que Toshinori recitou pra si, ele era um pequeno gênio nato. Que o mundo sobreviva ao encontro dessa criança com Nezu.

Com isso, foi meio impossível dizer não quando seu amigo lhe pediu um encontro entre os três. Ele definitivamente queria dar uma olhada na criança e, agora já acordado, tinha coisas a fazer.

E devo dizer, ele fez o melhor que pode pra achar respostas no tempo que tinha. Ele procurou tanto e não achou nada, nada sobre aquele dia, aquela luta ou o que fizeram com o corpo dele além do que eles se lembravam. — O que, por algum motivo estranho, era pouco. Ele mesmo era um dos encarregados do caso na época, o que houve?

Cada vez mais que procurava, mais parecia que estava correndo em círculos, e um peso em seu estômago o fazia se sentir ansioso.

Ele esperava que o garoto estivesse errado. Esperava que si mesmo só estivesse cansado e nervoso demais pra procurar nos lugares certos sobre isso e que, já já, quando descansasse e se acalmasse o suficiente, encontraria as respostas que tanto queria, só estava muito bem escondido.

Ele espera.

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