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Seus meninos estavam diferentes.

Não a entendam mal, Izuku e Katsuki sempre foram muito próximos desde que aprenderam a andar e falar, e talvez até antes disso. Mas Inko era uma grande observadora e uma mulher inteligente, ela sabia pegar as menores coisas que os outros não conseguiam.

É por isso que, quando ela diz que seus meninos estão diferentes, é porque estão.

Ela não sabe exatamente quando começou, Inko só sabe que notou que algo estava diferente e, quando olhou mais de perto, percebeu as nuances.

Ela sabia por exemplo que Izuku era um pequeno preguiçoso. Ele adora dormir, e as vezes escolhe os lugares mais estranhos. E agora, sua pequena copia parecia ainda mais propenso a dormir cada vez mais.

Ele ainda fazia suas coisas habituais, claro. Como acordar cedo, meditar, malhar muito e estudar ainda mais, sem preguiça ou reclamar. Mas agora, era muito mais comum vê-lo dormindo, e não os cochilos rápidos de antes, onde ele estava sempre alerta. Ele dormia, e Inko as vezes até conseguia fazer carinho em seu cabelo quando ele fazia isso no sofá da sala ou na mesa de centro.

Sinceramente, era uma coisa boa. Seu menino havia passado por muita coisa quando pequeno e daqui em diante, com o curso que almejava, sofreria ainda mais. Era bom que ele tenha deixado o hábito desconfiado de sempre tão bem intrincado nele antes.

Mas isso não deixava de preocupa-lá, porque se ele parecia realmente dormir, sem nem mesmo acordar pra dar uma olhada em quem se aproximava como sempre fizera antes, significa que ele estava mais cansado do que gostaria de admitir.

Tudo isso, misturado com a quantidade exorbitante de café que ele consome, que parece ter triplicado, mas que mesmo assim não o impede de dormir nos lugares mais improváveis e nas posições mas engraçadas e fofas que Inko já viu.

Ela só esperava que seu menino não estivesse se desgastando tanto quanto ela achava que estava. Inko tendia a exagerar nas coisas, as vezes se preocupando excessivamente. Ela agradecia por sua família amorosa entender isso nela, ela os amava tanto!

Agora, Izuku não foi o único que estava diferente ultimamente. Ela havia dito meninos, no plural, então é claro que Katsuki não havia fugido de seu olhar de águia.

Katsuki sempre foi muito parecido com Mitsuki-chan. Impetuoso, independente e muito irritado, mas assim como Izuku, Inko sabia puxar pra fora seu lado suave e suave.

Seu filhote loiro era como o sol. Enérgico e ativo e sempre iluminando tudo e trazendo energia, procurando brigas novas com o irmão ou com Mitsuki e sempre disposto a uma boa luta.

Mas agora, ele parecia mais calmo. E não que ele não fosse, ele é! É só, um pouco diferente do menino inquieto por ação que era. Katsuki adora gastar energia e se cansar pra conseguir dormir tranquilo, sem se preocupar com o suor noturno excessivo estragando suas coisas, mas agora, ela via isso menos vezes que antes.

Talvez ela só estivesse sendo paranóica demais e seu garoto só tivesse achado uma outra maneira de cuidar de sua energia e suor, mas ela não conseguia não notar a diferença. Porque, além de mais calmo, Katsuki agora não ligava com o grude excessivo de Izuku em cima de si.

Normalmente o loiro reclamava e resmungava e, nos dias ruins, puxava brigas e gritava muito, mas não se afastava realmente, além de ter um certo tempo limite de toque ao qual ele estava disposto a deixar que as pessoas vissem, até mesmo seus pais.

Agora porém, além de reclamar relativamente menos, Katsuki parecia não se importar com o grude mais que excessivo que Izuku pareceu ter desbloqueado recentemente, e era até fofo e engraçado ver.

Ela notou tudo isso, mas não disse nada. Seus filhotes pareciam mais juntos, como quando mais novinhos, e isso a encheu de alegria e nostalgia o suficiente para não fazer nada a respeito.

Inko ficaria de olho, no entanto. Ela nunca permitiria que seus filhotes se machucassem, muito menos se magoassem. Não, nunca. Não se ela tivesse uma opinião sobre isso.

Por enquanto ela deixaria como está. Inko confia em seus meninos, eles sempre fizeram o melhor pra si mesmos e sempre reclamaram quando algo estava ruim. Mas se Inko percebesse que algo estava errado, sua família sabia que nada poderia lhe segurar. Nem mesmo All Migth! E o homem já lhe devia muitas respostas por se envolver com seus filhos.

[...]

Katsuki estava bufando de raiva e frustração. Isso porque o idiota do irmão mais novo dele queria ir pra a porra da delegacia de polícia sozinho.

Isso podia não ser nada de mais para a maioria das pessoas, principalmente se elas estivessem dentro da lei. A única diferença é que seu irmãozinho idiota ainda é considerado Quirkless aos olhos dos outros.

E, bem, isso por si só não deveria significar muita coisa. Mas acontece que nem os civis e nem a polícia, muitas vezes nem os heróis, viam pessoas como Izuku do jeito que elas realmente eram; como pessoas normais, como todos os outros.

E isso por si só já causou mais problemas do que ele e sua família gostaria. Então, não o crucifique por estar cético e a ponto de ter um ataque.

— Kacchan, eu sei me virar e você sabe bem isso. - O verde disse.

Aos poucos perdendo a paciência que herdou de Inko e Masaru e deixando seu lado irritadiço, adquirido de Mitsuki, fluir.

— Eu sei que você não é uma maldita boneca de porcelana ou qualquer porra que tenham falado pra você antes. Mas ainda é o caralho do departamento de polícia, e você vai entrar lá sozinho, puta que pariu! Usa esse seu cérebro grande pra ver a merda que você tá indo de cabeça! - Falou irritado, tentando não elevar o tom pra que mamãe no andar de baixo não ouvisse nada.

Izuku suspirou pesado, tentando se acalmar. Acontece que sempre que se exaltava demais Smokescreen saia um pouco de controle e seu cheiro e um pouco de fumaça roxa quase transparente o rodeava. Katsuki não era muito melhor, o cheiro doce e leves faíscas saindo de suas palmas.

— Sim, tudo bem. Eu sei que eu estou indo direto pra o departamento de polícia, mas eu fiz pesquisa. Aquele filho da puta é um dos polícias mais confiáveis da comunidade Q+, e ouvi que ele constantemente trabalha com EraserHead, e você sabe como ele é. - O loiro também suspirou pesado.

— Não importa nerd, eu não vou deixar você ir pra aquela merda sozinho. Nem que eu tenha que ficar na porra da porta. Você ainda está entrando, e você não sabe como o resto de lá vai reagir. E você sabe que por causa do seu orgulho de merda os seus sapatos são quase como faróis ambulantes. - Cruzou os braços ainda irritado, porém mais calmo.

Era verdade. Os sapatos de Izuku, assim como de muitos da comunidade Q+, ou Quirkless, eram de matérias bem vagabundos e de um tom vibrante de vermelho.

Mas acontece que não era qualquer vermelho. Era um de uso exclusivo. Nenhuma outra marca tinha permissão pra usar aquele tom, além da própria fábrica de itens para pessoas "desse tipo".

Izuku era um dos poucos privilegiados que nasceu em uma família amorosa e com uma boa condição financeira, então seus pais puderam encomendar seus sapatos de fora, mas o menino sempre os preferiu daquela cor desde que aprendeu a se defender adequadamente.

Ele dizia, quando criança, que não tinha vergonha de quem era e que não pretendia abandonar seus companheiros de comunidade. A cor de um sapato não mudaria o que ele era, e se fosse pra usar um, ele usaria de acordo com sua irmandade.

Infelizmente ser durão não mudou o comportamento das pessoas ao redor, mas mesmo depois de tudo o menino, cabeça dura como era, nunca quis mudar, abandonar os seus. É por isso que Katsuki fica sempre tão apreensivo sempre que sabe que o irmão está indo pra perto de lugares propensos a multidões de pessoas Quirkistas.

Infelizmente, departamentos de polícia eram um desses lugares. Eles sabiam disso intimamente. Izuku suspirou pesado em derrota, jogando-se em cima do irmão, que não fez muitos protestos além de um resmungo, agarrando-se a ele.

— Faça meu café.

E Katsuki sabia que tinha vencido.

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⏰ Última atualização: Aug 23 ⏰

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