Seis

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Dia 31 de Dezembro

— Onde é que você estava? -perguntou com a faca na mão, enquanto cortava um pão.
— Eu estava na casa da minha avó, eu te avisei que iria para lá. -respondeu Samara.

O pão foi colocado em cima da bancada, ao lado de uma xícara cinza com o café já pela metade e um pote de margarina com o meio vazio. — Eu já falei para você, que quando eu mandar você ficar, você vai ficar.
— Amor! Foi só uma noite, eu estava com saudade da minha avó. - falou ela colocando a bolsa em um banco que estava próximo a porta da entrada, e indo em direção a ele.

Um homem com um metro e setenta e oito de altura, de cabelo castanho claro que caia até a altura do queixo, era quase um surfista, se não fosse pela camisa social azul claro que marcava seus bíceps, no pulso um relógio de ouro marcava 8h00 da manhã, ele usava uma calça bege que era presa por um cinto de couro preto com a fivela também dourada, nos pés um mocassim azul com alguns detalhes brancos.

Ela se aproximou dele e deu um abraço beijando seu rosto. — Deixa eu ver uma coisa no seu celular? - ele estendeu a mão para ela dar o celular a ele.
— Tá desconfiando de mim? Eu nunca te dei motivos pra isso.. toma. - ela entregou o celular a ele.

Em menos de dois segundos o seu celular estava no chão, aberto e com partes separadas, nenhum concerto resolveria, apenas um celular novo. Ela ficou em estado de choque olhando o que o seu namorado havia feito, quando olhou de volta para ele, as mãos firme do rapaz agora segurava forte a sua boca e a apertava, fazendo ela soltar um gemido agudo de dor e medo ao ver a faca se aproximando de seu rosto, e ficando bem próximo de seu olho.

— Escute bem, pois é a última vez que eu vou falar isso pra você! - falou apertando mais forte o rosto dela.- Quando eu disser a você que é pra você ficar, ou para você fazer algo, você vai fazer! -ela vou ficando fraca de dor e medo e começou a dobrar o joelho, até o momento que ficou ajoelhada no chão olhando para ele, que estava encurvado em sua direção mantendo a faca próximo ao rosto dela.- Está me ouvindo? - Ela piscou forte os olhos , derramando lágrimas, mas confirmou com a cabeça, fazendo uma leve pressão na mão dele, que entendeu o sentido afirmativo da ação.

— Agora vai se arrumar, temos que ir na casa dos meus pais antes, e você está aí, vestida parecendo uma quenga que acabou de chegar de um puteiro. Eu não quero ver você com nada que chame a atenção.. e é disso que você gosta né? que te olhem que te desejem, mas comigo é diferente, você vai se portar igual uma mulher de verdade. Vá, e não coloque maquiagem nem brincos nem nada espalhafatoso! - ela levantou e caminhou rápido até o banheiro que tinha no quarto.

Era possível sentir o coração pulsando no ouvido, cada batida era ensurdecedora.. o sangue quente a fez suar, suas mãos pareciam não mais estar sob seu controle. Ela estava no chão, em posição fetal no canto do banheiro, com as mãos inutilmente tentando tapar o barulho que ouvia vindo da pulsação forte de seu coração, seus olhos não paravam de lacrimejar, no seu braço direito, um líquido viscoso e quente derramava, ela o tocou e viu sangue que estava misturado com suas lágrimas, o pânico tomou conta de seu corpo. 'De onde vinha esse sangue?' pensou ela. Com um pouco de força conseguiu se levantar, segurou-se na pia, para ficar em pé e olhando no espelho viu que tinha um corte na parte superior da sua bochecha. Ela chorou com a mão na boca para abafar o som e não atrair outra irá do seu namorado.
— Por que ele fez isso comigo? Eu nunca dei motivo, eu sou uma boa namorada, eu só queria me despedir de meus amigos, porque agora ia morar com ele e sei que ele não gostaria de que falasse com eles.. -ela abaixou a cabeça ainda chorando, lágrimas e sangue pingava na porcelana branca da pia.- a culpa é minha, eu não deveria ter feito isso, eu menti. - Ela ficou estática na frente do espelho por um tempo, depois a sua feição parecia desprovida de qualquer sentimento, era como se alguém a tivesse roubado, dela mesma. Ela virou e foi até o box do banheiro, onde ligou o chuveiro começou a tomar banho, sem se importar com o corte que estava em seu rosto.

Quando ela abriu a porta do banheiro, lá estava ele, sentado na cama, olhando-a com uma cara de preocupado, parecia saber o que havia feito, ele se ajoelhou na frente dela e abaixou a cabeça olhando para o chão. Ela estava com uma toalha no cabelo fazendo um turbante, para manter seu cabelo úmido e também estava enrolada em uma toalha que circulava seu corpo, cobrindo da altura das axilas até a metade da coxa, e em seu corte estava um algodão fazendo compressão, preso por um pedaço de esparadrapo.

— Por favor, me perdoa.. -falou ele andando de joelhos na direção dela, e segurando ela pela perna, como se fosse uma criança.- Eu não queria fazer isso, foi sem querer, foi um momento de raiva, eu prometo que isso nunca vai acontecer. Por favor meu amor, me perdoa..- ele bateu no próprio rosto, para se punir.- eu fui um moleque!

Ela não sabia o que fazer, mas aquelas palavras pareciam vir do fundo da alma dele, era quase como um lobo dizendo "vem ovelha, nos meus dentes você encontrará refúgio.", a sedução na trama, as lágrimas que desciam dos olhos dele, tudo parecia tão real, tão divino..

— Por favor, não fique triste.. -ela se ajoelhou e ajudou ele a se levantar.
— Como não? Eu machuquei você, olha o que eu fiz com o seu rosto. Mas também eu não tive culpa, você entende? Eu tenho ciúmes de você, mesmo você dizendo que ia ficar com a sua avó eu fiquei com medo, e se tivesse outro homem lá e desse em cima de você? A culpa não é minha, você é uma pessoa muito legal e atenciosa, e isso me deixa muito enciumado. - falou com uma cara de cachorro perdido na chuva.- Você entende? Se você não fosse assim, eu não chegaria a esse ponto.
— Eu entendo meu amor, e prometo que isso nunca mais vai acontecer. -ela tocou no rosto dele, e o olhou nos olhos.- Eu também te amo, isso não foi culpa sua, não se preocupa. Meu rosto vai ficar melhor e se alguém perguntar eu digo que fui passar uma cerca no sítio de vovó e rasguei o rosto no arame farpado. - o olhar devolvido dele era quase imperceptível, mas havia uma malícia, um tom de conquista, que ela não pode perceber.
— Você promete? - ele perguntou segurando a mão dela.
— Prometo meu amor! - ele puxou ela pela mão para próximo dele. Segurou ela pela cintura, mantendo as pernas dele entre as dela e aproximando sua boca da dela, podendo ouvir a respiração ofegante vindo dela. Ele acariciou sua bochecha machucada, e sentiu ela o segurando forte na sua cintura, era o sinal que ele tinha de que poderia fazer algo a mais.

Ao saírem do quarto, os dois já estavam arrumados, pronto para saírem e irem a casa dos pais dele, ele colocou novas roupas, mas a paleta de cor eram quase parecida com a antiga, apenas tonalidades mais fortes, e o relógio que era de ouro, agora era um prata, para combinar com o conjunto. Ela usava um vestido azul claro que ia até o calcanhar, e vestia um sapato all star branco. Não tinha adornos, nem maquiagens, apenas seu cabelo que ainda úmido, fazia ondulações e estava dividido ao meio, pendendo a frente de seus ombros.

Na mesa da cozinha estava apenas a xícara vazia, a faca melada de margarina e o pote ainda aberto. Ela se aproximou dos itens e brincando disse: Nossa Caio, como você é bagunceiro em, poderia pelo menos limpar na próxima vez.
— Pra você nada nunca tá o suficiente, né? - ele disse olhando sério para ela.- A gente acabou de ter um sexo maravilho, e você já quer estragar a sensação?!
— Não meu amor, me desculpa, eu tava só brincando eu não quis te ofender. - ela falou com a voz baixa, se aproximando dele e o abraçando, ele não fez gesto algum.
— Tá. -ele afastou ela- Vamos indo? Meus pais estão esperando a gente. E sobre seu celular, depois eu compro outro, não se preocupe. já que você não vai mais precisar trabalhar eu te darei outro.
— E se minha mãe, meu pai ou voinha ligar? -ela perguntou preocupada.
— Eles são mais importantes que eu? -ela meneou a cabeça negativamente- Então pronto, como você me deu o dinheiro que você juntou trabalhando, para comprarmos uma casa. depois eu te compro um celular. depois você liga do meu celular pra ela, e fala que seu celular quebrou.
— Tá bem meu amor, eu vou fazer isso.
— Vamos então? -disse ele já com a porta aberta.
— Vamos! 

Naquele AnoOnde histórias criam vida. Descubra agora