Dois

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Os garotos desligaram o jogo e foram direto para o quarto, Samara foi antes beber água, foram dormir por volta das 4 da manhã. Quando por volta das 04:30, o celular de Kevin tocou, era o despertador. Kevin estava na cama de cima agarrado com o travesseiro, nem a roupa havia trocado, mas mesmo relutante, se forçou a levantar. Esfregando os olhos que ardia, ele deu um pulo da cama, como se estivesse atrasado para pegar um ônibus numa manhã de domingo.
Já em pé, ele olhou para Marcos que dormia com a cara enfiada no travesseiro, uma perna na cama de cima, a outra no chão, ele estava de barriga pra cima, e parecia não se incomodar com o travesseiro cortando boa parte de seu oxigênio.

Kevin tocou nele devagar sussurrando seu nome, para não acordá-lo no susto, mas não conseguiu e balançou ele mais forte.
— Marcos! Acorda man. -Kevin tirou o travesseiro de seu rosto, para ver a baba escorrendo pelo canto de sua bochecha e descendo até o pescoço para pingar no colchão.- Carai que nojo, vei. -balançou novamente- Acorda ai pow, bora ali comprar o café da manhã antes que as coisas acabem.

Marcos apenas se mexeu, mudando de posição e ficando em posição fetal com o rosto virado para o lado da cama. Kevin balançou mais forte, o que fez Marcos acordar assustado, colocando as mãos próximo ao peito, como um hamster depois de um susto.

— Desculpa, eu não queria te assustar. -falou Kevin olhando ele.
— O que foi? -disse Marcos ainda desnorteado e sem saber o que estava acontecendo.
— Vamos ali comprar as coisas pra comer, se a gente não chegar cedo a gente não vai conseguir comprar nada. - ele estendeu a mão para o amigo que a agarrou.- limpa a boca aí ó, você tava babando.
Marcos agarrou a mão dele e levantou, depois limpou a boca. — Que horas são? Eu capotei que nem vi.
— 04:30 da manhã. -falou Kevin abrindo a porta do quarto devagar.
— E que horas a gente foi dormir? -bocejou, enquanto esfregava os olhos.
— Sei lá. Umas três ou quatro da manhã. - disse Kevin abrindo a porta do banheiro devagar para não fazer zuada.
— E por que acordar tão cedo, hein? -Disse parado na porta do quarto, encostado nela.
— É  á num ê xá. - disse escovando os dentes enquanto olhava o amigo pelo reflexo do espelho, que ficava em cima da pia de porcelana branca, com a torneiras que parecia um anzol de cabeça pra baixo, feita de inox.
— Fechar o que man? - falou Marcos entrando no banheiro e indo direto para o sanitário que  também em cerâmica e branco combinando com a pia, que ficava à esquerda da entrada no mesmo lado que a pia, e em sua lateral um box, que parecia ser de acrílico  preto  barato, mas que cumpria a sua função. - Fecha a porta ai, na moral, acabei esquecendo. -falou abrindo o botão do short para mijar
— O mé á dinho. -disse fechando a porta e depois cuspindo na pia- O mercadinho abre dia de domingo e feriados, o dono é um mercenário. -Colocou água na boca pra enxaguar.
— Tendi, tendi. - confirmou depois que terminou de urinar.- só deixa eu escovar os dentes rapidão. 
– Tá certo. -Kevin abriu a porta.- Vou só pegar o dinheiro no quarto.

 Kevin pegou o dinheiro dentro de uma gaveta em seu guarda roupa, encontrou seu amigo que estava sacudindo o cabelo depois de molhar ele para definir os cachos, em pé  na porta do banheiro.  Os dois desceram as escadas do prédio e seguiram pela rua em direção ao mercadinho. 
  Chegando no local, como era de imaginar, estava cheio, pois era o único lugar por perto, que abria aos domingos e feriados. 

— Caramba, tá cheio mané. -disse Marcos.
— Falei pivete, aqui é assim. Porque só tem ele aberto, tá ligado?
— Tô na visão. -confirmou Marcos.- Nós vai ficar nessa fila é?
— E bora logo, pra não chegar mais gente.

 Os dois foram para a fila e ficaram lá, olhando de um lado para o outro, mexendo no celular, falando coisas do dia a dia, falando sobre desenho e outras coisas. Próximo ao balcão Marcos disse:

— Já sabe o que vai comprar? 
— Pior que não. -falou olhando em volta.
— Pode deixar que eu pago, dessa vez é por minha conta. 
— Qui! Nós divide, deixe disso.
— Mas tu pagou a pizza pow.
— Quê que tem? Vocês são visitas. Nós vai dividir. -falou Kevin andando até o vendedor.

 Compraram pão, biscoito, ovos, salgadinho, danone, chocolate e outras besteiras. Kevin pagou em cédulas e Marcos passou metade do valor pelo pix. Os dois fizeram o caminho de volta.
 Umas cinco ruas antes da rua do condômino tinha uma floricultura, sua fachada repleta de flores fazendo um arco e algumas plantas no vaso em frente a calçada. 

— Vamos comprar uma flor? - falou Kevin.
— Pra tua mãe?
— Não, eu pensei em comprar para a Samara. -disse Kevin confuso.
— Sei não em, acho melhor você comprar pra sua mãe, Vale mais a pena. -Disse Marcos abrindo um pacote de biscoito.-  Quer?
— Por que? Quero não. 
— Por nada my friendo. -disse colocando 2 biscoitos recheados de chocolate na boca.
— Até desisti de comprar. 
— Que nada mano, é mó fofo, vai lá comprar, compra uma rosa vermelha.
— Ah, eu não quero mais não.
— Deixe de ser fresco pow, vai lá. -Marcos falou empurrando ele para a entrada.
— Não, não. Deixa quieto, bora pra casa. - Kevin desviou e continuou andando. 
— Ah, você quem sabe. -comeu outro biscoito e seguiu andando. 

 Seguiram por mais duas ruas a frente. Na terceira rua, Kevin decidiu cortar caminho. Viraram à esquerda na rua, seguiram por cerca de 5 minutos e entraram em um beco, que daria numa rua próxima à entrada do condomínio. 
 O beco tinha bastante lixo dos dois lados, deixando apenas um corredor pequeno.

— Carai vei, que bagaceira é essa? Passa carro do lixo aqui não? -Perguntou Marcos.
— Passa, mas parece que por esses dias não. Mas também mano, povo fica jogando lixo no beco, aí é foda. 
— De fudê.

 Passado já pela metade do beco, eles percebem um saco preto de lixo se mexendo.

— Olha ali, deve ser um ratão. -disse Kevin.
— Se vier pra cá, vou dar uma bicuda. -os dois riram e deram as costas. Até que perceberam um latido fino.
— Você ouviu isso?
— Ouvi, você latindo.
— Que eu o que maluco, eu acho que veio do lixo, repada. -disse Kevin indo em direção.
— Cuidado pivete, vai que o rato aprendeu a latir. -Marcos ficou olhando

 Kevin se aproximou, e percebeu que o saco mexia de forma lenta. Movido pela curiosidade, ele lascou o saco. 
 
— Velho! Tem a porra de um filhote aqui! -disse terminando de rasgar o saco, tirando um filhote de caramelo, barrigudo. 
— O quê? O cachorro estava lá dentro? Como assim? -Marcos disse irritado.
— Velho ele está quente! O saco tava abafado,  que maldade! -o cachorro estava fraco e mole, dando latidos tão finos que pareciam soluços. 
— Toma! -Marcos deu uma garrafa de refrigerante aberto. 
— Eu não vou dar refrigerante pro cachorro cara, vai matar ele. -Kevin estava soprando o cachorro para baixar a temperatura.
— Não é pra beber, tá gelado, é pra resfriar o corpo dele. 

 Marcos derramou refrigerante na metade do corpo do filhote que deu um espasmo com o frio do líquido. Ele também abriu o danone sem pensar duas vezes e colocou com o dedo, um pouco na língua do cachorro, enquanto eles andavam em direção ao condomínio.
 
 Os dois foram o mais rápido possível. Devido ao resfriamento, e ao danone, o filhote começou a reagir, até ter forças para latir e ficar abanando o rabo. Que foi quando os garotos ficaram mais calmos e subiram as escadas até o apartamento de Kevin.

Naquele AnoOnde histórias criam vida. Descubra agora