Capítulo Três.

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A rua de pedra do bar do Zeca estava movimentada, como era de costume durante os sábados. As mesas espalhadas do lado de fora do estabelecimento comportavam o movimento que só o antigo galpão já não conseguia mais. Em uma dessas mesas, Antonia bufava entediada.

— Aquilo sim que é um lugar bom, na capital — exibia-se o rapaz desconhecido.

Cerca de meia hora atrás ele dissera seu nome ao sentar-se na mesa para conversar com Clarissa. Antonia já não se lembrava mais e duvidava que a amiga também soubesse. Desde que ele se convidou para sentar com elas não parou um segundo de contar vantagens da sua vida na capital, numa tentativa falha de impressionar Clarissa. "Vai ter que tentar muito mais", pensou Antonia. As duas meninas não costumavam frequentar Goiânia por escolha própria. Simplesmente não gostavam da cidade grande.

Determinada a colocar um basta naquela conversa entediante aonde somente o rapaz falava, Clarissa se levantou rapidamente da mesa e saiu após dizer que iria ao banheiro. Antonia não se importou de ficar sozinha pois sabia que a amiga estaria a vigiando do lado de dentro do bar, somente esperando com que o homem se desse por vencido e se retirasse da mesa para poder retornar. Era uma tática quase milenar.

Ele ainda esperou por alguns minutos antes de se levantar, pedir para que Antonia transmitisse sua despedida para Clarissa e voltar a sua mesa. Pouco depois, a outra menina retornara com um sorriso largo no rosto.

— Que cara chato! — resmungou ao se sentar, tomando um longo gole de sua cerveja. Antonia apenas riu.

— Pois eu acho que cê devia se casar com ele e ir morar em Goiânia — implicou, sinalizando ao garçom para que lhes trouxesse mais uma garrafa.

Pousando seu copo na mesa, Clarissa arregalou os olhos e murmurou baixinho:

— Não olha agora, mas os filhos do Abreu acabaram de chegar — disse, a voz encoberta pelas outras dezenas que conversavam e riam no local.

Custou muito para Antonia não se virar imediatamente, mas ela fez exatamente o que a amiga instruiu e simplesmente esperou. Quando Clarissa lhe deu um sinal de positivo com a cabeça, a menina passou os olhos pelo ambiente e finalmente encontrou o que procurava sentado numa mesa um pouco mais à frente de onde elas estavam.

— Ele não pode me ver aqui, vai me reconhecer — resmungou, tentando cobrir o lado de seu rosto com o longo cabelo castanho.

— Tarde demais, Tomtom. Ele já viu e não tira os olhos daqui.

Desistindo de se esconder, Antonia se ajeitou na cadeira e encheu seu copo de cerveja novamente. Foi quando o forró, que era famoso no bar do Zeca, começou. Como se estivessem apenas aguardando esse momento, dois rapazes da mesa ao lado não perderam tempo e chamaram as duas meninas para dançar.

Do outro lado da rua de pedra José assistiu enquanto Antonia aceitava de bom grado o convite para dançar. Diferentemente da noite em que se conheceram, hoje a menina vestia uma saia jeans curta e uma camisa de botões. Nos pés, a bota ainda era a mesma. Ele não sabia o motivo de se sentir tão incomodado, mas sentia vontade de se levantar e desligar a música.

— Que foi, Zé? Vai dançar? — perguntou João ao perceber que o irmão já não participava mais da conversa na mesa.

Os outros homens na mesa riram.

— Desde quando ocê dança, Zezinho? — implicou Inácio

Ele realmente não dançava, mas estava prestes a se levantar para aprender quando, ao ser girada pelo rapaz que a segurava, Antonia cruzou os olhos com os dele. José voltou a prestar atenção na conversa de sua mesa, fingindo que não a encarava descaradamente. Mas foi o suficiente para João Felipe perceber e, como todo irmão mais novo, decidir pentelhar.

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