Capítulo Quatorze.

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"Se você não concordar; Não posso me desculpar; Não canto pra enganar; Vou pegar minha viola; Vou deixar você de lado; Vou cantar noutro lugar [...]"
Daniel

  É claro que José havia visto a mensagem de Milena chegando em seu celular, mas não se preocupou em responder naquele momento. Estava cansado de ter que explicar para ela que não lhe devia satisfações e que eles não tinham mais absolutamente nada a ver. E, para piorar, o fato de que ela se sentia no direito de lhe cobrar informações após ter voluntariamente ignorado tudo o que ele já havia lhe dito só serviu para lhe enfurecer mais. Por isso, ele desligou o celular e o guardou em seu bolso.

O almoço ocorreu de maneira tranquila. O restaurante em que estavam era calmo, bem arejado e, principalmente, pouco movimentado durante o horário de almoço. Eles dividiam agora uma fatia enorme de bolo de chocolate com sorvete que Antonia insistia para que ele comesse, alegando não conseguir comer tudo sozinha.

  — Come mais um pedacinho, vai — pediu, mergulhando um pedaço do bolo no sorvete e levando o garfo até ele

  — Esse é meu último pedaço — ele fez uma careta para o doce, mas o comeu mesmo assim.

  — O que você tem contra doces, seu rabugento? — perguntou, comendo ela mesma um pedaço de seu bolo

  — Nada, mas esse bolo é doce demais — resmungou, arrancando uma risada fraca da menina. — Não sei como cê consegue comer isso

  — É pra adoçar a vida — ela deu de ombros, estendendo o garfo cheio em sua direção mais uma vez e o fuzilando com o olhar até que ele aceitasse novamente outro pedaço.

Deus, quando foi que ele começou a aceitar ordens de uma menina?!

Ao ver que ela estava terminando sua sobremesa, José se levantou e a avisou que iria ao banheiro. Adentrando o estabelecimento, ele apenas lavou suas mãos e se dirigiu ao caixa para pagar a conta. Fez tudo rapidamente para não deixa-la sozinha do lado de fora do restaurante e, poucos minutos depois, estava de volta à mesa que ocupavam.

  — Vamos? — chamou, se aproximando da mesa e parando ao seu lado. — Precisamos nos preparar pra folia mais tarde

  — Vamos! — respondeu, aceitando a mão que o homem lhe estendeu e se levantando. — Eu ainda tenho que ajudar o padre a terminar a bandeira dos Santos Reis. Ela tá ficando linda, mas me deu um trabalhão danado...

Ele sorriu, entrelaçando seus dedos com os dela. Os dois caminhavam de mãos dadas até a camionete estacionada ali por perto, Antonia levemente escorada em seu braço.

  — Eu tenho certeza que tá mesmo — disse, abrindo a porta para ela entrar no veículo assim que se aproximaram da RAM branca. — Vou ensaiar a cantoria com os foliões mais um pouco hoje à tarde, cê vai gostar de ver

Dando a volta na camionete, ele entrou e se sentou no banco do motorista antes de dar partida de volta a faculdade.

  — Eu prometo que vou chegar bem cedinho pra assistir cês chegando e ouvir a cantoria — respondeu, lhe oferecendo um daqueles sorrisos que ela dava com os olhos e que pareciam ter um certo efeito sobre ele.

Após deixá-la em sua própria camionete e garantir que ela o avisaria quando chegasse ao povoado, José reuniu dentro de si o restante de paciência que possuía e ligou seu celular. Não demorou nem um minuto completo para se arrepender da decisão, pois assim que desbloqueou o aparelho ele foi bombardeado por notificações de Milena querendo saber aonde e com quem ele estava.

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