Algo estava muito errado. Eu não conseguia compreender por que estava conversando com Kyle, um cara por quem só tenho um respeito mínimo. Ele era bonito - o fato de eu ser obcecada por ele não vem ao caso. - e, talvez, me tratasse bem, mas isso não explicava completamente por que eu estava ali, em uma situação que não fazia sentido. A estranheza era palpável, e a demora de meus capangas e irmão só aumentava meu desconforto.
Estava acostumada a ser resgatada com rapidez, mas já se passaram 9 horas desde que fui sequestrada. A espera era um tormento, e mesmo com a sensação de estar vivendo uma fantasia de vítima, o tempo se arrastava com uma lentidão angustiante.
Kyle parecia acreditar firmemente que ninguém viria me salva. A expressão dele era fria e séria, e apesar de sua beleza, havia algo profundamente inquietante em seu olhar.
— Katheen, venha aqui. — A voz de Kyle era uma ordem silenciosa, carregada de uma seriedade que fazia meus pelos se arrepiarem.
Se estivesse em uma de minhas personalidades habituais, teria mandado Kyle para o inferno. Mas, preciso saber de suas intenções, e irritá-lo não está em minha lista. Caminhei em direção a ele, cada passo me levando para mais perto da incerteza.
Kyle estava de costas para mim, olhando fixamente para a janela. Me aproximei e, ao olhar na direção que ele estava, quase deixei escapar um gemido de surpresa. Fora do portão da casa, homens vestidos de vermelho estavam se aproximando com uma presença ameaçadora.
— Não são os seus capangas, né? — Kyle questionou, a voz carregada de uma calma perturbadora.
— Não. — Respondi, tentando manter a casualidade.
O portão foi arrombado com uma explosão ensurdecedora, revelando um grupo de homens armados com equipamentos avançados. Eles eram tão bem equipados quanto os meus ajudantes, e sua presença carregava um peso sombrio.
— Seu idiota, se mexa! — Gritei, puxando Kyle para um esconderijo que avistei ao entrar na casa. A adrenalina era palpável e minha mente estava a mil por hora.
Kyle parecia estar em estado de choque, mas sua expressão não vacilava. A realidade estava se desdobrando de maneiras que ele parecia ter previsto, mas não queria acreditar.
— Havia muitos policiais monitorando a área. Se não me avisaram nada, é provável que já estejam mortos. — Kyle falou com uma frieza quase cirúrgica, sem demonstrar qualquer emoção.
Minha mente estava à beira de uma crise, tentando entender o que estava acontecendo. Por que ninguém havia vindo me resgatar? E o que Kyle sabia que eu não sabia? A tensão era insuportável, e eu estava prestes a descobrir se Kyle era um aliado ou um inimigo, e o que esses homens de vermelho realmente queriam.
A respiração de Kyle era a única coisa que me ancorava, sabia que a qualquer momento, a verdadeira batalha começaria. Com cada segundo que passava, a certeza de que precisávamos agir se tornava mais premente. Não restava muito tempo para entender o jogo completo.
— Kyle, meus capangas ainda não apareceram. O que você fez com eles? - Pergunto, tentando esconder o pânico crescente na minha voz.
Kyle sorri, um sorriso torto e cruel, sem mostrar os dentes. — Na verdade, nada. Quem impediu que eles viessem te resgatar foi o seu próprio irmão.
Meu irmão? Não pode ser. Gael nunca deixaria passar uma ausência tão repentina sem investigar.
— Eu não tolero mentiras, Kyle. — Digo, tentando me manter firme, apesar de sua imensa estatura que faz meu pescoço parecer insignificante.
Kyle se abaixa e aperta meu pescoço com uma força crescente. - Olha como você fala comigo, garotinha. Eu não sou o idiota do seu irmão que engole qualquer palhaçada.
— Não se refira ao meu irmão com essa boca suja. — Minha mão vai até a sua, tentando aliviar um pouco a pressão.
Antes que ele possa responder, um estrondo vindo da cozinha nos faz parar.
— Você tem certeza, absoluta, de que não são seus homens? — Kyle pergunta, a tensão evidente na voz.
— Tenho.
— Então venha. — Kyle me puxa para um porão que eu nem sabia que existia.
Descemos degraus a cada passo, com Kyle segurando minha mão e me guiando. O escuro era total, e eu não conseguia enxergar nada. Ele parecia saber exatamente onde estava indo, como se o escuro não fosse nada para ele.
- Esses homens estão à sua procura, Katheen. O que você vai fazer a respeito? - Kyle pergunta, ligando a luz e fechando a porta atrás de nós.
- Eles estão procurando por você, e meu irmão pode estar em perigo por sua culpa. - Minha voz treme, e sinto um calafrio ao pensar no pior. - Meus capangas podem estar morrendo devido a você. - Dou um leve empurrão em seu peito.
Kyle fica em silêncio, olhando para o chão.
- Vamos resolver isso depois. Primeiro, precisamos te salvar. Depois, se você quiser, pode até me matar. - Kyle diz, segurando meus ombros com uma firmeza quase carinhosa.
- Ok. - Respondo, me afastando assim que ele solta minhas mãos.
Eu quero chorar. Não posso. Chorar só vai me fazer sentir a mesma garota fraca e impotente de nove anos atrás. Mas meu irmão e meus companheiros podem estar em perigo, enquanto eu estou aqui, presa com Kyle, sem poder fazer nada.
- Kyle. - O chamo, a voz quebrando com a urgência.
- O que foi?
- Promete que vai cuidar do meu irmão, do Ethan e da máfia Ndrangheta? - Levanto meu dedinho, forçando um gesto de promessa.
- Do que você está falando? - Kyle pergunta, claramente confuso.
- PROMETE! - Pela primeira vez, minha voz se eleva, carregada de desespero.
- Tá, prometo. - Ele responde, cauteloso.
- Entrelaça o seu dedinho no meu. - Ordeno, minha voz, um comando firme.
Kyle arregala os olhos e fixa o olhar no meu dedinho estendido.
- Vamos, Kyle. - Repito, impaciente e desesperada.
Ele revira os olhos, faz uma careta, mas finalmente entrelaça seu dedinho no meu, com um semblante irritado.
Sem hesitar, corro em direção à porta. Mas antes que eu consiga alcançar, Kyle me agarra pelos braços com uma força brutal e me empurra para longe. Caio no chão com um baque seco.
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, não pela dor física, mas pela avalanche de emoções que se derrama. Meu irmão, talvez à beira da morte. Meus capangas, enfrentando um perigo imenso. Ethan, talvez pensando em um plano que não leva em conta a sua própria segurança.
- Merda, Kyle! Você não entende! Deixe-me salvar as únicas pessoas que se importam comigo! - Minha voz explode em um grito rouco, enquanto avanço sobre ele, desferindo socos descontrolados em seu peito. Cada golpe é uma liberação de frustração e desespero. Ele permanece impassível, sem se mover, sem se abalar. Sua resistência imutável só faz minha sensação de impotência crescer.
- Katheen, se você sair daqui, vai morrer. - Ele diz, segurando meu rosto com uma firmeza que é quase suave.
- Prefiro morrer a ver as únicas pessoas que realmente importam para mim serem destruídas. - Sinto a força de suas mãos afrouxando o suficiente para que eu consiga correr para a porta novamente. Se é para morrer, que seja fora desse porão. Adeus, Kyle.