7 A RAINHA

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Bem, eu irei me retirar agora, majestade. Foi um prazer poder conversar com a senhora.

— Ora essa, que jovem adorável! — sorri gentilmente — Digo o mesmo, querida.

Olhando-a ir em direção ao seu quarto, vejo como a pequena Kate é gentil. Ela realmente se preocupa com alguém que mal conhece... Ela me faz lembrar do meu marido há muito tempo... Sim, ela realmente me lembra ele. Isso foi há 120 anos... Aquela tragédia não era algo que eu queria. Tudo o que eu esperava era uma vida tranquila para mim e meu filho. Muitos anos antes do ocorrido, éramos só nós dois, eu e meu marido. Éramos pobres, mas ainda assim felizes. Não tínhamos luxo, mas tínhamos um ao outro. Ele sorria quando estava feliz, chorava quando estava triste... Mas um dia isso mudou. A vontade dele de nos dar uma vida melhor se transformou em ganância.

— Meu amor, eu sei que desta vez posso nos dar uma vida melhor! Eu não vou desistir! Nós vamos sair dessa!

— Querido... Nós não precisamos de tanto. Eu só queria condições melhores, não quero ter um alto status...

— Mas, minha querida... É disso que precisamos! Você me disse que queria poder ter tudo o que quisesse! Que queria dar o melhor para nosso filho!

— Mas... Eu sei, mas—

— Não podemos perder mais tempo, Gisel... Essa é nossa grande chance. Os líderes concordaram em me ouvir. Depois de tanto trabalho duro, eles finalmente estão dispostos a escutar um plebeu...

— Eu sei, meu bem... E eu estou com você. Só... Não deixe o poder subir à cabeça, tudo bem?

— Minha querida, eu prometo que isso não vai acontecer. Lembra quando nos conhecemos? Éramos crianças sonhadoras, e tudo o que queríamos era um reino bom para todos nós vivermos.

— Eu lembro muito bem. Como poderia esquecer? Sua energia e bondade me cativaram desde o início. — sorri.

— Não se preocupe, Gisel. Meu coração sempre será seu e do nosso filho. Nós seremos felizes para sempre a partir de agora, minha bela e doce Gisel.

*Eu sempre cedi aos encantos dele. Afinal, para mim, ele sempre foi apenas o meu Akira... Quando eu era apenas uma criança inocente, nós dois vivíamos grudados. Éramos amigos desde essa época, nossos pais eram próximos e, com o tempo, acabamos nos apaixonando. Sempre imaginávamos uma forma de tornar nosso país um lugar melhor para todos, já que os aristocratas não se importavam com os mais pobres...

Akira sempre foi um bom garoto, sempre ajudando os mais fracos e se impondo contra a realeza. Digamos que ele não gostava da forma como agiam. Mas, diferente de mim, ele realmente começou a agir, conseguindo aliados e informantes. Akira sempre foi muito inteligente e estrategista, e eu sempre o apoiei, é claro. Mas, com o passar do tempo, ele começou a querer mais. Depois de alguns meses, não queria mais ser apenas um representante dos plebeus, e, depois de anos, ele queria poder...*

— Akira! Um reino!? Você quer invadir um reino!? Isso não é certo... Você não pode fazer isso!

— Quantas vezes tenho que dizer que isso é necessário!? Eu vou proteger vocês dois, nem que, para isso, tenha que invadir um reino!

— Não precisamos dessa proteção, meu amor... Não às custas de uma guerra.

— Papai... Quando você vai poder brincar comigo?

— Kuga, agora eu não posso. Estou muito ocupado.

— Akira, não fale assim com o Kuga. Ele só quer passar um tempo com você... Nosso filho sente sua falta. Ele é uma criança e precisa da atenção do pai.

— Gisel, isso é algo muito importante! Não posso perder mais tempo. Ele é meu filho, precisa ser forte. Se bem que, às vezes, duvido que ele tenha o meu sangue...

— Akira... Como pode dizer algo assim sobre nosso bem mais precioso? — abraça o filho. Ele é nosso bebê. Nunca mais repita isso, entendeu?

— ... Sinto muito. Eu me exaltei. Eu amo vocês dois, só preciso terminar isso logo. Depois, poderei passar o tempo que quiser com ele, tudo bem?

— ... Tudo bem... Vá descansar e amanhã falaremos sobre isso, certo? Boa noite.

— Boa noite, Gisel.

*Depois de tudo, posso dizer que o meu Akira — o Akira sonhador e bondoso — nunca faria o que fez. Lembro-me como se fosse ontem. Aquele genocídio está revirado em minha cabeça todos os dias... Muitas vezes, não consigo dormir por causa disso. Os choros e gritos daquelas pobres pessoas... Elas morreram sem poder revidar. Mas o que mais consigo lembrar é daquela menina... Ela era tão jovem, mas amada pelo seu povo. Eu podia ver que eles se preocupavam com ela, mesmo em seus últimos momentos de vida.

Eu não pude suportar algo assim. Eu tive que ir junto com ele, mesmo não querendo. Não queria vivenciar essa tragédia, mas, mesmo assim, insisti. Como pude ser tão ignorante e apática a essa situação?

Vidas seriam tomadas. Pais, mães e filhos mortos de uma vez só. Eu precisava mostrar presença, mostrar que estava ciente da existência de cada um deles. Durante a guerra, o rei de Dália havia mandado suas tropas protegerem sua esposa e filha, mas foram todos derrotados. Ainda assim, a rainha e sua mãe conseguiram fugir. No meio da correria, um soldado as seguia. Ele parecia incansável, não parava por nada. Só descansaria quando as matasse.

Tentei acompanhá-lo com meu cavalo, mas foi tarde demais. Tudo o que pude ver foi uma mãe desesperada tentando proteger sua criança... Eu me coloquei no lugar dela, pois sabia que, se fosse eu, certamente daria minha vida pelo meu filho. Mas sou uma mulher tão fraca que não pude proteger nem mesmo as duas.

A mulher brandiu sua espada e começou a lutar frente a frente com o soldado. Acho que agora entendo por que ninguém jamais tentou atacar esse reino, mesmo sendo tão pacífico: eles tinham garra e força.

Ela me viu durante a luta. Apenas me olhou e encheu os lábios em silêncio: "Salve ela." Sua filha chorava, pois não sabia se sua mãe sairia viva dali.

Eu não consegui pensar em mais nada. Apenas puxei a rainha pelo braço e a coloquei em cima do cavalo. Ela não queria aceitar, não queria fugir sem sua amada mãe, mas sabia que era necessário. Eu corri, fugi o mais rápido que pude. Com toda a confusão, os soldados não me viram, afinal, tinham preocupações maiores.

Nos distanciamos tanto que não podíamos ver mais ninguém. Tudo o que havia naquele lugar era uma bela árvore de sakura. Era simplesmente linda... A única coisa cor-de-rosa em um mar vermelho de sangue.*

— Não! Solte-me! Eu preciso voltar! Meu povo espera por mim!

— Sinto muito, mas não posso permitir! Sua mãe deu a vida pela sua sobrevivência!

— Mas... Mas eu não posso deixá-los para trás!

— Você não está os deixando! Eles sempre estarão com você!

— Não! — chora. Como podem estar comigo!? Não ouvirei mais a voz dos meus súditos, nem sentirei mais o toque dos meus pais...

CONTINUA...

Kat and WolffOnde histórias criam vida. Descubra agora