cicatrizes, alívio e beijo (conversa)

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Ítalo olhou perdido e Hugo prontamente entendeu que ele não sabia como usar aquilo, pegou o pote em suas mãos — Pode tirar a camisa e ficar de costas? — aquilo parecia meio errático, mas ítalo obedeceu sem questionar e soltou um suspiro sofrido ao se virar. Antes de passar a pomada, Hugo olhou rapidamente e logo começou o trabalho.

Passou suavemente pelas costas dele, e ouviu ele resmungar baixinho, estava sendo o amos delicado possível mas se pegava pensando se a sua mão não estava calejada demais para isso, aos poucos ele foi parando de reclamar de dor e isso foi um alívio para Hugo.

— Dói muito ainda? — perguntou perto da nuca e fingiu não ver que ele se arrepiou um pouco.

— Quando você começou a passar doía um pouco, agora eu não sinto quase nada.

Hugo se sentiu desmoronar de alegria mas focou em passar a pomada, só pelo fato de estar conseguindo fazer com que ele não sentisse dor já era o suficiente para melhorar o seu dia, até chegou a sorrir pequeno.

Terminaram o processo todo e depois de meses sentindo dor, ítalo estava conseguindo se movimentar sem o cajado e aquilo só fazia a vontade de chorar vir com tudo, Hugo tentou disfarçar os olhos ficando vermelhos mas ítalo não deixou passar, puxou o garoto para um abraço de urso e choraram nos braços um do outro. Hugo se segurou nele com cuidado e deixou as lágrimas caírem nos seus ombros machucados, agora se olhavam cara a cara, ítalo sorriu em meio às lágrimas.

— Obrigado. — segurou Hugo pelas laterais do rosto enquanto ia repetindo a palavra, Hugo balançou a cabeça em negação e lembrou das palavras de Mefisto “você se dar pouco crédito”  pensar nele naquele momento só piorou, o garoto mais velho olhava com tanto carinho.

Ítalo tentou ignorar os pensamentos sobre como Hugo conseguiu a proeza de achar uma pomada que sumia com as suas dores, é bom focar no momento de alegria. — Vou ter que usar isso diariamente? Ou só dessa vez mesmo?

— Diariamente, você não vai sentir dor até amanhã de tarde.

Se olharam até Hugo quebrar o contato visual, ele limpou a garganta e se afastou. — Acho que a gente tem que conversar… sobre aquela discussão, não é que eu não queira estar perto de você, só não me vejo fazendo parte dos seus amigos.

— Não quer mais ser meu amigo?

— Não foi isso que eu quis dizer, eu não me vejo ao lado dos seus amigos, me vejo perto de você mas não dos seus amigos. Minha única exceção é a Gi e o Rafinha.

Como ele podia ser mais claro que aquilo? Já não tinha falado eu te amo o suficiente? Sentiu os ombros ficarem pesados e a cabeça doeu, não era culpa dele, mas os meses que passou naquele inferno verde ferraram com tudo, já estava num estado de marasmo e se apoiou em Guto, Bárbara e Rudá. Gutemberg foi seu pilar na amazônia e continua sendo atualmente, bárbara era segurada por eles e segurava a barra de volta, Rudá faz o que está no seu alcance mesmo longe e a reciprocidade nessa amizade mantém Hugo com um pouco de paz, mas ainda sim é impossível viver como se nada tivesse acontecido.

Atlas quase foi dessa para melhor e Hugo ia levar a culpa para o túmulo.

Precisava ser mais específico. — Eu gosto de você.

Depois de tantos “eu te amo” isso já não era quase nada, era mais uma oração na ponta da língua.

— Não como amigo. — se sentou na cama e seus olhos correram para observar as expressões dele, — eu gosto de você… da forma romântica da palavra.

Se sentiu um palhaço ao ver a sombra de um sorriso se formando, uma chateação se formou no peito, virou a cara e bufou. Era isso então, se declarava e ele simplesmente ria?

Ao notar a irritação do outro, ítalo levantou as mãos como bandeira de paz, não queria agir como se estivesse achando graça de seus sentimentos.

— Eu gosto de você também.

— E por que demorou tanto pra falar?! É bom rir de mim?

— É bom saber que você sente o mesmo. — segurou o sorriso ao ver que isso acabou com aquela raiva toda. Hugo ficou todo nervoso e para capí isso era mais uma vitória, puxou ele para um abraço de urso, sabia que ele estava em um momento de fragilidade, deu um beijo no canto da boca e esperava que ficasse por isso mesmo.

Mas Hugo não quis, deu uma última olhada em busca de qualquer índice de que ele não quisesse, se atracou no pescoço dele e lhe puxou para um beijo intenso, ítalo foi pego de surpresa mas não rejeitou. Foi meio raivoso no começo, não que ítalo reclame, puxou Hugo pela cintura e fez um carinho nas costas dele com uma das mãos, andou para trás e levou o outro com ele. Se afastaram rapidinho e Hugo apoiou o queixo no ombro dele.

— A gente tem muito o que conversar.

Ou talvez pudessem conversar depois, tinham coisas mais importantes para fazer.

Hugo avançou em em direção ao rosto de Italo, sua boca se fechava e abria em sincronia com a de Italo, puxava os cabelos da nuca com delicadeza para não machucar e foi empurrando ele para a parede, pressionou seu corpo ao dele devagar para não doer e mesmo assim se beijando com brutalidade. Era um beijo faminto e demorado, escutou o outro garoto suspirando e afastou ambas as bocas, uma linha fina de saliva os ligava e olhou preocupado a procura de sinais de desconforto e dor no rosto de ítalo mas apenas encontrou luxúria e desejo nos olhos castanhos.

— Melhor paramos, né? — Hugo sorriu internamente ao ver um balançar de cabeça negativo e Italo veio lhe beijar com toda a brutalidade e desejo que tinha. Seus olhos estavam nublados e tão cheios de excitação, ele puxou hugo pela cintura e cravou uma mão na sua nuca e pressionou sua cabeça na dele, pararam o beijo novamente para se encarar e Italo tinha certeza de que seu corpo precisava do calor corporal de Hugo, se sentiu frio ao se afastarem. Isso era normal? Ele sabia que tinham uma conexão de outro mundo, mas isso beirava ao absurdo, um absurdo tão bom.

Minha lealdade é sua Onde histórias criam vida. Descubra agora