Bem-vindo de volta

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Ítalo precisava de só alguns minutos, horas, dias para poder conversar com Hugo tudo o que tinha para pôr para fora, não estava nervoso nem nada apenas queria respostas, não tinha como ele ir embora para uma missão suicida no meio da Amazônia depois de ter falado o que falou para ele e ter sido tão gentil e acolhedor. Quando foi que ele saiu de um garoto marrento, zero paciência e confiança para um garoto que confortava o outro com palavras e abraços? Não que o Hugo não tivesse contato humano — óbvio, ele tem uma mãe bem amorosa e cabeça dura, apenas era totalmente diferente do que ítalo já tenha experimentado vindo de Hugo.

Sentia orgulho dentro de si quando pensava que ele evoluiu tanto durante aqueles anos, mas pensava no que lhe foi dito antes de partir. “tem chances de eu não voltar, mas eu vou voltar nem que seja morto e assim que voltar, vou resolver essa perseguição que eles fazem com você. Capí, você foi uma, se não uma das únicas pessoas que realmente acreditou em mim, seja lá o que for, mas você acreditou em mim e eu acredito em você. Minha lealdade está em você, vai ficar com você até eu não existir mais, eu vejo verdade em você e... quero que veja verdade em mim também. Preciso que se cuide e que deixe que os outros cuidem de você, me preocupo com você, eu...” ele não prolongou mais e tinha alguma coisa naqueles olhos.

Hugo é bastante expressivo e seus olhos falam tanto por ele, o toque quente e o sorriso frouxo que era tão nervoso e tímido, ítalo segurava aquela árvore com tanta força e estava todo sujo de terra e folhas secas. Isso não importava para o outro garoto, Hugo abraçou aquela sujeira e passava as mãos calejadas cuidadosamente, ele tinha tanto a falar e ítalo sabia, queria que ele falasse e não que tivesse ido embora.

Passou aqueles meses pensando nele, no seu pai que agia de forma agressiva e repulsiva, em como os demais alunos não acreditavam nele e nem nas suas cicatrizes. Mas principalmente nele e no jeito como ele tentou dar atrás nas suas palavras e indo embora sem antes ser verdadeiro por inteiro, desde do trágico episódio sobre as torturas e os julgamentos, Hugo começou a ter atitudes estranhas, mas que ainda confortava o coração quebrado de ítalo

O jeitinho como Hugo segurava sua mão com carinho e lhe olhava com a cabeça abaixada, os lábios trêmulos e o corpo sempre estando numa posição confortável perto de si. Ele passava os dedos com tanto carinho pela cicatriz que tinha na lateral da cabeça, ítalo não se sentia merecedor disso.

Você é importante para mim, amo você... amo a pessoa que você é e preciso que continue assim.” lhe deu um último abraço, um beijo debaixo do pé do ouvido e foi se embora para a floresta.

O corpo doído se arrepiou ao ter tal lembrança, será que Hugo realmente se declarou ou apenas estava enlouquecendo?

Andou até perto da escadaria e ouviu algumas vozes, era ele, ele e Tobias.

— Não preciso de pernas fantasmas, olha, já consigo me movimentar na cadeira aranha! — Tobias subiu as escadas ainda na cadeira. Um sorriu enfeitou seu rosto sofrido e observou aquela agitação de ambos os garotos, era nítido que Hugo se culpava pela debilitação do Tobias, se culpava pela Sheila e por Eimi. O coração apertou, mas Hugo não se deixou abalar e continuou incentivando o garoto.

Até que dando uma olhada em volta, ele notou finalmente a presença do outro, ítalo viu e pode sentir o corpo de Hugo dando um leve tremelique, como era possível sentir isso? Não era magia e nem sobrenatural, era apenas uma ligação corporal anormal de ambos. Não iria se meter naquilo, era uma coisa que Hugo precisava enfrentar sozinho e sabia que essa era a vontade dele.

No final, Hugo de fato conseguiu e ítalo não conseguiu fingir o orgulho que sentia, tanto por ele quanto por Tobias que agora estava indo procurar ajudar os alunos de ítalo e isso tudo com as suas novas pernas fantasmas. Se jogaram nos braços um do outro, Hugo tocou de leve nas mechas grisalhas do outro e falou — Bem-vindo de volta — um sorriso de orelha a orelha.

- Eu quem deveria falar isso para você.

Hugo olhou para ele de forma calorosa e sorriu, antes que pudesse falar mais alguma coisa, Viny invadiu o momento falando que estava acontecendo uma desinteligência na praia.

Foi uma conversa interessante, rica em cultura indígena e dos cantos do Brasil, envolveu política e coisas sobre a natureza. Hugo observou tudo de longe e não escondeu o sorrisinho ao ver que ítalo tinha tudo sob controle, o coração até palpitou mais que o normal, todos foram se saindo e ele viu de longe um garoto miúdo que conversava com Cauã.

Rudá sorria de jeito fofo enquanto falava com ele

— Tu não devia tá descansando? — Hugo perguntou assim que a conversa dos dois acabou, ele lhe deu um sorrisinho malandro.

— Quem disse que eu tô aqui?

Hugo nunca achou que fosse gostar tanto de uma criança como gostava daquela. O menino sorriu malandro e logo virou a cabeça ao ser chamado pela voz sofrida de ítalo.

Minha lealdade é sua Onde histórias criam vida. Descubra agora