A conversa com Dumbledore havia sido de grande ajuda, ele se sentiu mais preparado caso alguém lhe pedisse alguma opinião sobre a guerra atual. Conhecer os lufanos também foi interessante. Eles eram extremamente curiosos, mas respeitavam seu silêncio em não querer comentar muito sobre seu passado. Harry ainda se sentia estranho ao estar naquela casa, um intruso. Tão habituado ao lugar aconchegante que era a casa da grifinória, mas ele sabia que com o tempo se acostumaria. Ao deitar em sua nova cama, tentou ao máximo relaxar ao estar em um novo ambiente. Nada seria como antes e ele precisava manter o foco. Seu novo lar era na década de 40, não existia volta.
O fato de ter em sua mente que tudo o que ele estava fazendo era pelo bem de seus amigos e de sua família, ajudou-o a relaxar. O Dumbledore dessa época também estava sendo de grande suporte. E isso o fazia pensar que estava tudo bem. Era um novo começo. Era opressor de certa forma, mas não impossível de se adaptar. Ter a certeza de que, no futuro, eles estarão vivos era tudo o que precisava.
Sentindo-se meio ansioso, Harry resolveu pegar seu álbum de fotos dentro do baú que Dumbledore e ele compraram. Seus dedos passavam suavemente pelas fotografias em movimento, as imagens sorriam para ele e acenavam, isso o fez sorrir e seu coração bater rapidamente.
— Eu prometo que as coisas serão diferentes para vocês — sussurrou Harry para a fotografia de seus pais e de Ron e Hermione. Naquela noite, o mais novo lufano descansou confortavelmente em seu novo quarto, pois ele sabia que essa era a chance para que o futuro fosse diferente.
Quando se fala sobre o futuro, tendemos a ficar ansiosos, apreensivos com possíveis escolhas que irão afetar a cada passo; porém, era isso que Harry queria evitar. O ritual destruiu completamente tudo o que aconteceu, como se as páginas de um livro fossem arrancadas para serem reescritas. Era um futuro novo, uma oportunidade de evitar ficar preso em pensamentos sobre escolhas e consequências. Afinal, com páginas arrancadas, tudo é possível.
Dumbledore lhe ajudou a entender essa parte. Que o peso de ter vindo para o passado não deveria afetar suas escolhas. Sua missão era impedir o nascimento de Voldemort. Se ele ficasse preso em cada passo que deveria dar para evitar isso, enquanto ponderava em como seus amigos e familiares poderiam ser afetados, nada daria certo, acabaria cometendo erros. Ele deveria se manter focado em viver a sua vida, enquanto impede Tom Riddle. O simples fato de um novo futuro surgir já haverá grandes mudanças.
E se Harry ficasse preso nisso. Ele não viveria.
Isso acalmou seu coração de uma maneira que talvez o professor Dumbledore não imaginasse.
Durante a primeira semana, Harry resolveu evitar qualquer curso de ação contra Riddle. Ele primeiro resolveu conhecer o ambiente, vulgo, se adaptar aos diferentes professores e colegas de classe. Os lufanos eram grandes fofoqueiros, o que ajudou muito a conhecer os outros estudantes. Seus chás com o professor Dumbledore também continuaram sendo corriqueiros, suas conversas eram voltadas, principalmente, para como havia sido o dia um do outro, além disso, eles passaram a jogar xadrez.
Foi bom esses momentos. Até ele esbarrar acidentalmente com um sonserino, enquanto estava voltando para a sala comunal da lufa-lufa. Não é que ele estivesse desatento, na verdade, sua mente estava focada em como poderia chamar a atenção de Riddle de uma maneira sutil.
— Você não olha por onde anda, seu sangue-ruim. — A voz, banhada em escárnio e superioridade, revelava ser um puro-sangue. Mas olhando para o sonserino, foi fácil saber quem ele era. Os cabelos loiros, pele pálida e feições aristocráticas finas estonteantes entregavam um Malfoy.
Olhando de baixo para cima, Harry fixou seu olhar nos olhos cinzas, estranhamente idênticos aos de Draco. Na verdade, era como se ele estivesse vendo as feições de seu rival, tirando as partes Black e o cabelo comprido. Era fácil confundir Abraxas Malfoy com o seu futuro neto.
Harry inclinou a cabeça, oferecendo um sorriso frio e dizendo:
— Fale mais uma vez essa palavra, que eu farei você pensar duas vezes antes de proferi-lá.
Abraxas cerrou os olhos, empinando-se como um pavão, na opinião do outro bruxo.
— Como se um sangue-ruim, um lufano, pudesse fazer algo de útil! — Seu tom de voz era carregado de desprezo e desdém. Ele jogou os fios loiros que estavam em seu ombro para trás antes de sair.
Harry apenas o seguiu pelo olhar, sua mão direita estava fechada com tanta força que suas unhas estavam prestes a romper sua pele de tanta raiva que sentia. Ele odiava aquela palavra. Essa estupidez de supremacia de sangue era a culpada de tudo o que aconteceria de ruim na sociedade bruxa. Não importa quantas mortes ocorreram por causa disso, esse tipo de pensamento estava tão impregnado na comunidade que era difícil de extinguir esse preconceito. E, no fundo, Harry sabia que até mesmo os magos da luz eram preconceituosos.
Era por isso, que antes de Riddle, Harry iria atrás de Abraxas.
Ele já até tinha um plano para isso. Com um pequeno sorriso, Harry resolveu continuar seu trajeto. Amanhã seria finalmente o dia que agiria contra a sonserina. Ele apenas precisaria acordar cedo e pegar a capa.
Não foi de certa forma difícil seguir esse plano. Ele conhecia o feitiço, e graças aos Dursley possuía o hábito de acordar cedo quando necessário. Foi por isso que, ao sair da sala comunal vestido com a capa, Harry só precisou ir próximo à entrada da sonserina e esperar pacientemente pelos seguidores de Tom. Harry sabia que, assim como ele, Tom Riddle acordava cedo, e ele jamais permitiria atrasos dos seus asseclas.
No momento em que a entrada da sala comunal da sonserina se abriu e o grupo de Tom Riddle saiu, Harry não conseguiu segurar o sorriso ao ver Abraxas andar pomposamente ao lado de Riddle. Levantando a varinha, Harry só precisou de sua intenção e o padrão do feitiço para atingir o Malfoy. Graças à magia de Potter, sendo tão selvagem e sorrateira, o outro não sentiu ser atingido.
Agora só era preciso apreciar o momento no Salão Principal. Harry esperou por uns bons minutos antes de guardar a capa e andar até o salão, assobiando em apreciação. Ele tinha certeza de que os gêmeos e o seu padrinho teriam ficado orgulhosos dele. Um simples finite incantatem não quebraria o feitiço.
Quando abriu as portas, havia poucos estudantes, mas o suficiente para o espetáculo. Como o desejado, Abraxas Malfoy olhou na sua direção com uma carranca, que Harry adorou retribuir com um sorriso, deixando o outro vermelho de raiva.
Cantarolando, seguiu até a sua mesa, cumprimentando alguns colegas que questionaram como tinha sido a sua noite. Se ele dormiu bem em um lugar diferente, ou se estava se sentindo desconfortável. Os lufanos eram bastante atenciosos, algo que ele apreciou muito ao respondê-los educadamente.
Um grito indigno atraiu a sua atenção, seu olhar seguiu até a mesa da sonserina e viu Abraxas lhe fulminando. Harry, sem vergonha nenhuma e com um largo sorriso, acenou para o outro, que começou a ficar mais vermelho.
Tom Riddle apenas observava, mas Harry o ignorou, seu foco estava no puro-sangue.
Abraxas tentou diversas vezes pronunciar a palavra sangue-ruim em meio a suas lamúrias, mas toda vez surgia sabão em sua boca, fazendo-o se engasgar e dar gritos de indignação. Harry não quis perder a oportunidade, o silêncio reinava no salão devido ao ocorrido, muitos estudantes seguravam as risadas.
— Ah, meu Deus. Você está bem? — A ironia não passou despercebida pelos outros. — O gosto de sabão deve estar sendo horrível com tantas palavras estúpidas saindo dessa sua boca. — Seu sorriso era afiado.
Tom Riddle o encarava atentamente, ignorando os gritos histéricos de Abraxas. Harry fixou seu olhar nele, não diminuindo seu sorriso. Afinal, ele estava apenas começando. Talvez ele não tivesse sido tão sútil ao chamar a atenção do outro para si, mas a satisfação e alegria insana que sentiu ao ver Malfoy naquele estado compensava seu descuido.
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Incognita potentia
FanfictionCometemos erros ao longo de nossas vidas. Errar é humano, mas qual a diferença entre aqueles que não se arrependem para aqueles que carregam a culpa em seus corações por suas escolhas? Dumbledore se arrepende de muitas coisas ao longo de sua vida, m...