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★ Hoseok Jung ★

Era o primeiro dia de aula da minha turma no curso de artes, logo, o meu também. Não me era difícil fazer amigos, mas a inserção num novo ambiente é sempre um tanto desesperadora. Quando cheguei à sala de aula, já haviam, no chute, uns 18 alunos, o que estaria tudo bem, mas notei a presença de alguém na sala com qual eu não contava, pior, não esperava de jeito nenhum, sequer, revê-lo novamente após o ensino médio. Algumas perguntas rodaram a minha mente, inundando-me como um navio afundando em alto mar. Por que ele estava aqui, se seu objetivo era cursar psicologia? Eu realmente pensei que sua participação na minha vida teria acabado no último dia de aula no terceiro ano. Ter sido obrigado a dizer adeus silenciosamente naquele fim de manhã foi mais doloroso do que imagino como seria se tivesse dito verbalmente. Eu não tenho o costume de falar palavrão, mas... porra, Yoongi, o que caralho você faz aqui?

Paralisado, com os olhos em Yoongi, que mexe em seu celular, usando fones de ouvido, ele dependia mais de música do que oxigênio para viver, no fundo da sala, como sempre fez, evitando os olhos das outras pessoas, sou arrancado de maneira certamente agressiva dos meus pensamentos com uma esbarrada no ombro que era mais proposital do que o choro da Valesca Popozuda assistindo dois caras tocando beijinho no ombro em uma versão melodramática. Olho para o possível autor de tal ousadia e vejo um grupo de cinco jovens, que rapidamente categorizei como a turma do fundão desgraçada. Sério que tem esse tipo de coisa na universidade e num curso de artes? Que tipo de valentão gosta de arte? Arte de meter a surra nas pessoas por diversão? O cara que me esbarrou, e que graças ao meu reflexo de me manter firme no lugar eu não caí, e o vejo sorrir maliciosamente, não me deixando identificar ao certo se era sadismo ou flerte. Como que o cara solta uma encarada que o faz parecer estar num cio de 50 cadelas e ao mesmo tempo que o faz parecer um serial killer colocando medo na sua próxima vítima? Impulsivamente, palavras que me arrependi de não ter trancado abaixo de 7 palmos saem pela minha boca.

- Você é gay ou dodói da cabeça? - disparei. Esse garoto me vira com um olhar de desgosto e deboche o suficiente pra me fazer querer pular pela janela.

- O que foi que você disse, seu merdinha? - Pelo jeito de falar e se vestir, eu podia jurar que se chamava Enzo, era bancado pelo papai, tinha dinheiro suficiente para cursar em faculdade privada e ainda pagar a mensalidade de outras 15 pessoas, mas estava numa universidade pública roubando vaga de pessoas que realmente precisam, causando caos por diversão, porque o dinheiro subiu à cabeça e ele se acha o dono do mundo, o pica das galáxias.

- Você é gay ou dodói da cabeça?

Ele avança e segura meu pescoço, é a primeira vez que alguém faz isso. Ele expressa sarcasmo, um sorriso de canto que o faz parecer ridículo, e não autoritário. E, nossa, se ele fosse algo significativo para o mundo, acredito que seria uma ofensa.

- Você quer apanhar no primeiro dia, viadinho?

Antes que eu possa responder, outra voz se envolve.

- Solta ele.

O Enzo ri, e procura quem foi o corajoso, eu sabia antes de olhar.

- E quem você acha que é pra me dar ordens?

- Você não vai querer saber. Solta ele, ta surdo?

Eu não sei, mas algo agitou dentro de mim ao ver Yoongi tão sério, seu olhar era fatal, penetrante. Me trouxe uma breve memória de como nos conhecemos aos 5 anos, onde ele me defendeu de um garoto chato que estava zoando a minha saia (minha diva, quem chamo de mãe, sempre foi maravilhosa e nunca deixou a ideia de que roupa tem gênero me afetar).

- Você sabe quem é o meu pai? - Enzo vira para Yoongi me soltando bruscamente, enquanto eu me pergunto o que fazer, o grupo dele observa quase fazendo surgir um pote de pipoca nas mãos.

Meu Min E Suas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora