Aquela bruxa desgraçada me trancafiou em uma jaula! Uma jaula minúscula e quadrada, onde eu precisava ficar sentado com as costas curvadas o tempo todo. Ela me tratou como um animal! E como se a vadia soubesse que as grades da jaula não eram o suficiente para me conter, ela manteve minhas mãos presas por correntes gravadas com símbolos mágicos que bloqueavam o meu poder. Tentei me teletransportar para fora daqui mais vezes que eu pude contar e não consegui.
Estou preso! E a Jennie... sabe lá o que essa bruxa fez com ela.
Pensar que a megera pudesse ter feito algo com a garota que eu amava me causou uma preocupação sufocante. Eu não conseguia ouvir os pensamentos de Jenniee não sabia se era a distância em que estávamos um do outro ou se era por causa das malditas correntes que bloqueavam os meus poderes.
Morgana gargalhava alto enquanto remexia as tripas de um cadáver humano que estava sobre a sua mesa. Qualquer um teria vomitado ou desmaiado diante da cena, mas depois de passar uma eternidade no inferno, ver alguém estripando um corpo não me abalava nem um pouco.
Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas as paredes de pedra e o ar úmido indicavam que se tratava de alguma masmorra. O corpo que estava com Morgana ainda parecia estar fresco. Sangue escorria de dentro dele e pingava no chão, formando uma poça vermelha aos pés da mesa. A bruxa tirava os órgãos do mort* e os colocava dentro de jarros que estavam cheios de um líquido verde. Eu me pergunto o que ela fará com isso.
Ver todo aquele sangue nas mãos de Morgana e a expressão maligna em seu sorriso me causou uma estranha sensação de déjà vu. Senti uma forte dor de cabeça e uma tontura que fez minha cabeça pender para o lado.
De uma hora para a outra, a minha mente foi tomada pelo que pareciam lembranças do passado.
Eu usava a armadura de um cavaleiro do reino. Minhas mãos estavam manchadas de vermelho e eu lutava com outros soldados que estavam com o mesmo traje de batalha que eu.
Não entendo... se eles são meus companheiros de serviço, por que estamos lutando?Estávamos em uma sala ampla com teto, chão e paredes feitos de pedra. Os gritos de dor de uma mulher se misturavam aos dos soldados que avançavam na minha direção. Eu não tinha controle sobre o meu corpo e não consegui fazer nada além de assistir enquanto minhas mãos feriam e matavam os soldados que vinham até mim. Minha armadura que um dia já foi prata agora estava ensanguentada, assim como minhas mãos e espada. Eu estava realizando uma chacina e não sabia o porquê.
Quando todos os soldados caíram, um terrível sentimento de culpa se abateu sobre mim. Olhei para minhas mãos manchadas de sangue e em seguida para os corpos espalhados pelo chão.
— O que foi que eu fiz? — murmurei, perplexo.
Olhei para o lado e me surpreendi ao ver Morgana segurando um bebê recém-nascido nos braços. À sua frente havia uma mulher deitada em uma mesa de pedra. Ela usava roupas nobres, mas estava ensanguentada e sem vida. Uma voz em minha mente me disse que aquela era a rainha. Ela deu à luz e... morreu.