Chorei naquela colina o que nunca chorei em toda a minha vida humana. Jamais senti uma dor tão terrível, nem mesmo quando eu estava sendo torturado no inferno. A mulher que eu amo morreu em meus braços e não havia nada que eu pudesse fazer para trazê-la de volta. Tudo aconteceu em um piscar de olhos e eu não fui rápido o suficiente para salvá-la.
A noite caiu e tristeza era a única coisa que eu sentia. Um vazio terrível tomava conta do meu peito. Tudo ao redor estava em silêncio, como se a natureza também pudesse sentir a minha perda.
Por quê? Por que ela teve que ir? Jennie é a pessoa mais bondosa que eu já conheci, não é justo que termine assim. Não é!
Antes que a minha tristeza cedesse espaço para a raiva e eu tivesse coragem para deixar minha amada aqui, voltar até o castelo e me vingar de cada um dos responsáveis por isso, eu comecei a me sentir estranho. Fui tomado por um sentimento de solidão e eu tive certeza que Jennie não estava mais aqui... não existe mais nenhum vínculo ou feitiço unindo nós dois.
E mesmo que a magia tivesse sido desfeita, eu ainda a amava. Ainda desejava tê-la por perto — embora soubesse que era impossível. Isso era prova mais que o suficiente de que o que houve entre Jennie e eu foi real, algo muito intenso, mais forte que qualquer outro sentimento que já existiu.
— Eu te amo, Jennie — sussurrei próximo ao seu ouvido.
Abracei com força o seu corpo sem vida enquanto lágrimas caíam dos meus olhos sem que eu tivesse qualquer controle sobre elas. Eu não tinha coragem para deixá-la aqui, me recusava a abandoná-la.
— Te amo... te amo... — Fechei os olhos e enterrei meu rosto no pescoço dela que já estava frio e sem qualquer resquício de vida.
Enquanto eu chorava pela morte da minha amada, comecei a ouvir uma espécie de zumbido alto e agudo. Abri meus olhos e percebi que o mundo ao redor estava estranho. Ainda era a mesma colina florida, mas a Jennie... ela não estava mais em meus braços.
Levantei do chão às pressas, olhando ao redor, mas não encontrei nenhum sinal da princesa. Comecei a me desesperar. Quando olhei para o horizonte eu percebi que o vilarejo havia desaparecido também, assim como o castelo e qualquer outra construção humana. Não havia nada além de colinas verdes uma após a outra, flores coloridas e grama baixa. Um vento quente e suave soprava, o céu ainda estava roxo como se o tempo tivesse parado naquele pôr do sol.
Ouvi passos na grama vindos da minha esquerda. Olhei para o lado e vi Jennie andando na minha direção. Seus cabelos pretos na altura dos ombros estavam esvoaçantes no vento, assim como o lindo vestido branco de mangas caídas que cobria o seu corpo. Ela sorriu para mim de um jeito sereno, sem qualquer preocupação.
Estendi minha mão para tocá-la, embora pensasse que fosse apenas uma alucinação. Quando senti em meus dedos a pele macia do seu rosto eu sorri de felicidade. Puxei-a para perto e a abracei com força por um longo tempo.
— Você está viva? — Afastei meu rosto para olhar em seus olhos. — Mas como?
Jennie sorriu e levou suas mãos até o meu rosto, secando minhas lágrimas com a ajuda dos seus polegares.
— Nenhum de nós está — respondeu com serenidade.
Fiquei confuso.
— Que lugar é esse? — Olhei ao meu redor, tentando entender.
Jennie não respondeu, ela saiu dos meus braços e sentou-se na grama que estava salpicada de flores brancas. Acomodei-me ao lado dela e fiquei admirando a sua beleza enquanto ela encarava o horizonte.
— Mas é claro! — Minha mente teve um estalo assim que a ficha caiu. Como não percebi isso antes? — Estamos no mundo dos mortos.
Jennie apenas concordou com a cabeça.
Eu não entendi muito bem como vim parar aqui já que eu era um demônio e o meu lugar era no inferno. A única explicação que consegui encontrar foi que talvez eu tivesse pagado por todos os erros que cometi ao ajudar Jennie a se libertar de um infortúnio que eu mesmo lhe causei após ser manipulado a matar os protetores da rainha, meus companheiros.
Talvez, agora que resolvi essas questões e fui libertado do feitiço, a minha alma tenha ficado livre e veio para cá, junto com Jennie.
Admirei a princesa por um tempo enquanto ela olhava o horizonte, despreocupada. Não havia nenhum vestígio de sangue nela, como se não tivesse passado por nenhuma daquelas dores humanas.
— Ficaremos aqui então? — perguntei a ela.
Jennie me olhou e sorriu.
— Sim, Taehyung. Agora estaremos juntos por toda a eternidade. — Ela selou suas palavras com um beijo.
Um beijo que nos levou a fazer amor apaixonadamente naquela colina florida. E pela primeira vez, eu não roubei a energia dela quando chegamos ao nosso ápice. Eu tive a minha libertação e enchi Jennie com a minha semente, marcando-a como minha. Pertencemos um ao outro e seremos felizes para sempre.
Fim.