𝐏𝐀𝐈𝐗𝐀̃𝐎 𝐅𝐀𝐍𝐓𝐀𝐒𝐌𝐀Após três horas de viagem extenuante, a carruagem avançava por um caminho sinuoso coberto por árvores frondosas, cujas folhas reluziam à luz suave do crepúsculo, conferindo ao cenário uma aura mística. Era como se cada galho, cada folha carregasse um pedaço da magia do mundo. Tudo parecia em perfeita harmonia com a natureza até que, de repente, um acontecimento inesperado se desenrolou.
Uma serpente de um verde esmeralda profundo surgiu do nada, suas escamas refletindo a luz como se fossem feitos de jade polido. Os alazões, tomados de pânico, relincharam e se ergueram sobre as patas traseiras, ameaçando virar a carruagem. O condutor, um homem de traços rudes e olhar determinado, tentou acalmá-los.
— Fiquem calmos, rapazes! — ele gritou, segurando as rédeas com força. — Se ficarem parados, nada acontecerá!
Mas os cavalos, já dominados pelo medo, desobedeceram. Em um frenesi de patas e relinchos, começaram a disparar pela estrada, ameaçando lançar a carruagem para fora do caminho. O condutor, em um impulso de raiva, agarrou um pedaço de madeira que estava ao seu lado e, num gesto ameaçador, avançou contra a serpente. Lyran, ao perceber a intenção do homem, agiu rapidamente, saltando da carruagem e interpondo-se entre ele e o animal.
— Não faça isso! — ela exclamou, erguendo as mãos. — É apenas uma criatura da floresta, não fez por mal. Lembre-se de que são apenas animais, reagindo por instinto.
O homem hesitou, seu olhar furioso suavizando-se por um breve momento, antes de se encher de frustração.
— Mas e agora, como a levarei ao seu destino?! — vociferou, visivelmente exasperado.
Lyran manteve a compostura e, com uma voz serena, respondeu:
— Há uma pousada aqui perto onde podemos passar a noite. Posso cobrir os custos, se me permitir.
O condutor, ferido em seu orgulho, bufou indignado.
— Não! Eu pagarei, pois foi meu erro trazer cavalos tão medrosos. E nunca permitiria que uma dama pagasse algo por mim. Que desrespeito seria aceitar tal oferta! — respondeu ele, em um tom que misturava grosseria e uma tentativa desajeitada de demonstrar cavalheirismo.
Lyran apenas ergueu uma sobrancelha, surpresa pela frágil masculinidade do homem e seu evidente machismo. Optando por não prolongar o confronto, ela voltou à carruagem, enquanto o condutor, em um ato de "superioridade masculina", conduzia a carruagem até a pousada, mesmo sem os cavalos.
Quando finalmente chegaram à pousada, um edifício de três andares com uma arquitetura exuberante e ornamentada, claramente um refúgio para os abastados, o condutor mal podia conter seu desconforto. Ele sabia que não deveria estar ali, e o preço para permanecer por uma noite pesava em sua mente. Contudo, ao entrar, Lyran foi tomada por um sentimento de admiração. O saguão era vasto e decorado com mármores reluzentes, lustres de cristal pendendo do teto como cascatas de estrelas, e tapeçarias ricamente bordadas cobrindo as paredes com cenas de caçadas antigas.
Ela girou graciosamente pelo salão, segurando a ponta do seu vestido que por muito não trocava, encantada com cada detalhe. Enquanto isso, o condutor discutia com o recepcionista, tentando obter um desconto, bem como assegurar dois novos cavalos para prosseguir viagem. A negociação não lhe foi favorável quanto ao desconto, mas conseguiu um par de cavalos por um preço acessível. Ali passariam a noite.
Ao chegar à porta de seu quarto, Lyran segurou a maçaneta, respirando fundo, cheia de expectativas. Ao abri-la, deparou-se com um quarto luxuoso, mas nada de extraordinário. Não havia sequer uma planta para adornar o espaço, apenas móveis opulentos e uma cama com lençóis de cetim. Decepcionada, ela colocou sua bagagem no armário e se jogou na cama, contemplando o lustre acima dela. Suspirou novamente, imaginando como o quarto ficaria lindo com mais flores.
Lembrando-se de sua afinidade com a magia floral, ela se levantou, juntou as mãos e conjurou um pequeno dentes-de-leão. Ela soprou suavemente, espalhando as sementes encantadas pelo quarto. Onde quer que pousassem, belas flores desabrochavam instantaneamente. Em volta da cama, ela criou um anel de botões-de-sangue, sua flor favorita, e preencheu o restante do quarto com botões-da-lua, bupleros, e outras flores raras e coloridas.
Depois de um banho reconfortante, Lyran trocou de roupa e foi deitar-se. Ela virou-se de lado e ficou encarando um botão-de-sangue até adormecer.
Na manhã seguinte, ela foi despertada por leves batidas na porta. Ainda sonolenta, pensou por um momento que fosse Elio. Quando abriu a porta, não viu ninguém à sua frente. Olhando para baixo, avistou uma pequena figura toda maltrapilha, com roupas velhas e encardidas, tão pequenas e apertadas que transpareciam seu sofrimento. Ele disse, com a voz trêmula:
— O-oi... — gaguejou. — Vim informá-la que o café da manhã já foi servido, senhorita.
— Ah, sim, obrigada por me avisar — respondeu Lyran educadamente, com uma ponta de compaixão pelo pequeno criado.
Ela voltou ao seu quarto, colocou o espartilho e vestiu um longo vestido verde turquesa cheio de babados e mangas bufantes, complementando o visual com um chapéu menos chamativo. Desceu as escadas elegantemente, passando a mão pelo corrimão com detalhes dourados, admirando cada quadro que adornava as paredes. Ao chegar na sala de café da manhã, notou que o ambiente era mais florido que o resto do hotel, com trepadeiras cobrindo as paredes e conferindo um clima acolhedor. Havia várias pessoas elegantemente vestidas, claramente indivíduos de alta fortuna. Entre eles, avistou seu condutor e se sentou ao lado dele.
— Como foi sua noite? — perguntou ela gentilmente.
— Digna e perfeita para um homem honrado como eu — respondeu ele, orgulhosamente.
— Bom, não estou com fome, então voltarei ao meu quarto e arrumarei minhas coisas para prosseguirmos a viagem — ela se retirou cuidadosamente.
Ao retornar ao seu quarto e abrir a porta, Lyran se espantou ao ver a pequena figura que a havia informado sobre o café da manhã.
— O que está fazendo aqui?! — perguntou curiosa.
— AHH! — o pequeno gritou de espanto, ficando pálido de pavor. — Não era para você ver isto!
— De novo, o que está fazendo? -- ela repetio
— Eu vi que você decorou seu quarto com essas flores lindas, e como sei bem o que acontece com pessoas que usam magia aqui, decidi evitar um acontecimento desagradável — respondeu ele, de forma sincera e cheia de timidez.
— Ora, eu podia ter feito isso sozinha. — Lyran girou o dedo, sugando todas as flores que se transformaram em um pó mágico, que logo foi absorvido por seu dedo.
— Ok, perdão. E você nunca me viu! — disse o pequeno enquanto saía por uma porta secreta.
— Ei, espere! — Lyran bateu na porta, mas sem sucesso.
Ela ficou ali, pensativa. Algo no comportamento daquele pequeno criado parecia suspeito, e Lyran não podia ignorar a sensação de que havia muito mais escondido naqueles corredores luxuosos do que ela poderia imaginar.
✪ 𝐀𝐋𝐁𝐄𝐑𝐓 𝐓𝐀𝐘𝐋𝐎𝐑 ✪
NOTA
Na época, a escravidão era normal, por isso ele estava lá, mas a Lyra também não concorda com isso.
Para quem quiser mais detalhes sobre a história, tenho meu Instagram e meu Threads, onde costumo avisar quando lanço um capítulo novo. Agora, serão dois capítulos por semana, às terças e sextas.
Perfil: @Leozzarolie
Ate o proximo capitulo
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paixão Fantasma
Misterio / SuspensoEm 1890 da idade moderna, Elio, um comediante carismático, encontra uma bela mulher loira entre a plateia durante seu show. Após uma breve e encantadora interação, ele desaparece misteriosamente, deixando-a intrigada. Determinada a encontrá-lo, a mu...