Capítulo 15

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Do que servem as mudanças, quando o destino ri de si como um algoz ri do condenado? 
Cada passo que dei, na direção contrária, perdi um pedaço. 
De mim, de ti, dos outros, de tudo. 
Cada pedacinho que eu considerava tão parte de mim.
Tão importantes que achei que fosse morrer sem eles. 

Anos depois, viva continuei.
Quebrada, os cacos colados com cola vagabunda e frágil,
Ainda assim, continuei. 
A cola vagabunda ainda me deixou soltar mais alguns pedaços, de personalidade, de hobbies, de prazeres da vida que antes achava tão importantes pra mim. 

Sem eles eu continuei, cada dia mais arregaçada, quebrada e cortante. 
Continuei, rasteira após rasteira da vida, das pessoas, de mim. 
Ri com o destino e com ele, surpreendi psicólogos e psiquiatras. 
"Ela faz piada com as próprias tristezas" - Sim, a grande piada sempre fui eu. 

A graça estava em mim o tempo todo. 
No quanto eu aguentava ser desfeita em mil pedaços, e quantos deles eu conseguiria catar e colar para o próximo: amor, calor, doutor. 
O engraçado era me refazer, sempre com um sorriso no rosto, me reerguer como a fênix e fingir que nada havia acontecido no passado. 

Mas o passado é tão cruel quanto o destino, ele te persegue. Te mostra que você é feita de tudo aquilo que já viveu. Das pessoas, das perdas, dos sorrisos e das lágrimas. 
Então os cacos largados ao longo do caminho voltam-se contra mim, me perfuram enquanto me fazem lembrar de todas que fui, de todos com quem estive, de tudo que amei. 

Do que serve a mudança, então, se o passado teima em me fazer sangrar, de novo e de novo? 
De aviso pro próximo show, porque eu sou a estrela.
No palco da vida, a grande palhaça se prepara para estrelar mais uma de suas desilusões. 

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⏰ Last updated: Sep 03 ⏰

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