Capítulo 6 - Mia: O Peso da Culpa

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Autora: Nara Benetti

Mia entrou em seu quarto, com o coração batendo descompassado. O reflexo no espelho mostrava uma
jovem elegante, mas as mãos ainda manchadas de sangue revelavam a brutalidade do que havia feito.

Ela se aproximou do espelho, tentando compreender o que tinha acontecido. As palavras de seu pai
ecoavam em sua mente: "Ninguém vai acreditar em um jardineiro violento." Mas, apesar da segurança
que a influência da família Burlingame lhe oferecia, o medo a consumia.

Adelina, sua irmã mais nova, estava deitada na cama, olhando com preocupação para Mia.

- Você está bem? - perguntou, a voz tremendo. - Está machucada ?

Mia forçou um sorriso, mas os olhos traiçoeiros deixavam transparecer sua angústia.

- Estou... Só um pouco cansada. - Mia tentava esconder as mãos sujas de sangue. - Vou até o tocador.

Mia seguiu para o pequeno espaço de banho.
Naquela noite, o sono não veio. Mia se virava na cama, lembrando-se da cena horrenda. O advogado
da família, Dr. George Stuart, havia chegado cedo na manhã seguinte, e a conversa com seu pai,
Robert, reverberava em sua mente.

- Precisamos contar à polícia que Gary era violento - disse Robert, com uma expressão grave. - Você
estava apenas se defendendo.

Mia escutou, o coração afundando. As palavras de seu pai pareciam tão frias, tão calculadas. A defesa
perfeita. Mas a imagem do homem caindo, a faca cravada em seu peito, não saía de sua mente.

No dia do interrogatório, o ambiente era opressivo. O delegado, um homem grisalho com uma voz
firme, a encarava, e a sala parecia encolher ao seu redor.

- O que você estava fazendo na casa dos criados tão tarde? - perguntou ele, a voz ecoando nas
paredes.

Mia respirou fundo, lembrando-se das instruções de seu pai.

- Eu costumo sair para pegar ar noturno - respondeu, a voz firme, mas o tremor em suas mãos traía a calma. - Quando ouvi a briga, fui ajudar. Gary estava... estava prestes a machucar aquela
mulher.- Mia tentava não olhar para seus dedos se mexendo.

O delegado arqueou uma sobrancelha, cético, mas Mia continuou, a mente focada em não desviar da
versão que seu pai havia lhe ensinado.

- Ele tentou me atacar, e eu me defendi.

Na mente de Mia, as imagens se misturavam. Lembrou-se de como pulou em Gary, a adrenalina
tomando conta. A mulher de Gary, assustada, observava a cena, mas seu olhar não afetou a decisão de Mia.

- Você não precisa temer - disse o delegado, observando como a jovem mantinha a história. - É
difícil, mas você está segura agora.

Finalmente, a polícia acreditou nela. O sobrenome Burlingame parecia ter um peso especial, e o
delegado, ao ver a conexão, a liberou. A sensação de alívio foi acompanhada de um gosto amargo na
boca.

- Você é uma heroína - disse Adelina, enquanto as matérias de jornal chegavam, exaltando Mia
como salvadora. - Olha só o que estão dizendo!
Mia forçou um sorriso, mas o peso da verdade a oprimia.

- Heroína? - repetiu, a voz quase um sussurro. - Eu só... eu só fiz o que qualquer um faria.

- Mas você salvou uma vida! - Adelina insistiu, cheia de admiração. - Se você não tivesse
aparecido, quem sabe o que teria acontecido?

Mia fechou os olhos, tentando se convencer.

- Ele era violento... - murmurou, a voz trêmula. - Mas... Será que eu fiz o certo?

Herança SombriaWhere stories live. Discover now