Herança Sombria

Capítulo 2 - Mia

Autora: Nara Benetti

Mia olhava o enorme oceano à sua frente. O vento balançava seus cabelos ruivos, e seus olhos azuis se perdiam no mar. Foram longos anos longe de casa. Ela pensava sobre tudo que viveu no Texas, as aventuras, lutas por igualdade. Ela tinha uma personalidade forte e, de certa forma, queria fazer parte de algo maior.

A jovem se envolveu em muitas confusões no Texas Female College, mas sendo uma das melhores alunas, conseguiu se formar. Voltar para Londres depois de 10 anos trazia a Mia um pouco de felicidade. Estar de volta em casa. A jovem observava as nuvens, enquanto pensava em como estariam sua irmã e seus pais. A última notícia foi em uma carta que a irmã enviara antes de Mia embarcar de volta. Mia era a irmã mais velha. Seus pais tinham muito apreço pela educação das meninas. Mesmo formando futuras esposas e donas de casa, o pai de Mia, Robert, sempre quis que suas filhas fossem bem instruídas. Por isso, mandou Mia para uma das mais renomadas escolas do Texas para se dedicar aos estudos, o que era o mínimo a se esperar do dono de uma das maiores lojas de tecidos da Inglaterra. Os Burlingame eram os pioneiros na venda de tecido. A viagem de navio tinha sido longa, mas em algumas horas ela estaria de volta.

- Senhorita Burlingame... Deve estar feliz, logo estará em casa. Seus pais devem estar orgulhosos, as melhores notas da Texas Female College - Olga, a dama de companhia de Mia, disse animadamente. A mulher de cabelos pretos e um sorriso amigável estava com Mia desde os seus 7 anos e era quase uma segunda mãe para a moça. Mia se virou, ficando frente a frente com a mulher.

- Não quero ir para a universidade só porque meus pais são influentes. Embora eu tenha certeza de que meu pai não vai gostar da ideia de ir para Girton estudar Jornalismo, conhecendo-o, sem dúvidas deve estar arrumando um noivo para mim - Mia se apoiou no corrimão do navio.

Embora o pai de Mia prezasse pelo estudo, ele ainda era um homem tradicional, e as suas filhas sempre foram preparadas para o futuro casamento.

- Seu pai precisa de alguém para tocar o negócio futuramente. Sabe como ele se importa com a imagem pessoal.

Mia voltou a olhar o mar, pensando em como seria ser livre. O mar sempre vai e vem, não recebe ordens. Era isso que ela queria, ser livre.

A buzina do navio soou, indicando que estavam perto do porto de Londres. As pessoas já começaram a se aglomerar com suas maletas de mão. Mia suspirou e pegou sua mala assim que o navio acabou de ancorar. As pessoas desciam em fila; a maioria estava sendo esperada por familiares. Para Mia, não foi diferente. Assim que desceu do navio, seu pai já esperava. Um homem alto, os cabelos ruivos como os de Mia, seu olhar era severo, mas amoroso. Mia andou em direção a ele, largando sua bagagem e lhe dando um abraço.

- Pai! Senti saudades. Como o senhor está?

Robert retribuiu o abraço e sorriu assim que se soltou da filha.

- Mia, olha para você, minha garotinha, como está grande. Estamos bem. Sua mãe está preparando o jantar. Como foi a viagem? - Robert perguntou, abrindo a porta da carruagem para que Mia subisse junto com Olga. Robert rapidamente entrou no veículo, ficando sentado de frente para Mia.

- Foi ótima. Um pouco cansativa, mas é compreensível. Sempre esqueço como o tempo é diferente aqui - Mia olhou pela janela da carruagem, a neblina tomando conta das ruas. Londres era sempre muito fria, e o clima nublado dava um ar mórbido à cidade, o que Mia gostava. As pessoas andavam pelas ruas, comerciantes vendiam suas mercadorias.

Mia não se lembrava de como a cidade era agitada.

- Sua mãe fez questão de preparar torta de pêssego e um jantar especial. Estamos felizes que esteja em casa - Robert ajeitou seu chapéu assim que a carruagem parou em frente à enorme casa. Os passageiros desceram.