Capítulo 4.5

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Significa que seu cupido provavelmente não aguentou o trampo e se matou com as flechas, querida. Me diga, querida, quando foi a última vez que fodeu com um homem e tentou vê-lo novamente? Você é fria!

Sinto uma vontade imensurável de enfiar Nicolas em uma sala de tortura.

Suas palavras não são falsas e não me ofendem propriamente. Mas seu tom arrogante de merda me faz desejar arrancar sua língua, quero cortá-la pedaço por pedaço, com alicate enferrujado.

Outra coisa que me faz questionar os motivos pelos quais considero esses três tão íntimos é ver Alissa acenando exageradamente em concordância, pronta para me insultar também:

— Eu nem posso te defender. Você não é exatamente uma pessoa receptiva, sabe? Para algo esporádico, talvez, mas uma relação a longo prazo exigiria menos... limites. Você é extremamente controladora.

— É sacanagem afirmarem algo assim, tenho padrões elevados, apenas. E eu nunca tive problemas em dormir com ninguém.

— Aí está! – Hugo expõe, cuidadosamente. – Dormir não, mas abraçar, mastigar, respirar, dividir uma batata frita, mudar suas louça de lugar, sim. Você é criteriosa demais com coisas ridiculamente pequenas. Beirando a obsessão. Admita, você é bem controladora.

Traíra!

— Vocês estão em exagerando – contesto.O tatuado não parece pensar muito antes de elaborar o próximo movimento, vejo uma de suas mãos se aproximando casualmente da minhas porções de fritas, ignorando-as por completo e encostando em apenas um único ítem: um copo. 

Meu copo de caipirinha com morango. Ele o troca de lugar despreocupadamente, movendo-o da direita em frente ao prato, para a esquerda em frente ao prato. Em seguida me encara com desdém. 

Não entendo exatamente o que acabou de acontecer, mas Hugo parece satisfeito e volta a conversar normalmente com os outros dois, como se o assunto estivesse encerrado. 

Eles passam a debater sobre política, trabalho, traumas ou signos, não faço a menor ideia. Tudo que consigo fazer é encarar o copo.

O maldito copo no lugar errado.

Coloco aquela porcaria de volta no lado direto ao prato, de onde não deveria ter saído.

— Quase dois minutos inteiros – Alissa contabiliza – não achei que fosse durar tanto. Parabéns.

Instantaneamente percebo o que acaba de acontecer. A ironia me soa como um ataque pessoal, é desconcertante constatar que eles não estão errados. Abro a boca pronta para ofender até a quinta geração de todos, não tão disposta quando gostaria, visto que meu ego foi ferido.

— Apenas expondo amigavelmente o quão insuportável você é, mas te amamos mesmo assim.

É Nicolas quem diz, mas todos concordam. Os fuzilo com o olhar. 

Me considero uma pessoa particularmente rancorosa, se eu fizer o trabalho direito consigo assassinar os três, nada de testemunhas, nada de remorso.

Eles se aproximam para me abraçar enquanto penso em algo pior do que a morte: desejo com todas as minhas forças que eles batam com o dedinho na quina de um móvel.

— Isso é de uma imbecilidade gigantesca, eu não sou uma pessoa difícil, nem controladora. Não gosto que encostem nas minhas coisas, pouco importa o que façam com as suas. Tem quatro copos na mesa, vocês podem até virar três deles de ponta cabeça, é só deixar o meu no lugar e ninguém vai ter problemas.

— A questão é que estamos na sua casa, tudo é seu. Acha que não percebemos o olhar fuzilante que recebemos toda vez que encostamos em alguma parte da decoração? E sabemos que você não nos deixaria ajudar a arrumar a louça, porque tudo tem um lugar muito específico. Além do fato de que você sempre senta no chão, e nos força a fazer o mesmo para não sujar o sofá.

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