Capítulo 5

54 9 27
                                    

Peço perdão desde já pelos erros gramaticais e atraso na postagem. Espero que tenha valido a pena esperar.

Obs.: Contém gatilhos referentes a burnout.

*****

De tempos em tempos, fico tentando entender por que raios o ser humano decidiu parar de andar pelado no meio do mato e optou por se entupir de serviço para sobreviver.

Não estou dizendo que o progresso da humanidade é algo horrível. De fato, escravidão e revolução industrial são um parâmetro assustador comparado aos dias atuais, mas é uma estupidez gigantesca presumir que alcançamos um sistema de produção ideal.

Não que eu seja um modelo de autocontrole, sou tão vítima quanto qualquer um.

Mal percebo as horas escorrendo pelas minhas mãos enquanto cumpro todas as obrigações, uma atrás da outra, sem pausa. Infelizmente, tenho o mau hábito de focar em determinadas coisas por horas a fio, sem comer, sem ir ao banheiro, sem dormir, ignorando tudo ao meu redor. O trabalho é uma dessas coisas, e há um tempo essa obsessão em produzir quase foi minha ruína.

A ultima vez que perdi o controle, tudo ao meu redor foi bloqueado. Me lembro que comecei a criar um sistema de organização para mim, despretenciosamente, mas havia uma falha no código, algo pequeno, como uma vírgula errada, mas a estava desconfigurando todo o resto. Nem me lembro de ouvir o toque do celular, ou as batidas na porta, eu só conseguia encarar o monitor com a necessidade obsessiva de encontrar o maldito erro entre os milhares de caracteres.

Alissa me encontrou em um estado de transe, digitando códigos aleatórios com as mãos tremendo pelo desgaste excessivo. Ela comentou que eu não parava de murmurar coisas inteligíveis. 

Eu gritei como uma louca quando ela desligou o notebook.

Desmaiei logo em seguida, dormi por mais de quinze horas. 

Acordei com um tonel de soro espetado em meu braço. Foi uma merda.

 Aparentemente, eu estive trabalhando por vinte e seis horas initerruptas. Uma performance digna de aplausos. Exceto, claro, por desmaiar na frente de um código quebrado e não achar o erro. Meros detalhes.

Por esse motivo, existem três alarmes ligados diretamente no meu notebook, com intervalos de meia hora entre cada um deles, me avisando que é hora de encerrar as atividades.
Caso eu não termine, ele desliga automaticamente e deleta todo o meu progresso após o horário estabelecido. Eu mesma o programei assim, afinal, sendo minha maior inimiga, preciso de armas a altura.

Ainda assim, Alissa sempre me liga poucos minutos após o último alarme para conferir se eu já estou longe do computador.

Meus olhos doem após tantas horas em frente ao computador; mal consigo raciocinar meu nome. Ainda me perco em meio as demandas excessivas, afinal, quanto mais eu clientes, mais ganhos. Ainda é difícil desassociar.

Trabalhamos mais do que vivemos.

Tomo um banho rápido e fico largada no sofá, ponderando se vale a pena preparar algo para comer antes de dormir. Não restou nem uma mísera bolacha nos armários. Esqueci de fazer as compras, e não estou com a menor vontade de gastar louça criando algo que preste.

Passei anos afirmando que morar sozinha é uma experiência libertadora, mas a verdade é que, na maior parte do tempo, é apenas exaustivo. A pilha de roupa suja cresce em uma velocidade assustadora, gasta-se muito dinheiro com coisas ridículas como papel higiênico, e a pior parte: não existe ninguém para matar as baratas.

É um dos motivos que me forçam a deixar tudo sempre impecávelmente limpo.

Também tenho alarmes para lembrar de ir ao banheiro e comer, infelizmente esses não são tão eficientes quanto o que me desconecta completamente do trabalho. Julgo Alissa por sua alimentação desregulada, mas não é a primeira vez que considero dormir com o estômago vazio.

DiscrepantesOnde histórias criam vida. Descubra agora