Greg
A proximidade de Fabrícia era intoxicante, e por um momento, esqueci de tudo. Esqueci da cadeira de rodas, do acidente, de como a vida tinha me transformado em uma sombra do que eu já fui. Ela estava ali, sobre mim, e por mais que eu quisesse afastá-la, algo em meu ser desejava ardentemente que ela ficasse.
— Você não devia estar aqui... — sussurrei, tentando manter algum controle sobre a situação. Mas minha voz soou mais fraca do que gostaria.
Ela não se mexeu, apenas ficou ali, olhando para a minha face com aqueles olhos que pareciam enxergar além da fachada que eu sempre mostrava para o mundo. Era desconcertante e, ao mesmo tempo, reconfortante.
— Greg... — A voz dela era suave, quase um carinho. — Eu só quero ajudar.
Querer ajuda era uma coisa, aceitar era outra completamente diferente. Odiava a vulnerabilidade que a presença dela me causava, e ao mesmo tempo, algo no meu íntimo ansiava malditamente por isso. Mesmo recebendo essa carga dividida por culpa exclusivamente dela, ela não merecia o jeito que eu a tratava, mas era mais fácil afastá-la, rechaça-la, do que encarar o que realmente vinha sentindo.
Afastei a mão do ombro dela, soltando-a. Mas não consegui desviar o olhar.
— Vai descansar, Fabrícia. Você já fez mais do que o suficiente por hoje. — Minha voz estava mais controlada, mas havia um cansaço que nem eu conseguia esconder.
Fabrícia
Sabia que deveria sair, dar a ele o espaço que estava pedindo, mas havia algo na maneira como ele me olhava, como se quisesse dizer mais do que estava permitindo. Senti uma pontada de tristeza por ele. Não fazia ideia de quão profundo era o abismo em que ele estava, mas queria de alguma forma alcançá-lo. Tirá-lo de lá.
— Vou te deixar descansar, mas... — hesitei, não querendo forçar a barra. — Se precisar de alguma coisa, estarei no meu quarto. E, Greg, não precisa carregar tudo sozinho. Pode contar comigo, mesmo que seja só para ouvir.
Ele não respondeu, apenas assentiu levemente, fechando os olhos como se quisesse fugir de mais qualquer interação. Entendendo a mensagem. Levantei-me da cama, ajustando o cobertor ao redor dele antes de sair do quarto. Quando fechei a porta atrás de mim, não pude deixar de me sentir pesada, como se estivesse deixando parte da minha alma para trás naquela penumbra.
Caminhei até meu quarto, mas o sono parecia impossível depois de tudo o que aconteceu. Meu coração ainda batia rápido, e eu não conseguia tirar Greg da cabeça. Ele era um mistério que queria tanto desvendar, mas que parecia se fechar a cada vez que eu tentava chegar mais perto.
Greg
Eu podia ouvi-la se afastando, o som suave de seus passos desaparecendo pelo corredor. Quando a porta do quarto dela se fechou, senti um alívio momentâneo, mas também um vazio inexplicável. O que diabos ela estava tentando fazer comigo? Por que se importava tanto?
Meu peito doía, e não era só por causa da tensão física. Era a batalha interna que eu travava, uma batalha que me forçava a manter uma distância segura entre nós, mesmo que isso significasse afastá-la completamente. Só que, quanto mais tentava, mais ela insistia em ficar. Teimosa!
— Maldita... — sussurrei abrindo os olhos para o teto, meus pensamentos um caos completo.
O sono se recusava a vir, e as palavras dela ecoavam na minha mente. "Não precisa carregar tudo sozinho." Como se fosse tão fácil assim. Como se ela pudesse entender o peso que eu carregava, as coisas que eu havia perdido. Sentia saudades de como eu era, e do que podia ser capaz de oferecer a ela. - Respirei lamentando-me profundamente.
Rolei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas tudo o que consegui foi sentir a frustração crescer. No escuro, meu mundo parecia ainda menor, ainda mais sufocante. Fechei os olhos, tentando afastar a imagem dela, mas tudo o que consegui foi ouvir de novo o som do meu próprio sussurro enquanto dormia, chamando por ela.
Odiava com todas a forças que tinha o que estava sentindo. Odiava o quanto ela me fazia querer... querer coisas que eu já tinha desistido de desejar.
Fabrícia
Definitivamente não conseguia parar de pensar no que aconteceu no quarto do Greg. Algo estava mudando entre nós, e isso me assustava tanto quanto me atraía. Ele era tão difícil de alcançar, mas havia momentos como aquele em que ele baixava a guarda, e eu podia ver um homem diferente por trás da máscara de arrogância.
Sentei na cama, abraçando meus joelhos enquanto olhava para o vazio. Sem sombra de dúvida estava me envolvendo mais do que deveria, mas era impossível não me importar. Ele era meu paciente, sim, mas também era alguém que, de alguma forma, estava se tornando importante para mim.
Mas e ele? O que eu era para Greg? Uma enfermeira, uma assistente... ou algo mais?
Essas perguntas me assombravam enquanto tentava, em vão, encontrar algum descanso.
Eu só podia esperar que, em algum momento, ele me deixasse entrar no seu mundo, que me permitisse ajudá-lo de verdade, sem reservas. E até lá, continuarei tentando, mesmo que ele resistisse. Afinal, ninguém deveria carregar um fardo como aquele sozinho.
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Tesão Sobre Duas Rodas( Em Andamento)
Roman d'amour"Eu sou a fúria, a arrogância e a amargura. E Fabrícia é a minha redenção... minha fraqueza, e minha..." Greg sofreu um acidente de carro, deste então, mesmo com todos seus esforços para que voltasse a caminhar ficou paralítico. Sendo assim acabou d...