Conflitos Internos

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Pov Hana

De volta à base, o silêncio que nos envolveu era quase ensurdecedor. Após o caos da batalha, o contraste do ambiente tranquilo parecia ainda mais sufocante. A equipe estava exausta, e todos se espalharam para se recuperar, cuidar dos ferimentos e reorganizar os equipamentos. Eu mesma estava coberta de sangue e suor, mas a verdadeira tempestade estava dentro de mim.

Desde o momento em que Mun me salvou, algo havia mudado. A conexão entre nós, que antes era uma corrente subterrânea de tensão, agora estava na superfície, impossível de ignorar. Cada vez que eu olhava para ele, sentia o peito apertar. O jeito que ele me olhou, a preocupação em seus olhos... Aquilo não era apenas sobre a missão. Era algo mais.

Eu precisava de espaço para pensar. Saí da sala comum e me dirigi para o telhado da base, meu refúgio pessoal para quando precisava de ar. Quando cheguei lá, o vento fresco me envolveu, mas não trouxe o alívio que eu esperava. O peso do que estava acontecendo entre mim e Mun continuava a me pressionar.

Encostei-me na grade do telhado, olhando para a cidade abaixo. As luzes de Seul brilhavam como um oceano de estrelas, mas tudo o que eu conseguia ver eram os últimos momentos da batalha. A maneira como ele arriscou tudo por mim, a fúria nos olhos dele enquanto lutava. Aquilo significava algo, e eu sabia disso. Mas eu não podia permitir que isso me distraísse.

“Você sempre vem aqui quando quer fugir de algo?”

A voz de Mun me surpreendeu, e eu me virei rapidamente. Ele estava parado na entrada do telhado, os braços cruzados, com a expressão fechada. Não parecia mais ferido, mas o cansaço em seus olhos era claro.

“Não estou fugindo,” respondi, mesmo sabendo que era exatamente isso que eu estava fazendo. “Só precisava de um momento para pensar.”

Mun deu alguns passos em minha direção, aproximando-se lentamente. Quando ele parou ao meu lado, ambos ficamos em silêncio por um momento, olhando para a cidade abaixo.

“Eu não consegui te proteger como deveria hoje,” ele disse, de repente. Sua voz estava baixa, cheia de culpa.

Olhei para ele, surpresa. “Você está falando sério? Você salvou minha vida lá. Se não fosse por você, eu estaria morta.”

Ele balançou a cabeça, claramente insatisfeito. “Isso não é o suficiente. Eu deveria ter impedido que você fosse atingida em primeiro lugar.”

A culpa em sua voz me atingiu, e eu senti uma onda de frustração subir dentro de mim. Ele sempre foi assim, colocando todo o peso do mundo em seus próprios ombros, como se tudo fosse responsabilidade dele. Mas não era. Nós éramos uma equipe, e eu não precisava de um salvador. Eu precisava de um parceiro.

“Mun, pare com isso. Nós dois sabemos que essas batalhas não são previsíveis. Você não pode controlar tudo, e não pode me proteger o tempo todo.”

Ele finalmente olhou para mim, os olhos cheios de uma emoção que eu não conseguia decifrar completamente. “Eu preciso proteger você, Hana. Eu... não sei o que faria se algo acontecesse com você.”

Meu coração deu um salto. Ali estava. A verdade que ambos estávamos tentando evitar. Eu senti o calor subir pelo meu rosto, e as palavras se formaram na minha garganta antes que eu pudesse pensar.

“Por quê? Por que você sente que precisa me proteger tanto?”

A pergunta pairou no ar entre nós, carregada de uma tensão palpável. Mun fechou os olhos por um segundo, como se estivesse tentando reunir coragem para responder. Quando ele finalmente falou, sua voz estava baixa, mas cheia de sinceridade.

“Porque você significa mais para mim do que eu estou disposto a admitir.”

Eu congelei, incapaz de processar o que ele acabara de dizer. Minha mente girava, e por um momento, o mundo ao nosso redor parecia desaparecer. Tudo o que existia era Mun, parado à minha frente, admitindo o que ambos estávamos tentando esconder há tanto tempo.

“Mun...,” comecei, mas as palavras morreram na minha boca. Eu não sabia o que dizer. Porque, no fundo, eu sabia que sentia o mesmo. Só não queria admitir.

Ele deu um passo mais perto, seus olhos presos nos meus. “Eu não posso ignorar isso, Hana. Eu tentei. Acredite, eu tentei. Mas hoje, quando eu te vi sendo atacada, tudo que eu conseguia pensar era que eu não podia perder você. Não desse jeito. Não de jeito nenhum.”

Meu coração batia tão forte que eu podia ouvir nos meus ouvidos. Tudo que eu queria fazer era alcançar ele, tocar sua mão, dizer que sentia o mesmo. Mas algo me segurava. O medo. O medo de perder o controle, de colocar tudo em risco.

“Isso não pode acontecer, Mun,” sussurrei, lutando contra as emoções que ameaçavam me engolir. “Nós temos uma missão. Temos responsabilidades. Se deixarmos isso... se perdermos o foco, pessoas podem morrer.”

Ele assentiu lentamente, mas a determinação em seus olhos não desapareceu. “Eu sei. Mas também sei que não posso mais fingir que isso não existe.”

O silêncio se instalou novamente, mas desta vez era diferente. O ar ao nosso redor parecia carregado, pesado com o peso do que não estava sendo dito. Finalmente, Mun deu um passo para trás, sua expressão suavizando.

“Eu não vou te pressionar, Hana. Eu só precisava que você soubesse. O que quer que aconteça, isso não vai mudar o que temos como equipe.”

Eu balancei a cabeça, ainda processando tudo. Antes que ele pudesse sair, o toque do alarme da base ressoou pela noite. Outro ataque.

Mun me deu um último olhar antes de se virar e descer as escadas, pronto para mais uma batalha. Eu fiquei ali por alguns segundos, tentando recuperar o fôlego, tentando entender o que acabara de acontecer.

Não havia mais como negar. Algo entre nós tinha mudado para sempre. A questão agora era: o que faríamos com isso?

Pov Mun

Eu desci as escadas com o coração batendo rápido, mais por causa da conversa com Hana do que pelo novo ataque. Havia uma mistura de alívio e tensão dentro de mim. Alívio por finalmente ter dito a ela o que estava sentindo, mas tensão porque ainda não sabia o que viria a seguir.

Mas agora não havia tempo para pensar nisso. O alarme indicava que os demônios estavam se movendo de novo, e eu precisava me concentrar. Minha equipe precisava de mim. Hana precisava de mim, mesmo que ela não quisesse admitir.

Quando cheguei à sala principal, todos já estavam prontos, incluindo Hana, que apareceu logo atrás de mim. Nossos olhares se cruzaram por um breve segundo, mas ela desviou rapidamente, focando na missão.

“Temos uma movimentação de alto nível nas docas,” disse Seok, um dos membros da equipe. “Parece que um grupo grande de demônios se reuniu lá, e estão causando destruição em larga escala.”

“Vamos nos dividir em dois grupos,” disse, assumindo o comando como sempre. “Hana, você vem comigo. Vamos acabar com isso rápido.”

Ela assentiu, sem uma palavra, e seguimos para a missão.

Mas, enquanto nos preparávamos para mais uma batalha, eu sabia que a verdadeira luta ainda estava por vir.

A luta entre nós dois.

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Continua...

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