Pov Mun
O silêncio na volta para a base era desconcertante. Eu estava acostumado com o barulho das batalhas, o som dos golpes e dos gritos, mas agora tudo o que eu ouvia era o som dos nossos passos. Hana estava ao meu lado, sua mão ainda na minha, e isso deveria me acalmar, mas só aumentava a confusão na minha mente.
Quando finalmente chegamos, a equipe já estava de volta. Eles estavam organizando os equipamentos e se preparando para cuidar de qualquer ferimento. Eu sabiaque precisava cuidar de Hana primeiro. Ela estava ferida, e por mais que tentasse fingir que estava bem, eu via a dor em seus olhos.
“Venha, vou cuidar do seu ombro,” disse, tentando manter a voz firme.
Ela hesitou por um segundo, mas acabou assentindo. Caminhamos até a enfermaria improvisada na base. Peguei uma cadeira para ela se sentar, enquanto preparava o kit de primeiros socorros. A sala estava quieta, apenas o som dos nossos movimentos preenchia o espaço. O ambiente, normalmente cheio de tensão e urgência, agora parecia sufocante.
Aproximei-me dela com gaze e desinfetante, meus olhos examinando seu ferimento. Não era tão grave quanto parecia, mas eu sabia que doía.
“Isso vai arder um pouco,” avisei, enquanto pressionava a gaze no corte. Ela respirou fundo, sem soltar um único gemido. Essa era Hana — sempre tão forte, tão implacável, até nos momentos mais dolorosos.
Mas ao mesmo tempo, havia algo diferente nela agora. Algo mais suave, que eu não havia notado antes. Estava em seus olhos, na forma como me observava com uma intensidade que fazia meu peito apertar.
“Você não precisava fazer isso, Mun,” ela murmurou de repente, quebrando o silêncio.
“Fazer o quê?”
“Se arriscar por mim. Eu estava bem, podia me defender.”
Eu pausei, os olhos se fixando nos dela. “Eu sei que você podia. Mas não vou ficar parado e deixar que você se machuque.”
Hana desviou o olhar, uma expressão de algo entre confusão e frustração cruzando seu rosto. Eu queria dizer mais, explicar o que estava me corroendo por dentro, mas as palavras simplesmente não saíam.
Terminei de limpar e enfaixar seu ombro, o silêncio voltando a tomar conta da sala. Quando me afastei, ela se levantou lentamente, seus olhos voltando a se encontrar com os meus.
“Mun, o que está acontecendo entre nós?” Sua pergunta foi direta, sem rodeios, como ela sempre foi.
Eu travei. Como eu poderia responder a isso? Estava claro que algo estava acontecendo, mas eu não sabia como nomear. Eu sempre fui o líder, o responsável por manter tudo sob controle. Mas Hana... Ela bagunçava tudo dentro de mim, de um jeito que eu não sabia lidar.
“Eu não sei,” admiti, a voz mais baixa do que o habitual. “Mas seja lá o que for, está me deixando... confuso.”
Hana deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. “Você não é o único confuso, Mun.”
O jeito que ela me olhava, como se estivesse esperando algo, fez meu coração disparar. Podíamos fingir que tudo estava normal, que éramos apenas companheiros de equipe, mas essa proximidade... Era algo que não podíamos mais ignorar.
Eu dei um passo para trás, criando uma distância que parecia mais segura, mais controlada. “Precisamos nos concentrar na missão. Temos que manter o foco.”
“Você sempre fala da missão,” ela disse, a frustração finalmente se mostrando em sua voz. “Mas e nós? Vamos ignorar o que está acontecendo?”
Eu não tinha resposta para isso. Ela estava certa, eu estava me escondendo atrás da missão, como sempre fiz. Mas admitir o que estava acontecendo entre nós parecia impossível.
“Eu não posso... me distrair, Hana. Se algo der errado, se eu falhar, posso colocar todos em risco. Inclusive você.”
Hana franziu o cenho, sua expressão se suavizando um pouco. “Mun, você não está sozinho nessa. Nós somos uma equipe, e parte de ser uma equipe é confiar uns nos outros. Confiar que podemos lidar com mais do que apenas demônios.”
Eu sabia que ela estava certa. Mas mesmo assim, a ideia de deixar esses sentimentos crescerem me assustava. Não por mim, mas por ela. Eu não podia correr o risco de falhar com Hana.
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, o alarme da base disparou, cortando o silêncio e nos puxando de volta à realidade. O momento entre nós foi interrompido pela urgência de mais uma missão.
Pov Hana
A tensão entre nós estava tão espessa que quase dava para tocá-la. Eu sabia que Mun estava lutando contra o que sentia, mas vê-lo se afastar me causava uma dor inesperada. Eu sempre fui capaz de lidar com a solidão, com a dureza do nosso trabalho. Mas, por algum motivo, Mun estava começando a se infiltrar nas partes de mim que eu mantive protegidas por tanto tempo.
Quando o alarme disparou, foi como se a realidade nos puxasse de volta com força total. Mun rapidamente assumiu o controle, instruindo a equipe enquanto todos se preparavam para o que viesse a seguir. Mas eu conseguia ver a tensão em seus ombros, o jeito como ele evitava me olhar.
Ainda sentindo o ombro latejar, me juntei ao restante da equipe, prontamente disposta a seguir as ordens. Sabíamos que os demônios não esperavam, e a ameaça não ia simplesmente desaparecer.
Mas enquanto ouvia Mun falar, sua voz firme e cheia de autoridade, percebi algo. Não importava o quanto ele tentasse fugir de nós, havia uma parte dele que estava sempre me protegendo, sempre consciente da minha presença. E agora, mais do que nunca, eu sabia que também queria protegê-lo.
Ele poderia tentar lutar contra seus sentimentos, mas eu não ia desistir assim tão fácil.
“Todos prontos?” Mun perguntou, os olhos finalmente encontrando os meus, mesmo que por um breve segundo.
Assenti, tentando ignorar o aperto em meu peito. Ele virou-se para o restante da equipe, e todos saímos juntos, preparados para enfrentar o que quer que estivesse à nossa espera.
Mas desta vez, eu sabia que a maior batalha não seria contra os demônios.
Seria contra os sentimentos que ambos estávamos lutando para esconder.
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Continua...
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Sombras e Sentimentos
AcciónEm meio às sombras de Seul, onde demônios espreitam e ameaçam a paz da cidade, existe uma gangue secreta de caçadores dedicada a erradicar essas forças malignas. Liderados por Mun, um guerreiro implacável, e Hana, sua destemida companheira, os Caçad...