Capítulo um

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A todos que lerem, espero que gostem.

A música indicada para começar a leitura é 'Music' de Madonna.

Boa leitura a todos!!

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A Quinta Avenida, com suas vitrines reluzentes e prédios imponentes, mantinha a habitual frenética rotina matinal. Pessoas ziguezagueavam em todas as direções, seus passos apressados ecoando como uma sinfonia desordenada entre as fachadas de lojas luxuosas e os carros que formavam longas filas no asfalto brilhante. Mãos carregadas de sacolas, quase invisíveis sob o peso, mantinham o ritmo acelerado, enquanto ternos cinza e sobretudos coloridos deslizavam pelas calçadas largas, emolduradas por canteiros de flores cuidadosamente posicionados. A correria incessante de um dos bairros mais icônicos de Nova York era familiar, uma cena impregnada na memória da cidade, como uma marca indelével. Cada rosto, cada movimento, fazia parte de uma coreografia cotidiana que nunca desacelerava.

O prédio pálido que se erguia ali não destoava da paisagem. Nos corredores, o som oco e ritmado dos saltos altos ressoava com frequência, acompanhado  pelo som pesado dos sapatos sociais, pertencentes àqueles cuja silhueta não denunciava feminilidade. Em alguns andares, o toque estridente dos telefones quebrava o ar, enquanto mentes se debatiam na tentativa de encontrar um lampejo de inovação em meio ao mundano e ao mediano.

No prédio, todos pareciam à beira de colapsos mentais, sempre apressados, como se cada segundo fosse decisivo. Tentavam se equilibrar sobre saltos caros, suportando a dor que aumentava a cada hora que passavam com eles nos pés. Dedos ágeis digitavam freneticamente, enquanto suas colunas rígidas e tensionadas sofriam com as longas horas em frente às telas. A pressão era quase palpável, uma corrida interminável em busca de algo sempre fora de alcance, com listas infinitas de tarefas e problemas a resolver.

Nos corredores, algumas pessoas, exaustas, mal disfarçavam o desespero. Lágrimas silenciosas escorriam em cabines de banheiro, enquanto outras apenas encaravam a tela, o rosto vermelho e os nervos à flor da pele. Ao redor, mulheres altas e magérrimas, sempre impecáveis, pareciam desfilar pelos corredores, alheias ao caos das mesas de trabalho. Elas não eram as que passavam horas dobradas sobre planilhas e relatórios.

Em outros andares, homens vestidos de preto corriam com câmeras nas mãos, libertando flashes enquanto os modelos se desdobravam em poses e movimentos coreografados. A energia era caótica, mas vibrante, como se o prédio todo funcionasse em um frenesi constante, onde glamour e exaustão coexistiam lado a lado.

O edifício, altivo e imponente, destacava-se como um dos mais altos da região, marcado por sua arquitetura grandiosa e magnificente. Era a sede da revista "Runway", um dos pilares no mundo da moda, cuja influência transcende o papel impresso, atingindo as bancas de jornais, as telas da Times Square, os pôsteres, as televisões e toda a mídia moderna. A "Runway" estava em todos os lugares, assim como a moda que ela ditava.

No último andar, onde reuniões intensas marcavam o ritmo, na última sala, repleta de amplas janelas, o quadro branco de vidro era incessantemente rabiscado e apagado durante as longas manhãs. Sobre a mesa interminável, papéis organizados por cor e telas se espalhavam, criando um cenário onde tudo estava à vista, pelo menos para aqueles dentro da sala. Durante as prolongadas discussões que transformavam minutos em horas, alguns se levantavam entre o quadro e as telas, enquanto o tempo revelava o ciclo contínuo de pessoas que iam e vinham, em um ritual de sentar e levantar, despejando na mesa aquilo que julgavam ser o novo e o inovador: suas ideias, prontas para o escrutínio dos mais importantes naquela sala fria.

No centro, entre uma extremidade e outra, três cadeiras se destacavam, com uma delas precisamente centralizada em relação à mesa. Ali, uma figura de autoridade, envolta em marcas que refletiam seu gosto, a marca que mais apetecia, era íntima e próxima. Vestida em tons quase negros, suas pernas cobertas por uma saia lápis de tecido grosso, que, embora parecesse simples, revelava uma sofisticação oculta. Seu busto era envolto em um tecido que abraçava seus ombros, quase tão escuro quanto a saia, mas com uma nuance de cor que a diferenciava, buscava o roxo. O pescoço, adornado pelos mais caros acessórios, movia-se quase imperceptivelmente, enquanto sua perna balançava suavemente. Seus olhos, duros e inabaláveis, não perdiam tempo analisando o ambiente ao redor; eram olhos que já sabiam onde pousar, calculados em cada movimento, sem desperdício.

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