Capítulo quatro

248 27 32
                                    

Olá, boa tarde! Espero que estejam bem e que gostem do capítulo de hoje.

Para esse começo de leitura, recomendo ouvir "Love Drought" da Beyoncé.

Uma boa leitura a todos!!
________________________

A água fria envolve sua cabeça, o choque inicial é fugaz, mas o gelo persiste, infiltrando-se lentamente na pele, até alcançar os ossos. Ela inspira profundamente, um último suspiro antes de submergir, mas o ar é raso e pesado, como se estivesse impregnado de uma tensão opressiva. O silêncio sob a água é quase ensurdecedor, interrompido apenas pelo eco distante de seus próprios batimentos, cada um mais lento que o anterior.

Os pensamentos afloram, mas não em ondas. São mais como correntes rasas, vagarosas, se arrastando pela mente. Uma mistura confusa de clareza dolorosa. É como se estivesse presa entre dois mundos: acima, o ar que já não lhe pertence; abaixo, o peso da água que a mantém ancorada.

Ela se sente deslocada, observando seus sentimentos emergirem como pequenas bolhas que escapam à superfície, levando consigo o desespero, a tristeza e a raiva. A cada suspiro contido, uma nova bolha se forma, levando mais um pedaço do que ela não consegue expressar.

A água está cada vez mais fria, penetrando nas frestas de seus pensamentos e congelando qualquer resquício de esperança. Ela deseja lutar, respirar, como se estivesse afundando em um oceano de emoções intermináveis. As batidas da canção ecoam como o pulsar de um coração cansado, mas resistente, o dela, que ainda bate, mesmo que o resto do mundo pareça congelado ao seu redor.

Então, um último suspiro. Não é um grito, não é um pedido de socorro. É apenas a aceitação daquele frio, da falta de ar, da inevitabilidade do que sente. Todas as palavras proferidas naquele momento, como cartas frias e cruéis espalhadas sobre a mesa, como uma semente de discórdia reconhecida, agora são vistas com clareza.

Lauren carrega as lembranças da última noite, imersas em uma água densa e turva sobre sua mente. Cada palavra, até as mais dolorosas, paira sem saber se deve abraçá-las, deixá-las ir ou simplesmente seguir pelo caminho mais tortuoso.

Flashback on.

A tarde, que antes era azul e laranja, transformou-se em uma escuridão imensa. No quarto frio, o silêncio era quase ensurdecedor. Lauren não conseguia ouvir nada além da sua própria respiração, alternando entre batimentos normais e ansiosos. Com o celular nas mãos, mesmo na cama, ela estava longe de relaxar. O tecido perfeito parecia insuficiente, e espinhos inquietantes pareciam se infiltrar em seu corpo, sufocando-a.

A porta se abriu, revelando uma visão mais jovem, uma reminiscência do seu antigo amor. A expressão da visitante não correspondia à imagem que evocava, e seus lábios permaneceram selados, sem proferir uma única palavra. Lauren decidiu esperar, como havia feito durante a noite chuvosa e agora durante o dia.

Após alguns minutos, a porta se abriu novamente, trazendo consigo o aroma de um perfume fresco que inundava o ambiente íntimo. O vapor quente parecia tão intenso que fazia Lauren se sentir sufocada. A mulher do closet, coberta dos pés ao pescoço, fez uma pausa.

— Quando, exatamente, você ia me contar sobre a prisão de Beatrice? Ou isso também não é da minha conta?

Os olhos de Lauren brilhavam com acusações não expressas. Ela avançou com palavras firmes, quase desafiadoras. A outra mulher, imperturbável, mexia no cabelo de maneira defensiva, como se tentasse encontrar um pouco de calma.

— Não quis te preocupar. Você nunca está aqui de qualquer forma. Por que mudaria agora?

A resposta fez com que Lauren se aproximasse mais, seus passos firmes e carregados de ressentimento.

Redescobrir você Onde histórias criam vida. Descubra agora