Capitulo dois

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Oiii, tudo bem com vocês? Espero que sim, e que gostem do capítulo!

Boa leitura a todos!!
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O sol recém-nascido tingia o céu com um azul frio, sua luz pálida se derramando suavemente sobre a cidade. Na rua, o tráfego era esparso, deixando a via quase intocada naquele bairro exclusivo. O canto suave dos pássaros matinais se mesclava com o silêncio de uma parte da cidade que parecia adormecida, como um fragmento de tranquilidade em meio ao turbilhão de concreto e aço. As árvores alinhadas ao longo da rua concediam uma sensação de respiração leve ao ambiente, suas folhas esparsas cobrindo o solo com delicadeza, enquanto a fraca iluminação pública projetava sombras tênues sobre o cenário.

A pesada porta se abriu, revelando o salto estileto carmesim que atravessou o mármore com uma elegância precisa. O movimento contínuo escancarou a entrada, e dois homens passaram carregando malas sobre os ombros, grandes demais para serem arrastadas. Eles subiram as escadas em um ritmo compassado, e o som de seus passos ressoou pelo ambiente amplo. Lauren, de maneira resoluta, girou nos calcanhares, repousando sua grande bolsa sobre o aparador. Com passos tranquilos, avançou até a sala de jantar, vazia, sem qualquer indício de uma refeição preparada. Percorreu os cômodos do andar térreo – salas, cozinha – não como quem busca algo, mas como quem examina um espaço familiar. Seu olhar, aguçado e discreto, vagou pelos ambientes, sem encontrar nada digno de nota. Apenas o som dos homens subindo e descendo, levando e trazendo as malas de couro, ecoava pela casa.

A última mala foi deixada à entrada do quarto principal, sem que os homens pudessem adentrar. Era uma ordem expressa. Aquele espaço era sagrado, reservado para os segredos mais íntimos, para as noites silenciosas e as confidências partilhadas. Nenhum estranho cruzaria aquela soleira.

Lauren, então, começou a subir as escadas, as mãos deslizando pelo corrimão de madeira escura, alisada pelo tempo e pelo toque constante. Ao alcançar o primeiro patamar, o silêncio a envolveu completamente. Não se ouvia o som de carros, protegida que estava pela localização afastada, e até os eletrodomésticos pareciam suspensos em um silêncio cúmplice. Ela avançou pelo corredor, dirigindo-se aos quartos. No primeiro, encontrou uma decoração clássica em tons de cinza e veludo, onde tudo permanecia perfeitamente arrumado. O quarto de Samuel exalava ordem e sobriedade, com almofadas e tecidos alinhados de maneira impecável. As cortinas cerradas mantinham a penumbra no ambiente, mas o que mais chamou sua atenção foi a estante de livros – cada exemplar meticulosamente organizado por cor e tamanho, refletindo uma disciplina quase obsessiva.

No segundo quarto, a mesma elegância estava presente, porém com tons mais suaves. O estilo clássico continuava, mas em nuances infantis de salmão e turquesa claro. As paredes eram adornadas com delicados desenhos de folhas, e em um dos murais, estavam retratados Samuel, Beatrice, Karla, Lauren e ela própria, em traços infantis, com cabeças desproporcionais e corpos delicados. Lauren se deteve, passando os dedos suavemente sobre uma das figuras, como se quisesse capturar um momento da infância retratado ali. Por um instante, sentiu o impulso de levar aquele desenho consigo, mas se conteve. O quarto estava mais iluminado, inundado pelos raios solares que atravessavam as cortinas entreabertas, conferindo ao espaço uma aura cálida e serena.

Diante da última porta do corredor, Lauren parou por um momento, observando o chamativo aviso "não perturbe". Levantou uma sobrancelha, intrigada. Sua mão foi até a maçaneta, mas ao tentar girá-la, não obteve sucesso – estava trancada. Deixou escapar um suspiro leve, posicionando as mãos na cintura, enquanto seus olhos analisavam a imponente madeira à sua frente e o aviso, como se tentasse desvendar o mistério por trás daquela porta fechada.

Decidiu, então, se dirigir ao próprio quarto, descendo as escadas com passos firmes. Suas mãos seguravam o corrimão com força, em busca de estabilidade. O voo, que saíra mais cedo do que o habitual, deixara sua postura desconfortável, e seu corpo ainda sofria os efeitos da viagem. Náuseas persistentes e uma dor de cabeça que nem os remédios conseguiam dissipar a incomodavam, como se o nervosismo associado à grande altitude nunca a abandonasse. Sua mente se enchia de pensamentos inquietos, formulando mil cenários, e o medo, embora irracional, parecia sempre presente. Avião.

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