Capítulo sete

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Demorei um pouco, mas aqui está um capítulo maior que o convencional. Espero que gostem!

Boa leitura!
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O dia amanheceu com uma tranquilidade quase melancólica. O sábado havia chegado, para o desgosto da mulher mais velha, enquanto uma brisa suave serpenteava pela manhã, trazendo consigo a luz pálida e gentil do início do dia. Na sala de jantar, ampla e ecoante, o silêncio era interrompido pela voz incessante e vivaz de Lily, que falava sem parar sobre seus mundos imaginários: pôneis poderosos, festas do chá, ataques de dinossauros. Ela bombardeava Camila com perguntas, às quais a mulher, ainda se recompondo de uma semana desgastante, parecia se preparar mentalmente para responder.

Lily brincava com a comida no prato, balançando as pernas de modo incansável na cadeira infantil, que mal continha sua energia efervescente. O prato dela, uma miscelânea de frutas, ovos mexidos e um pedaço de bacon, era o mais colorido da mesa. Camila, de vez em quando, olhava de soslaio para o prato excessivamente cheio da filha, e uma leve ânsia subia por seu estômago apenas com a visão daquela mistura caótica de alimentos.

— Lily, não fique se mexendo tanto — pediu Camila, em um tom fatigado, observando a agitação da criança.

Lily, porém, continuou a balançar-se de maneira sutil, como se não pudesse, ou não quisesse, conter a energia borbulhante dentro de si. Camila abriu a boca para reclamar novamente, mas algo a fez desistir. Seus ombros estavam tensos, mesmo enquanto se apoiava rigidamente no encosto da cadeira. Seus olhos vagaram, num movimento discreto e cuidadoso, para os lados, capturando o ambiente em silêncios pontuados. Havia uma paz inquietante pairando sobre aquele café da manhã, um raro milagre, pois até Beatrice estava presente e, surpreendentemente, comportada. Mas havia algo no ar que a incomodava, uma sensação de que algum segredo ainda estava por ser revelado. A ausência de brigas pelo pão ou de insultos trocados por debaixo da mesa não trazia conforto; pelo contrário, erguia uma bandeira branca que Camila sabia ser apenas temporária.

— Vocês sabiam que eu sou gay? — perguntou Lily, com a inocência característica da infância, enquanto colocava um pedaço de banana na boca.

A reação foi imediata. Beatrice, que estava tomando um gole de suco, engasgou e cuspiu o líquido em um riso abafado, virando-se em direção a Samuel, que, de olhos fechados, parecia tentar conter uma risada também, mesmo enquanto o suco escorria pelo rosto, molhando sua camisa e a parede atrás de si.

— Excelente! — comentou o garoto, suspirando enquanto usava o guardanapo para se limpar. Apesar do desastre, continuou a comer como se nada tivesse acontecido, sua postura indiferente diante da própria condição molhada.

Beatrice, por outro lado, estava paralisada, os olhos arregalados, incapaz de controlar o riso que ameaçava transbordar. Lily, em seu pequeno mundo, balançava as pernas alegremente, um sorriso inocente estampado no rosto, alheia ao impacto de sua declaração. Camila, impassível, bebeu o último gole de café, tirou o guardanapo do colo e voltou seus olhos para a pequena.

— Você disse que era gay, Lily? — perguntou calmamente, mantendo a voz serena.

— Sim, e daí?

— Que gay agressiva! — riu Beatrice, o riso contido explodindo de vez, enquanto Camila lhe lançava um olhar de advertência.

— Eu só quero entender por que você acha que é gay — continuou Camila, organizando os itens sobre a mesa como se estivessem falando de trivialidades rotineiras.

— Porque eu sou, ué — respondeu Lily com um sorriso despretensioso.

— Certo, mas o que te faz pensar isso?

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