Capitulo onze

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A música é "Ride", de Lana Del Rey. Repitam quantas vezes precisar
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O vento teimava em desordenar sentidos e emoções, esvoaçando mechas perdidas, arrepiando a pele, dissipando a névoa leve de um cigarro aceso. Bagunçava-lhe os cabelos com certa ferocidade, como se quisesse devorar aquele momento de fragilidade. A lua brilhava sem promessas, testemunha solitária sobre a janela onde Camila se debruçava, como alguém que flutuasse entre postes e sombras, mantendo-se suspensa, em uma prece muda, um sussurro secreto com a noite.

Respirando fundo, os pulmões de Camila se expandiam como as asas de uma borboleta recém-liberta. Ela provava o amargor do que já conhecia bem, expelindo o peso, sentindo-se mais leve e mais vulnerável ao mesmo tempo. Seus olhos brilhavam sob a luz da lua, cintilantes, com um toque de dor melancólica; seus dedos, trêmulos, seguravam o cigarro que, a cada tragada, parecia suavizar as dores latentes - ao menos, temporariamente.

O robe caía suavemente sobre seus ombros, quase como um véu lunar, refletindo um brilho prateado contra sua pele bronzeada. Havia uma tristeza antiga em seus cílios semi-encerrados, um azul que permeava o ar ao seu redor, tingindo a cena em tons de nostalgia. Em sua outra mão, uma foto amassada: Lauren, em uma pose descuidada, também debruçada sobre uma janela, apenas uma camisola negra cobrindo-lhe o corpo. Seus cabelos soltos caíam como sombras sobre o rosto, enquanto ela permanecia absorta em seus próprios pensamentos. Era uma foto furtiva, um instante capturado em segredo.

Camila levou o cigarro à boca novamente, sentindo o calor nos lábios, o gosto amargo e adormecedor do que chamava de seu analgésico tirano. Com a mesma mão, passou os dedos pela testa, apoiando-se, como se o próprio peso da saudade fosse demais para suportar. Ela parecia exausta, mas não pelo cansaço físico - era como se toda a dor de momentos não ditos estivesse alojada em cada músculo, em cada suspiro que escapava entre um suspiro e outro.

O som discreto foi ouvido, mas não capturou sua atenção. Era a segunda vez que fingia não ver, mas agora, não havia desculpas. Seus cabelos estavam presos, os compromissos deixados de lado; não restava mais trabalho a ser feito. Pelo canto dos olhos, observou a foto brilhar na tela, como em todas as noites dos últimos anos. Tocava nela, e mesmo em silêncio, aquela imagem parecia perfurar sua alma.

Flashback On

A estrada que liga Los Angeles a Temecula exibia a beleza noturna da Califórnia. Enquanto Camila acelerava, a paisagem transformava-se num quadro de serenidade: vinhedos ondulantes se estendiam em fileiras perfeitas, desaparecendo aos poucos em um rastro distante. O céu, em um tom profundo, refletia o misto de ansiedade e desejo que a impulsionava adiante. A brisa, insistente, invadia o carro pelas janelas abertas, envolvendo-a numa sensação de liberdade, mas também de inquietação, que se misturava à atmosfera azul e enevoada da estrada.

A transição dos limites urbanos para os subúrbios tranquilos era marcada por palmeiras e pequenas cidades, placas envelhecidas que se perdiam na distância. O cheiro da terra úmida e do vento frio cortava o interior do carro, um Mustang roubado de uma campanha publicitária em um momento de puro desespero. As palmeiras, imponentes na escuridão, assemelhavam-se a sentinelas silenciosas, uma visão sombria e sublime.

O motor ronronava como uma sinfonia, acompanhando o sussurro do vento que entrava com um toque de ferocidade. Pequenas pedras atingiam os pneus, sujos de poeira e areia, criando um som quase rítmico que acompanhava o caminho solitário de Camila. Ela dirigia com a sensação de que a estrada era uma extensão de suas próprias emoções, cada curva refletindo suas incertezas e a ansiedade crescente de encontrar Lauren.

Seus cabelos voavam soltos pelo carro vazio; não havia música, apenas o som dos próprios pensamentos e impulsos. Era guiada apenas pelo desejo, torcendo para que o instinto a levasse ao lugar certo. A lua era sua única testemunha, acompanhando-a entre as curvas, a única constante naquela paisagem que ficava para trás.

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