Capitulo oito

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Boa leitura!!
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Os passos sobre a escada eram leves e discretos, quase inaudíveis, enquanto o robe deslizava suavemente pela superfície, harmonizando-se com a melodia noturna que preenchia o ambiente. A luz suave e tênue iluminava a casa, revelando a escuridão que predominava na maioria dos cômodos, exceto na sala, onde um brilho ameno se destacava. A mulher mais velha, com a única missão de repor os líquidos que seu corpo demandava, lutava contra a insônia que a acompanhava.

Ela parou no último degrau e, então, observou. Seus passos a conduziram para o estreito corredor. A casa não exalava um aroma doce; era como um lar recém-inaugurado, desprovido de um cheiro característico que marcasse sua presença. Sua mão, em um gesto apressado, colidiu contra a parede do corredor, evocando a mesma sensação que teve na primeira vez em que pisou ali. Naquele momento, o cheiro reconfortante da casa a envolvia; hoje, no entanto, tudo parecia comum e insípido. Seu braço se ergueu, tocando o pescoço como se tentasse ancorar o peso que sentia, antes de deslizar suavemente de volta à posição inicial.

Camila parou no batente da porta, inclinando a cabeça para um lado, observando o ambiente. Beatrice jogada sobre o grande sofá, despojada e desordenada entre as almofadas, parecia derreter sob seu peso. Um suspiro escapou de seus lábios ao olhar para o relógio na parede, que marcava duas e meia da madrugada. Isso explicava o silêncio opressivo, interrompido apenas pelo estalido dos ossos de seu corpo em movimento.

Ela contemplou, com um olhar atento, o que na realidade era uma jovem adolescente com curvas em desenvolvimento, cujo rosto começava a revelar traços mais maduros. Seus olhos, no entanto, viu uma criança, refletia a inocência de uma criança, com bochechas arredondadas e sonolentas, encolhidas após um dia repleto de brincadeiras e conversas sem fim.

O cheiro sutil de um perfume doce, semelhante ao de sua mãe, Lauren , era delicado, pairava no ar, como ela havia lhe ensinado. Com passos leves, encostou-se à lateral do sofá, parando para pensar no que deveria ser feito. No passado, acordaria com dores nas costas após subir lances de escadas com uma garota que nunca fora tão pequena para caber em seus braços, e, ainda assim, cabia—ainda cabia. Mas hoje, mesmo que sua vontade ou impulso o desejassem, era quase uma mulher e não acordaria sem entender como foi parar em sua cama.

Com um toque suave, alisou os cabelos que caíam em um emaranhado desordenado. Sua essência desejava romper com aquele estado, mas tudo dentro de si se opunha a isso. Sua mão se viu na contramão da sua vontade. Sentia seu corpo quente e a respiração calma sobre os dedos.

— Beatrice — sussurrou, balançando levemente o ombro da garota com a ponta dos dedos. — Beatrice...

A menina, em uma nova surpresa para Camila, apenas se sentou vagarosamente, olhando de um lado a outro com uma expressão cansada, recém-desperta. Não dirigiu o olhar a ela, levantou-se e se dirigiu para a entrada da sala em passos preguiçosos. Uma última vez, olhou para trás, encontrando Camila, que mantinha a mão no ombro, observando-a de maneira contemplativa.

— Durma também. — disse, simples, como se fosse uma despedida.

Camila deixou a mão escorregar para o lado do corpo, entregando-se ao cansaço. As ordens soaram como um eco suave pelo cômodo. Seus dedos, finos e delicados, deslizaram sobre o tecido macio do sofá, enquanto se acomodava, cruzando as pernas e apoiando a cabeça em uma das mãos.

Uma leve respiração a envolvia, enquanto seus pés, há muito tempo não tocando o chão frio, se encontravam com ele de maneira íntima. Seus olhos, sempre curiosos, buscavam compreender e observar tudo aquilo que conhecia há anos. O abajur delicado emitia um calor acolhedor que refletia na parede decorada, iluminando quadros em tons de amarelo suave. Então, seu olhar se deteve em um grande espelho, situado entre duas estantes repletas de livros. Há anos, os livros eram uma boa companhia, mas hoje eram apenas adornos, lembranças de um passado em que ansiosa esperava pela próxima página. Alguns quadros, desenhos de Lily, estavam colados de forma cuidadosa em um canto escondido da parede, confusos, sem que conseguisse identificar ao certo do que se tratavam.

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