Capítulo 11

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SHU KURENAI

Procurei, pelo que parece, a noite toda. Os meninos estavam comigo, por mais que eu insistisse para que eles voltassem e descansassem, eles não deram trégua. Nos sentimos culpados, eu principalmente. Eu a forcei. A forcei a aceitar uma batalha, se não tivéssemos sequer a forçado a sair de casa, nada disso teria acontecido. Não entendo realmente o que aconteceu, mas sem que ela deve ter seus motivos para ter fugido dessa forma. Quando deu 5 da manhã, voltamos para casa, exaustos. Os meninos se acomodaram nos quartos de hóspedes, enquanto eu estava na sala, acordado, a espera de qualquer sinal de Dahaki. Quando eram 7 horas, escutei a porta abrindo e ela atravessando, com um olhar cansado e abatido. Corri até ela, checando todo o seu corpo em busca de ferimentos, mas só senti... cheiro de álcool e cigarro. De novo...

Ela estava soluçando, chorando.

Dahaki — Por que elas não vão embora mais? — Questiona, chorando baixinho. Suspirei e a ajudei a ir até o banheiro do meu quarto.

Shu — Elas quem? — Tirei suas roupas e as minhas, a puxando para de baixo do chuveiro com a água bem gelada.

Dahaki — Ai, tá gelado — Reclama.

Shu — Cura ressaca. Fica quieta Dahaki. — Peguei meu shampoo, sabendo que ela gosta mais do meu do que do dela, e coloco em seu cabelo, esfregando.

Dahaki — Você é melhor cabeleleiro do que blader. — Riu, totalmente bêbada e chapada.

Shu — Me senti ofendido. — Enxaguei seus cabelos, passando o condicionador.

Dahaki — Não sinta. Foi um elogio. — Tomba a cabeça para trás, em um ato claro de aprovação à massagem que estava fazendo em seus cabelos.

Shu — Então obrigado. — Peguei uma esponja, colocando sabonete e lavando seu corpo.

Dahaki — Por que cuida tanto de mim? — questiona, me olhando de cima, acariciando meus cabelos enquanto eu lavava até seus pés.

Shu — Porque te amo, mesmo que não me ame de volta, eu amo você... e por isso te cuido... e zelo por você... — Me levanto, olhando em seus olhos, sentindo a água molhar meus cabelos também.

Dahaki — Como me ama? Eu sou totalmente desestruturada mentalmente, não tenho nenhum controle sobre minhas ações ou pensamentos... você... merece coisa melhor...

Shu — Não diga bobagens, é perfeita para mim. — A puxo para fora do box, secando seus cabelos e seu corpo. — Além disso, a psicóloga avisou que você poderia ter algumas crises de pânico, ainda mais se... suas memórias aparecessem. — A loira abaixa a cabeça, voltando a chorar. — Não chore... ei... — Ela me abraça com força, seu corpo nu e seco, junto ao meu, molhado.

Dahaki — Eu... eu quero meu pai... eu quero a minha mãe... eu quero... quero meu pai... minha... minha mãe. — Ela chora e soluça como uma criança, agarrada em mim. Senti meu coração pesar, ela parecia totalmente desesperada, chorando alto e soluçando.

Não tem nada que eu possa fazer em momentos como esse além de acolhê-la, afinal, não há nada que traga seus pais de volta... nem nada que apague a dor da perda deles. Eu não sei como eu ficaria se meus pais morressem, eles são tudo para mim e Dahaki perdeu os dela, ela não teve a coragem de criar laços novos, se apegando secretamente aos antigos, laços esses que só traziam dor e sofrimento. A carreguei no colo enquanto ela chorava, a levei para a cama e a envolvi em cobertores, Dahaki precisa desse momento, precisa por para fora, sentir a perda, para que não acumule como uma bola de neve, que já causou muitos problemas para ela.
Os meninos escutaram os barulhos, a deixei ali por um instante, me vestindo com um moletom e saindo do quarto para explicar a situação, eles entenderam, ofereceram suporte, mas nem eu podia ajudá-la, ela precisava ficar sozinha. Wakiya ficou poucas horas e foi embora, pois já tinha que voltar ao Japão. Valt e Rantaro foram fazer as malas, pois o vôo deles era de noite. Eu fiquei sentado na porta do quarto, a escutando chorar incansavelmente durante horas, até que parou. Ao entrar, ela estava dormindo. Me aproximei, suspirando e acariciando seu rosto, inchado e molhado, vermelho. Mesmo dormindo, ainda soluçava, com o nariz entupido e a boca úmida. Os cabelos estavam bagunçados, ela nem estava vestida ainda, mas não mudei isso, pois temi que ela acordasse e voltasse a chorar. Precisava de um descanso, tanto ela quanto eu.

Fui até a cozinha, onde encontrei Valt pegando um copo de suco na geladeira.

Shu — Cadê o Rantaro?

Valt — Dormindo. — Disse, virando o copo de uma só vez. — Ela está bem?

Shu — Dormiu de tanto chorar. — Bebi um copo de suco também. — Vocês vão direto para a Espanha?

Valt — Não... conversamos um pouco e decidimos ir no Japão primeiro, passar a última semana antes dos campeonatos de verão. — Confirmei com a cabeça, provavelmente eles se sentiram empáticos com a situação da Dahaki e por isso estão indo visitar os pais. São previsíveis.

Shu — Entendi... vão ir hoje a noite ou amanhã de manhã?

Valt — Hoje, na verdade, decidimos ir antes do almoço, no primeiro vôo para Tóquio. Não se importa, né?

Shu — Pode ir, cara. Boa viagem.

Valt — Obrigado. Melhoras para Dahaki. Vou só tirar um cochilo, depois nós vamos direto para o aeroporto. — Balancei a cabeça novamente, entendendo.

Shu — Boa viagem.

Valt — Obrigado. — Disse, indo para o quarto de hóspedes que ele e o Kiyama estão dividindo.

Voltei para meu quarto, onde Dahaki estava acordada. Me aproximei da cama, sentando-me na beirada, passando a mão por seu rosto grudento, com as lágrimas recém-secas.

Shu — Se sente melhor? — Ela nega com a cabeça, soluçando de olhos marejados.

Dahaki — Por que essa dor não some? É como... se eu estivesse perdendo eles de novo... — As lágrimas quentes rolam de seu rosto, trazendo mais dor à nós dois.

Shu — Isso é o que acontece quando foge... não pode fugir do passado, quanto mais tempo passar fugindo, maior será a sua punição quando ele te achar. Você tem que sofrer agora... para não sofrer mais depois. Vai doer, eu sei que dói, e essa dor não vai embora nunca, você... só vai aprender a conviver com ela. — Acariciei seu rosto, agora novamente molhado de lágrimas. Me deitei com ela, aninhando seu corpo ao meu. Posso não tirar a sua dor, mas ao menos, devo tentar proporcionar algum apoio e conforto físico.

Dahaki — Eu tenho saudades deles... — Confessa, se agarrando ao meu corpo como uma âncora.

Shu — Do que você se lembra... Dahaki? — Acariciei suas costas. Sei que vai me doer ouví-la, mas ela precisa disso.

Dahaki — Lembro da minha mãe lendo para mim e para o Dakota toda noite. Ela brincava de pique esconde conosco de manhã, e fazia biscoitos de tarde para lancharmos. Nós... éramos dois sapequinhas, gostávamos de ficar na horta dela ajudando e ficando sujos de terra. Meu pai, passava as manhães e tardes trabalhando, mas de noite brincava conosco no chão da sala até o horário do jantar. Nos finais de semana, ele jogava conosco. Beyblade. Dakota nunca gostou de jogar, ele odeia jogos, não é do tipo esportivo e preferia ficar com a mamãe na horta, mas eu gostava de ter o papai só pra mim. Lembro... do cheio doce da mamãe quando nos colocava para dormir... e das mãos grandes do meu pai quando ele me erguia do chão me colocando nos ombros dele. Eu... sinto falta... me pergunto como seria se não tivesse os perdido. Eu perdi tudo que eu tinha naquele acidente, e depois também perdi o meu irmão. Por isso eu causei problema, me tornei uma criança problemática, fiz coisas terríveis... eu... só queria que alguém prestasse atenção em mim... — Enfia o rosto no meu moletom, inspirando fundo enquanto soluçava e chorava.

Shu — Agora você me tem... sei que não é a mesma coisa, mas tem alguém agora. Não precisa mais ficar sozinha... ou querer chamar a atenção fazendo coisas estúpidas. Eu vou estar sempre te olhando, independente de como agir. — Seu rosto se afastou da minha roupa, me olhando, com aqueles olhos verdes e vermelhos de tanto chorar.

Ela me beijou. Um beijo simples, singelo, mas que significa muito para ela e para mim.

Dahaki — Obrigada por estar aqui por mim, Shu, de verdade. Você me salvou. — Ela me abraça, soluçando, parando de chorar aos poucos e caindo no sono novamente.

Defina o relacionamento (Short-fic Shu Kurenai)Onde histórias criam vida. Descubra agora