Capítulo 4

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SHU KURENAI

Respirei fundo, parado na frente do que devia ser a sala do clube de artes, me lembrando das palavras de Jake.

“Passe longe daquele clube, é lá que a sua víbora está.”

Ele comentou isso como uma espécie de brincadeira, piada talvez, mas para mim não foi nada senão uma pista de onde poderia encontrar Dahaki Linara. Então, reunindo minha coragem e falta de vergonha na cara, eu entrei no estabelecimento. O sino soando sobre minha cabeça como se fosse uma lanchonete. Vi as costas da loira que vi mais cedo, constatei seu ombro mordido e me aproximei. Ela estava fazendo algo com argila, talvez um vaso. As mãos estavam barrentas e ela murmurou algo como: estamos fechados, sem nem ao menos virar para me olhar. Me aproximei um pouco, hesitante. Eu não esperava realmente encontrá-la aqui, nem mesmo planejei o que dizer. Que idiota.

Shu — Dahaki? — A garota bufou, obviamente irritada e se virou para mim. Tinha olhos azuis e sardas pelo rosto.

Loren — Isso é sério?! É o terceiro ou quarto que vem aqui procurar eu já falei porra, a Dahaki não vem nas SEGUNDAS — Disse irritada, mas assim que me olhou sua irritação sumiu, dando lugar para apenas surpresa. — Você é novato? — Assenti com a cabeça, sem palavras. — Oh, me desculpe. É que eu tenho que repetir a mesma coisa para todos os garotos que vêm aqui segunda procurando por ela e isso é exaustivo, estressante para dizer o mínimo. Espero que diferente dos vadios, você saiba aprender na primeira vez a não ser que seja um deles. — Aquela loirinha de menos de 1,60 de altura parecia muito irritada. Irritada demais para alguém do tamanho dela.

Shu — Certo, desculpe. — Me virei e saí do clube de artes.

Eu acho que não voltarei mais nesse lugar.

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Passaram-se mais de 3 semanas, quase 1 mês que comecei a minha busca por ela. Sem sucesso até hoje. Não tive a sorte de trombar com Linara nos corredores desta universidade enorme e, por mais que eu a procurasse nos intervalos, não encontrei. Não ousei retornar ao clube de artes e não sei ao certo se é por não ter o que dizer ou por medo de ser agredido pela loirinha enfurecida  com que dei o azar de me encontrar na última vez. Já recriei diversos cenários na minha cabeça de como seria quando eu a encontrasse, já pensei nas possibilidades, dos lugares, das falas, em tudo. Essa obsessão não está fazendo bem para a minha cabeça, está me deixando totalmente doido. O pior é que ela nem sabe o efeito que tem sobre mim. Ela nem deve se lembrar que eu existo.

Jake — Ei, Terra chamando, Shu Kurenai. Acorda, moleque! — O ruivinho enfiou o dedo na minha orelha, me assustando e me fazendo me afastar. Jake é realmente um bocudo intrometido que não conhece limites, mas ele é legal.

Dakota — Tava viajando, cara? — Sua risada rouca foi ouvida, eram raros esses momentos de risadas do “Mitch” ou “Koda” como Jake costuma chamar.

No início eu pensava que Jake era um apelido para Jacob, como costuma ser aqui nos Estados Unidos, mas não é. O nome dele é realmente Jake Sullivan. Ele disse que o pai sugeriu Jacob, mas a mãe dele achou cafona demais e registrou como Jake, o que gerou algumas brigas mas foram resolvidas em poucos dias. Dakota não parece se opor aos variados apelidos que Jake o impunha, na verdade, ele é calmo como um elemento neutro, está sempre calado e sem expressar muito a opinião dele em relação a muitas coisas.

Shu — Sobre o que estavam falando? — Tento agora prestar atenção no assunto, sem ficar aéreo como tenho o costume de ficar nos intervalos.

Na verdade, eu não diria aéreo e sim muito focado. Eu foco em tudo ao meu redor, desde as pessoas na fila, os grupos de bullying à distância segura, os góticos estourando bolhas de chiclete ao nosso lado, a luz do canto da cantina piscando pois estava com defeito há uma semana, alguém gritando “Olha a bola!” e então, por puro reflexo, movi meu corpo para o lado, desviando de uma bola de basquete que seria jogada com tudo no meu rosto. Olhei para a bola que foi parar na cabeça de um dos góticos, fazendo-o engasgar com o chiclete irritante.

Defina o relacionamento (Short-fic Shu Kurenai)Onde histórias criam vida. Descubra agora