chapter II

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Ainda sentada ao piano, Taylor fechou os olhos, deixando seus dedos deslizarem suavemente sobre as teclas mais uma vez. Porém, em vez de música, o silêncio persistia, pesado e opressivo. Sua mente vagava, levando-a de volta ao último confronto com Joe, um momento que ainda pulsava em sua memória como uma ferida aberta. A lembrança era tão vívida que ela quase podia sentir a tensão no ar novamente, como se estivesse revivendo cada segundo daquela noite.

23 de dezembro de 2021
A mesma noite
Horas antes


A luz suave do entardecer se filtrava pelas janelas do apartamento, tingindo a sala com tons de dourado e laranja, criando uma atmosfera tranquila que contrastava violentamente com a tensão crescente entre Taylor e Joe. Eles estavam de pé, frente a frente, em lados opostos da sala, como se a distância física refletisse o abismo emocional que agora os separava.

- Eu não entendo, Taylor! - Joe exclamou, sua voz alta e cortante, o rosto vermelho de frustração. - Como você espera que isso funcione se você nunca está aqui? Como vamos construir um futuro juntos quando você está mais preocupada com álbuns, com turnês, com fãs, com tudo menos nós?

Taylor, parada junto ao sofá, com os braços cruzados, sentiu um nó se formar na garganta, mas se recusou a deixar as lágrimas virem à tona. Estava cansada de chorar. Cansada de tentar explicar o que parecia impossível de entender para Joe. Ele sempre fora seu porto seguro, o homem que a fazia sentir-se compreendida em meio ao caos de sua vida pública. Mas, nos últimos meses, aquele homem parecia desaparecer um pouco mais a cada dia, substituído por alguém que só via falhas, só via distância.

- Você acha que é assim tão fácil? - Taylor retrucou, a voz carregada de mágoa, mas contida, controlada. - Acha que eu não sinto a pressão? Que eu não quero estar aqui com você? Mas eu tenho uma carreira, Joe. Tenho responsabilidades, coisas que você sabia desde o começo que faziam parte da minha vida!

Joe balançou a cabeça, exasperado, como se já tivesse ouvido aquelas palavras centenas de vezes - e talvez tivesse.

- Sempre a mesma desculpa. Sempre a carreira, sempre a música! - Ele deu um passo à frente, os olhos brilhando de raiva e, talvez, de uma profunda tristeza que ele não conseguia expressar de outra maneira. - Mas e eu, Taylor? E nós? Onde nós entramos nessa sua equação? Ou será que sou só mais uma parte da sua narrativa, mais uma história para você colocar em uma música?

As palavras atingiram Taylor como um soco no estômago. Ela ficou imóvel por um momento, sentindo o impacto da acusação dele ressoar em sua mente. Cada vez mais, parecia que Joe via a relação deles como uma espécie de fardo, como se ele fosse apenas mais um detalhe secundário em sua vida - e aquilo doía de um jeito que ela não sabia como processar.

- Como você pode dizer isso? - Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma vulnerabilidade que ela lutava para manter escondida. - Eu sempre estive ao seu lado, sempre tentei equilibrar as coisas. Você sabia no que estava se metendo quando começamos isso, Joe. E eu pensei que você me amava por quem eu sou, pela artista, pela pessoa. Mas agora... parece que nada do que eu faço é suficiente.

Joe deu uma risada amarga, como se aquelas palavras fossem um clichê repetido à exaustão.

- Talvez o problema seja que você está mais apaixonada pela ideia de estar sozinha do que por mim. Parece que sua vida só funciona quando você tem algo para lutar, para sentir falta, para transformar em música! Eu estou cansado de ser o cara que você usa somente para escrever seus álbuns! Cansado de ser um coadjuvante na sua história!

Taylor piscou, as lágrimas finalmente ameaçando cair, mas ela as conteve com força. Estava exausta, e a cada palavra de Joe, sentia-se mais desgastada, como se estivesse perdendo uma batalha que nem sabia que havia começado. Ela abriu a boca para responder, mas Joe continuou, sua voz agora cortante.

- Olha, eu sei que sua carreira é importante, que sua música é você. Mas você não consegue separar uma coisa da outra. Está sempre lidando com algo, sempre escrevendo sobre alguém, sobre o que te feriu ou o que te faz feliz, mas nunca é nós. Nunca sou eu.

Taylor deu um passo para trás, como se estivesse se afastando de um golpe invisível. Ela sabia que havia verdade nas palavras de Joe, mas também sabia que ele estava distorcendo a realidade, jogando a culpa de seus próprios sentimentos não resolvidos sobre ela.

- Isso não é justo - ela finalmente conseguiu dizer, sua voz trêmula. - Eu nunca quis que você se sentisse assim. Eu pensei que nós estávamos juntos nisso, que você entendia o que significa para mim. Que você fazia- faz parte de mim. Mas parece que estou sendo punida por ser quem sou, por seguir o meu caminho.

Joe passou as mãos pelos cabelos, frustrado, andando de um lado para o outro pela sala, antes de parar de repente, olhando para ela com uma intensidade que Taylor não reconhecia.

- Sabe o que eu acho? - Ele disse, a voz agora baixa, mas perigosa. - Acho que você não sabe mais quem você é sem sua música. Acho que perdeu de vista o que significa ser você fora dos palcos. E talvez seja por isso que não conseguimos mais nos entender.

Taylor ficou paralisada por um momento, as palavras dele girando em sua cabeça. O silêncio entre eles era ensurdecedor, preenchido apenas pelo som distante da chuva começando a cair lá fora. Ela não sabia o que dizer. Tudo o que conseguia sentir era uma dor profunda, uma sensação de que o chão estava se abrindo sob seus pés.

- Se é isso que você realmente pensa - ela disse, sua voz baixa, quebrada -, então não sei mais o que estamos fazendo aqui.

Por um segundo, Joe pareceu hesitar, como se estivesse considerando dar um passo para trás, tentar resolver as coisas. Mas então, o momento passou, e a expressão no rosto dele se fechou, fria.

- Talvez eu também não saiba mais, Taylor.

Aquelas foram as últimas palavras dele antes de sair da sala, deixando-a sozinha, cercada pelo silêncio, pela chuva e por sua própria dor. Taylor ficou de pé por um longo tempo, olhando para a porta que Joe acabara de fechar. O som da chuva lá fora era agora a única coisa que a acompanhava, um lembrete amargo da solidão que se instalava no lugar do que antes havia sido amor.

I KNOW PLACES | TayVis FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora