Capítulo XXVIII

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A mais entusiasmada com a chegada do bébé era Rosa.   Começou logo a projectar casaquinhos e botinhas de lã.

- Avó!  Já não tem idade para essas coisas.   Agora compra-se tudo feito.

- Se há uma coisa que eu ainda tenho bom é  a vista e as mãos.  Pelo menos um conjuntinho eu quero deixar de recordação ao meu bisneto.
Bisneto!  Nunca eu sonhei chegar a ter esta alegria.   Que Deus me deixe conhdcê-lo, é só o que peço.

- Vai conhecer este e os outros que hão-de vir. - disse Rodolffo ligeiro.

- Deves achar que sou eterna.  Eu já vivi a minha parte.  Depois desta alegria me ser concedida, estou pronta para o que vier.

Os meses foram passando e Juliette já tinha uma barriga bem visível.

Irene vaticinava que era menino e Rosa, menina tal como Rodolffo.  Juliette não tinha opinião.   Ia aguardar o próximo ultrassom porque no primeiro não deu para ver.

Rodolffo queria sempre participar nas compras do enxoval, mas Juliette ficava desesperada pois se ela deixasse ele comprava tudo.

- Amor, já tem pijamas que chegue. Não é preciso muita coisa porque os bébés crescem e logo a roupa deixa de servir.

- Olha, mas este ursinho pode?  E este?  Esta coisa aqui para coçar as gengivas, isto pode?

- Rodolffo,  o teu filho ainda não nasceu e não vai ter dentes tão cedo.

- Tem este carro telecomandado para eu brincar com ele.

- O melhor é comprar já um computador,  um telefone e os livros para a faculdade.

- Sério amor?  Ah, Ju estás a mangar.

- Claro que estou.  Para a próxima venho sózinha.   Vais encher a casa de coisas que não vou usar e depois tenho que doar.  Vamos ser racionais e comprar só o essencial, está bem?

-  Está bem. - disse ele fazendo bico.

- Desfaz esse bico já!

- Só se deres beijinho.

Tudo isto se desenrolava no interior da loja de artigos de bébé e com a atendente do nosso lado que apenas ria.

- A menina desculpe, mas o meu marido não tem jeito.

- Vocês são o casal mais simpático e fofo que eu já atendi.

- E o mais chato também.  Estamos aqui há horas.

- Não.   Estejam à vontade.  De certeza que esse bébé vai ser muito amado.

- Isso vai mesmo.  Já é.

Por fim terminaram as compras e ainda receberam de oferta da loja uma mantinha para o berço.

Agradecidos,  saíram cheios de sacolas e agora Juliette só queria comer.

- Estou faminta.  Fazer compras deixa-me com fome.

- Ju,  eu vou colocar as sacolas no carro e já venho ter contigo para irmos ao andar de cima comer.

- Vai lá que eu vou subindo e já vou escolhendo para mim.

- Podes escolher igual para os dois.

- Sério?  Arriscas?

- Melhor não.   Ultimamente só comes coisas esquisitas.   Eu escolho depois.

Quando ele voltou ela já tinha pedido.

- Ele pediu esparguete à carbonara e ela sorriu porque também tinha pedido o mesmo.

- Só o esparguete mesmo?

- Sim.  Com pickles, azeitonas e um filé de peixe barrado com manteiga de amendoim.

- Haja fome para comer essa mixórdia.

- Não me peças um bocadinho que eu não divido a mixórdia contigo.

- Nem quero.  Fico bem só com o meu.

Os dois pratos chegaram perante o olhar desconfiado do garçon que estava até com receio de entregar tão estranho prato.

- É para a minha esposa.  Desejos de grávida.

Ele sorriu, entregou o prato a Ju e foi  embora.

Eu fiz um carinho no rosto dela enquanto a via devorar a comida e por fim regressámos a casa muito felizes.

Coração MalvadoOnde histórias criam vida. Descubra agora