Capítulo XIX

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O dia custou a passar.  Eu estava muito ansioso e fui para a entrada da faculdade meia hora antes do combinado.

Do local onde estacionei, tinha completa visão do portão da entrada e saída da Universidade.

Às 18 horas começaram a sair alguns alunos e eu saí do carro e fiquei encostado nele.

Juliette apareceu radiosa como sempre.  Vinha a conversar com alguns colegas e assim que me viu despediu-se e caminhou na minha direcção.

Abri a porta para ela entrar depois de nos cumprimentarmos só com um olá.

- Como foram as aulas? - falei tentando quebrar o gelo.

- Muito bem.  Semana que vem entramos de férias e por isso termina o meu estágio também.

- Vais deixar de ir trabalhar?

- Sim. Era apenas um estágio.

- Mas gostas de estar lá?  Queres continuar?

- Gosto.  E o dinheiro faz-me jeito.

- Onde queres ir?

- Qualquer lugar sossegado.

Rodolffo conduziu até à entrada de um hotel o que deixou Juliette com dúvidas.

- Calma!  No último andar tem um terraço óptimo para conversar, tomar uma bebida e apreciar a paisagem.

Subiram de elevador em absoluto silêncio e quando chegaram Juliette estava deslumbrada com o local.

- Aqui é mesmo muito lindo.

- Eu sei.  E muito sossegado.

Rodolffo pediu um whisky e Juliette um coquetail de frutos sem àlcool.  Sentaram-se a um canto.  Àquela hora não havia muita gente.  Rodolffo já ali tinha estado algumas vezes e sabia que o pico de clientela era à noite.

Estavam de frente um para o outro e Rodolffo foi o primeiro a falar.

- Juliette!  Sei que o nosso começo não foi bom e quero pedir perdão por todas as vezes que fui desagradável aqui e ainda lá na Finlândia.

Eu vinha de um período difícil que não soube administrar e não me importava como e quem eu magoava.   Estava muito revoltado, não que isso justifique as minhas acções,  mas não tem como eu camuflar o que fiz.

Eu acho-te uma mulher incrível pelo pouco que eu conheci e quero muito ser teu amigo.  Espero de coração que me possas perdoar e que hoje seja o começo de uma grande amizade.

Agradeço também tudo o que tens feito pela minha avó.  Eu sei do afecto que ela sente por ti e isso só me faz sentir pior por te ter maltratado.

A minha família tinha problemas, os meus pais tinham questões com a minha avó que até hoje não sei quais eram porque o meu pai quando resolveu partir proibiu toda a gente de tocar no nome da mãe.  Eu era adolescente e não fui contra a vontade dele.  Só muitos anos depois e acho que foi por conta da doença é que ele voltou a falar com ela.

Nos últimos anos falavam muito um com o outro, mas não tiveram tempo de fazer a verdadeira reconciliação. Eu regressei porque foi a última vontade do meu pai.  Pediu-me no seu leito de morte que eu viesse cumprir o papel dele e amparar a mãe até ao último dia.

A princípio eu relutei, mas a minha vida estava um farrapo e vi no regresso uma chance de mudar.  Eu estava magoado e não poupei esforços em magoar outros.  Por tudo isso eu peço perdão mais uma e as vezes que forem necessárias.

Juliette de lágrimas nos olhos, até então mantinha o olhar baixo, olhou para Rodolffo que também chorava.

Ele secou as lágrimas dela com a ponta dos dedos e segurou sua mão.

Coração MalvadoOnde histórias criam vida. Descubra agora