O dia custou a passar. Eu estava muito ansioso e fui para a entrada da faculdade meia hora antes do combinado.
Do local onde estacionei, tinha completa visão do portão da entrada e saída da Universidade.
Às 18 horas começaram a sair alguns alunos e eu saí do carro e fiquei encostado nele.
Juliette apareceu radiosa como sempre. Vinha a conversar com alguns colegas e assim que me viu despediu-se e caminhou na minha direcção.
Abri a porta para ela entrar depois de nos cumprimentarmos só com um olá.
- Como foram as aulas? - falei tentando quebrar o gelo.
- Muito bem. Semana que vem entramos de férias e por isso termina o meu estágio também.
- Vais deixar de ir trabalhar?
- Sim. Era apenas um estágio.
- Mas gostas de estar lá? Queres continuar?
- Gosto. E o dinheiro faz-me jeito.
- Onde queres ir?
- Qualquer lugar sossegado.
Rodolffo conduziu até à entrada de um hotel o que deixou Juliette com dúvidas.
- Calma! No último andar tem um terraço óptimo para conversar, tomar uma bebida e apreciar a paisagem.
Subiram de elevador em absoluto silêncio e quando chegaram Juliette estava deslumbrada com o local.
- Aqui é mesmo muito lindo.
- Eu sei. E muito sossegado.
Rodolffo pediu um whisky e Juliette um coquetail de frutos sem àlcool. Sentaram-se a um canto. Àquela hora não havia muita gente. Rodolffo já ali tinha estado algumas vezes e sabia que o pico de clientela era à noite.
Estavam de frente um para o outro e Rodolffo foi o primeiro a falar.
- Juliette! Sei que o nosso começo não foi bom e quero pedir perdão por todas as vezes que fui desagradável aqui e ainda lá na Finlândia.
Eu vinha de um período difícil que não soube administrar e não me importava como e quem eu magoava. Estava muito revoltado, não que isso justifique as minhas acções, mas não tem como eu camuflar o que fiz.
Eu acho-te uma mulher incrível pelo pouco que eu conheci e quero muito ser teu amigo. Espero de coração que me possas perdoar e que hoje seja o começo de uma grande amizade.
Agradeço também tudo o que tens feito pela minha avó. Eu sei do afecto que ela sente por ti e isso só me faz sentir pior por te ter maltratado.
A minha família tinha problemas, os meus pais tinham questões com a minha avó que até hoje não sei quais eram porque o meu pai quando resolveu partir proibiu toda a gente de tocar no nome da mãe. Eu era adolescente e não fui contra a vontade dele. Só muitos anos depois e acho que foi por conta da doença é que ele voltou a falar com ela.
Nos últimos anos falavam muito um com o outro, mas não tiveram tempo de fazer a verdadeira reconciliação. Eu regressei porque foi a última vontade do meu pai. Pediu-me no seu leito de morte que eu viesse cumprir o papel dele e amparar a mãe até ao último dia.
A princípio eu relutei, mas a minha vida estava um farrapo e vi no regresso uma chance de mudar. Eu estava magoado e não poupei esforços em magoar outros. Por tudo isso eu peço perdão mais uma e as vezes que forem necessárias.
Juliette de lágrimas nos olhos, até então mantinha o olhar baixo, olhou para Rodolffo que também chorava.
Ele secou as lágrimas dela com a ponta dos dedos e segurou sua mão.
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Coração Malvado
FanficNão te feches ao amor. Não resistas. Deixa que a natureza haja no tempo certo.