Capítulo IX

70 11 9
                                    

À  hora de almoço como todos os dias Juliette chegou do trabalho.
Encontrou Rosa sózinha e reparou nos olhos encarnados do choro

- Que foi essa choradeira?

- O meu neto chegou.  Ju, o meu filho e a minha nora faleceram. - ela falou e as lágrimas surgiram de novo.

Juliette não falou.  Apenas a abraçou e afagou os seus cabelos.  - Agora descansaram e não sofrem mais.

- Eu gostava de os ter visto uma última vez.

- Foi vontade de Deus que assim fosse.  O seu neto está bem?

- Sim.  Diz que veio para ficar comigo.  Juliette,  precisamos conversar sobre os quartos.  Será que te importas de dormir no meu quarto e ceder o teu a ele?

- Não me importo nada e agora que já tem companhia eu posso arranjar outro sítio para morar e não incomodar.

- Sim.  Eu vim para estar com a minha avó para sempre. - falou Rodolffo entrando na sala.

- Boa tarde para si também.  Seja bem vindo.

Rodolffo olhou Juliette de alto a baixo e revirou os olhos.

- Boa tarde.  Avó, podemos almoçar?  Estou morto de fome e depois preciso dormir.

- Vamos sim.  Juliette,  senta-te.

- Não  dona Rosa.  Estou sem fome.  Hoje teve festa lá no trabalho e tinha comida.  Vou preparar as coisas para ir para as aulas.

Juliette subiu furiosa e começou a juntar as suas roupas e os artigos de higiene do banheiro.  Colocou as roupas e o resto num canto do quarto de Rosa, desfez a cama e verificou se não deixava nada ali.  Fez uma faxina ligeira e abriu as janelas para arejar tudo.

Tomou um duche rápido no banheiro de Rosa, vestiu uma calça jeans clara e blusa preta, soltou os cabelos, pegou nos livros e desceu.

- Estou indo, dona Rosa.  Já libertei e limpei o quarto do doutor.  Quando voltar arrumo as minhas coisas.  Até logo.

- Até logo Ju.  De certeza não queres comer nada?

- Não,  obrigada.  Pode fazer-me mal.

Assim que ela saiu, Rosa falou:

- Ela está aborrecida com alguma coisa.  Nunca recusa comida.

- Parece ser uma patricinha mimada e de nariz empinado.  Como veio parar aqui?

- É uma longa história.  - Rosa contou como a Ju tinha surgido na sua vida e como a ajudou depois.

- Uma história comovente, mas será verdadeira?

- Meu neto!  Eu vi o corpo dela marcado pelo cinto.

- Mas será que foi o pai?  Pode bem ter sido um namorado, um parceiro, um relacionamento que deu errado.

- Eu acredito no que ela contou e pela vida que leva sei que não tem ninguém.

- Não falemos dela.  Vamos lá acima para eu arrumar as minhas coisas.

Subiram os dois e constataram o que Juliette disse.  Fizeram a cama com lençóis lavados e Rodolffo colocou a sua roupa no roupeiro.  Levou os artigos de higiene para o banheiro que estava bem cheiroso.

Rosa observava o neto e estava num misto de alegria por tê-lo consigo, mas com muita dúvida.   Ele parecia ser uma pessoa fria, indiferente a sentimentos.   Não gostou que ele tivesse ignorado Juliette e não sabia a razão. 
Em vez de perguntar a ele decidiu que primeiro ia falar com ela.  Aquilo não era de hoje.  Ela sabia que eles falaram algumas vezes por telefone e talvez fosse daí.
Ia esperar, mas ia descobrir o porquê.



Coração MalvadoOnde histórias criam vida. Descubra agora