Duas Linhagens

9 - Incompatíveis

Dessa vez não demorei tanto, vocês são ansiosos e eu sou mais ainda. 

O capítulo está sem um pingo de revisão, se tiver erros vou corrigir depois.

Espero que gostem. 

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"Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele."

- Jean de La Fontaine

Narrador

Há um mês o grupo de forasteiros chegou ao Reino Noturno, governado pela impiedosa Rainha Samanun Anuntrakul. Exatamente trinta e dois dias desde que notícia das mortes suspeitas se espalhou até alcançar a segunda espécie de vampiros, o que acarretou no encontro das duas linhagens. Um trabalho que não só trouxe descobertas para as duas raças, mas também se mostrou difícil para o pequeno grupo que agora repensa suas decisões ao terem aceitado a tarefa de encontrar o culpado da tal desordem.

Já fizeram muito mais em menos tempo, mas encontrar uma raça desconhecida de criaturas semelhantes não estava nos planos.

O acordo que antes parecia o melhor caminho, agora é um empecilho para as duas líderes que não conseguem agir normalmente perto uma da outra. Tentando ir de encontro com seus ideais e o que as tornam individualmente o que são, as duas decidiram seguir um caminho diferente do que concordaram. Elas se evitam em todos os momentos possíveis, desde o quase beijo nos degraus da casa da Rainha. Aquele momento em especifico foi o marco que separou o trabalho em equipe das que deveriam ser a rocha que segura as pontas de um acordo produtivo.

Para o resto dos integrantes dos grupos, o afastamento se dá pela falta de compatibilidade entre as líderes. Eles não se importam tanto, desde que o acordo permaneça, já entenderam que suas amigas são incapazes de ter um convívio minimamente decente. Mas para elas, é a recente descoberta de desejo reprimido que as impede de fazer um bom trabalho. Separadas, as coisas são mais claras, elas conseguem pensar sem barreiras. Juntas, um caos de proporções inimagináveis acontece, fazendo com que acreditem que precisam de contato para satisfazer seus impulsos.

Querem evitar seus desejos ao invés de ceder a eles.

Se parassem para pensar ao invés de ignorar os sinais, entenderiam que esse desejo repentino não é efeito colateral de nada além do que seus corpos necessitam. Mas preferem acreditar que a insanidade chegou para elas, tudo para não admitir que a novidade de algo nunca antes experimentado em seus longos anos de vida finalmente bateu à porta. A realidade é dura para quem se recusa a aceitar o óbvio. São quebradas demais para acreditar em qualquer coisa que não seja o que estão acostumadas.

O que elas não sabem, é que esse afastamento só faz com que a tensão cresça. E quando esse tipo de tensão começa mutuamente e deixa de ser saciada, pode se tornar uma bomba prestes a explodir. Existe um motivo para que elas tenham se encontrado e não dá para evitar o reger da natureza. Não se pode fugir do destino. O fascínio pelos olhos dourados, o cheiro marcado nos ossos do lobo e os sonhos compartilhados não são um simples acaso, aquilo precisava acontecer.

Por milênios, ambas as linhagens não se conheciam e, nesse século em específico, essas espécies cruzaram o caminho uma da outra, mesmo que de maneira pouco convencional. A híbrida e a Rainha não tenham noção do que está acontecendo, mas uma criatura começou a entender no momento em que falou com sua cria. A natureza não é feita de acasos. E evitar o reger da natureza é o mesmo que desarmar um bomba sem ter preparo para tal serviço. Os estilhaços da explosão podem gerar um estrago que durará pela eternidade.

Apesar de se evitarem a todo custo, ainda tentam trabalhar em conjunto nas poucas vezes em que são questionadas pelos seus amigos. As reuniões rápidas tem sido suficientes para tratar os assuntos necessários, mas nenhum segundo a mais perto uma da outra foi compartilhado. Enquanto a híbrida se mantém hospedada no hotel ou reclusa na floresta, a Rainha não exige que ela retorne para os seus cuidados. A distância foi a única maneira que encontraram para lidar com o caos que se instalou em suas mentes.