Duas Linhagens

7 - Primeira Pista

Dessa vez demorei mais que o normal, eu admito. Mas espero conseguir compensar com os detalhes. Esse capítulo está cheio deles.

A revisão foi rápida, se tiver muitos erros me avisem que volto para corrigir.

Espero que gostem.

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Samanun Anuntrakul point of view

Sempre gostei da solidão, me ajuda a organizar tudo o que está bagunçado em mim e em minha vida. É a melhor maneira de se estar completamente focado quando se tem um objetivo ou trabalho a cumprir, sem que outras pessoas possam atrapalhar sua linha de raciocínio. E toda a minha vida está um caos nesse momento. Tão turbulenta e caótica que me faz sentir falta de estar sozinha para resolver pelo menos uma parte do que está acontecendo.

A solidão é um privilégio do qual não estou habituada a não ter, mesmo que ela tenha sido imposta em minha vida antes que eu tivesse a capacidade necessária para me cuidar sozinha. Cresci com meus pais, é claro, mas não os tinha como figuras presentes na maior parte do tempo. Minha infância foi horrível e cheia de questões que nenhuma criança deveria enfrentar. Aos quinze fui expulsa de casa sem nenhum motivo plausível e minha mãe era submissa ao ponto de não ter forças para lutar por suas vontades.

E não a culpei, sua vida já era difícil demais para receber mais culpa.

Estava acostumada a fazer tudo por mim mesma e me tornei uma mulher independente antes de atingir a maioridade. Estudei, trabalhei e construí um futuro promissor, até meu pai aparecer com a proposta de retorno ao lar desproporcional em que vivíamos. Recusei obviamente. Não precisava dele, muito menos de seu dinheiro que vinha de um trabalho extremamente duvidoso e ilegal. A primeira retaliação foi ver todas as portas se fechando pelo caminho que demorei para conseguir estabelecer.

Isso me fez mudar, passei a perseguir todos os seus passos, estudar seus movimentos e investigar sua carreira. Precisava me livrar de sua insistência, das consequências que seu legado estava deixando em cada passo da minha vida. E foi investigando seus crimes que entrei no ramo de assassina de aluguel. Conheci outros, me aliei a eles e passei a trabalhar como a agente do caos, destruindo todos que se envolveram com seus negócios sujos. Não foi uma ideia pensada, agi por impulso no começo e acabei me afundando.

Fiquei estranhamente boa nisso, de um jeito que nunca imaginei que seria. O dinheiro não era importante, mas fiz bom uso para ampliar meu negócio. Uma carreira dentro da legalidade já estava fora de cogitação no segundo em decidi seguir por esse caminho. Ironicamente, me tornei pior que o homem que me criou. E mesmo que isso fosse o contrário de tudo o que queria para a minha vida, depois que se entra em um trabalho como esse é difícil sair.

Quando me dei por mim, minhas mãos já estavam tão sujas quanto as dele. Matava qualquer homem que julgava ser ruim, em sua maioria eram tão asquerosos que me fazia acreditar estar fazendo a coisa certa. Aos vinte e dois anos, não tinha ninguém melhor que eu para o trabalho. Me tornei temida, procurada e eficiente em não ser encontrada. Nem mesmo meu pai tinha coragem de me enfrentar e, por um tempo, deixou de tentar me arrastar para os seus planos. Na verdade, nunca soube o motivo para me querer de volta.

Embora seu sumiço tivesse um claro objetivo, não imaginei que era para retaliar minhas ações. Não o temia e fui tola em acreditar que estava livre. Se ele não podia me ter em suas garras, então sua escolha foi me punir. Tanto por me recusar a voltar, quanto por falir seu império bilionário. Toda ação tem uma reação, geralmente acontece antes do que imaginamos, mas meu pai esperou pacientemente para se vingar de mim. E me puniu da maneira mais cruel que existe, dois anos depois de perder tudo, ao matar minha mãe a sangue frio e deixar seu corpo aos pedaços em minha casa com um bilhete dizendo que finalmente estávamos quites.