Capítulo 5

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Victoria pov.

A vida tem uma maneira cruel de nos testar, e o meu teste foi uma tragédia que ainda ecoa na minha alma. O acidente que tirou minha família de mim não foi apenas um evento devastador; foi o marco de um novo e sombrio capítulo da minha vida, um buraco sem fundo que eu não sabia como preencher. A casa, que deveria ser um refúgio de segurança e calor, transformou-se em um labirinto de solidão. Cada cômodo vazio parecia amplificar o vazio em meu coração, e cada risada passada se tornava um eco doloroso na minha mente.

Eu me afundei na dor, na introspecção e na solidão. O mundo exterior parecia um lugar distante e inatingível, enquanto eu me encolhia na segurança ilusória das paredes da mansão que se tornara minha prisão invisível. O simples ato de sair de casa se tornou um desafio monumental, e minha rotina se restringiu a uma série de gestos automáticos que eu repetia sem pensar. Minha vida havia se tornado uma bolha de tristeza, onde cada dia era um reflexo do anterior, e a interação com o mundo se limitava às necessidades básicas.

Nos dias mais difíceis, quando o peso da minha dor parecia insuportável, eu procurava algo, qualquer coisa, que pudesse me oferecer um pouco de alívio. Foi então que descobri um refúgio inesperado em uma fonte de consolo muito peculiar: assistir aos jogos de vôlei. Meu olhar caiu sobre uma jogadora do Brasil, a camisa 15, Carolana. O que começou como uma distração ocasional se transformou em um ritual quase sagrado. Cada movimento dela na quadra era um lembrete de que havia algo além da dor e da solidão, uma chama de esperança que brilhava em meio à escuridão.

Foi com uma sensação de encantamento quase infantil que eu comecei a acompanhar a trajetória de Carolana mais de perto. Então, um ato  surpreendente, ela deixou um bolo na varanda da minha casa. Era uma simples torta, mas para mim, foi um gesto monumental. O bolo estava envolto em um delicado papel, com um bilhete que dizia: "Espero que isso traga um pouco de doçura aos seus dias. Carolana." Ao ver o bolo, eu senti uma onda de gratidão e emoção que quase me fez chorar. Era como se ela tivesse trazido um pedaço de sua própria luz para iluminar os meus dias sombrios.. Começamos a trocar correspondências regularmente, e cada carta era uma nova fonte de alegria e esperança para mim.

A felicidade que sentia ao receber essas cartas era indescritível. A escrita de Carolana era como uma janela para um mundo mais brilhante, um mundo no qual eu estava lentamente aprendendo a me reintegrar. Suas palavras carregavam uma sinceridade que me tocava profundamente e me ajudava a enfrentar o vazio que eu carregava dentro de mim.

Após seis meses de troca de cartas e três meses de mensagens, o primeiro encontro no quintal foi um alívio refrescante da solidão que eu carregava. A casa, que antes parecia tão vazia e desolada, ganhou vida com a presença de Carolana. Conversas, risos espontâneos e uma conexão genuína preencheram o ambiente, e por um breve momento, eu me senti verdadeiramente viva novamente.

O segundo encontro foi uma noite de filmes na minha mansão. Carolana trouxe uma seleção especial de filmes e uma quantidade generosa de comida. Sentadas no sofá, envoltas em cobertores, compartilhamos risos e comentários sobre os filmes. Pela primeira vez em muito tempo, a dor parecia um pouco mais distante, substituída por uma sensação de alegria e camaradagem. Aquela noite foi um lembrete de que, mesmo em meio à tragédia, ainda havia espaço para a amizade e a felicidade.

Quando chegou o momento de nos despedirmos, a emoção era palpável. Eu puxei ela para um abraço, um abraço que carregava a profundidade de todos os meses de cartas e conversas por mensagens. Foi um abraço que falava de gratidão e de um vínculo que havia se fortalecido de maneiras que palavras nunca poderiam capturar completamente. A sensação de ter alguém que compreendia e compartilhava a dor, e ao mesmo tempo, oferecia alegria e esperança, era indescritível.

Sua presença me deu a coragem e o impulso necessários para começar a reconstruir minha vida, um dia de cada vez. Ao me afastar daquele abraço, eu sentia uma renovada determinação para enfrentar o futuro.

A garota da janela - CarolanaOnde histórias criam vida. Descubra agora