Sob o Mesmo Céu

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Kai continuou observando Eleanor em silêncio, como se estivesse tentando decifrar suas intenções. A resposta dela ecoava em sua mente de maneira estranha, provocando nele algo que ele não sentia há muito tempo: curiosidade. Ele se aproximou um pouco, ainda mantendo certa distância, seus olhos presos nos dela.

— Não costuma andar com o pessoal do Fúria da Estrada, certo? — disse ele, quebrando a tensão.

Eleanor manteve o olhar firme e apenas deu de ombros. — Não sou muito fã de grupos. A estrada é minha companheira.

Kai não pôde deixar de notar como ela parecia à vontade com sua moto, como se fossem uma extensão um do outro. Havia uma liberdade em Eleanor que ele não via em ninguém mais — uma liberdade que ele próprio havia perdido há muito tempo, quando se deixou levar pelas disputas e pela responsabilidade de liderar o clube.

Antes que pudesse responder, o som de outra moto ecoou pela estrada distante. Kai imediatamente reconheceu o som: era Tom, seu rival. A chegada dele sempre trazia uma atmosfera de tensão. Kai não queria que aquele encontro inesperado com Eleanor fosse interrompido por um confronto.

— Precisamos sair daqui — ele disse de repente, pegando seu capacete e ligando a moto. — Não é seguro.

Eleanor arqueou uma sobrancelha, intrigada, mas a expressão séria de Kai fez com que ela não questionasse. Ela sabia sobre as rivalidades entre os grupos, e não estava interessada em se meter no meio de uma briga. Com um aceno silencioso, ela colocou o capacete e seguiu Kai pela estrada, deixando a colina para trás.

Enquanto aceleravam juntos pela estrada escura, Eleanor sentiu algo diferente. Não era o tipo de liberdade solitária que costumava sentir ao pilotar sozinha. Era uma sensação estranha de conexão, como se o silêncio entre eles dissesse mais do que palavras. Kai, à frente, também sentia algo novo, algo que ele não podia ignorar — a presença de alguém que, assim como ele, encontrava na estrada um refúgio para a alma.

O ronco da moto de Tom logo foi ficando para trás, e eles finalmente desaceleraram em uma parte mais tranquila da estrada. Kai estacionou primeiro, ainda pensativo, e logo Eleanor parou ao lado dele.

— Por que está fugindo? — ela perguntou, tirando o capacete e encarando Kai diretamente.

Kai hesitou. Era raro alguém o questionar daquela forma, mas havia algo em Eleanor que o fazia querer ser honesto, mesmo que não admitisse em voz alta.

— Eu não estava fugindo. — Ele olhou para o asfalto sob seus pés antes de levantar o olhar para ela. — Só não queria problemas.

Eleanor assentiu lentamente, como se estivesse avaliando a resposta, mas também parecia entender mais do que ele imaginava.

— Não sou parte disso. — Ela falou calmamente, seus olhos cravados nos de Kai. — Estou apenas na minha própria jornada.

Kai sentiu uma pontada de algo indefinido dentro dele. Ele queria acreditar nisso, mas algo dizia que, depois daquela noite, seus caminhos estavam mais entrelaçados do que qualquer um deles gostaria de admitir.

Entre Estradas e CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora