Confronto à Luz dos Faróis

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A tensão entre Kai e Tom era quase sufocante, enquanto as duas facções de motoqueiros se encaravam na estrada deserta. A única luz vinha dos faróis das motos, lançando sombras longas e distorcidas sobre o asfalto. Kai sabia que aquele momento decidiria o futuro do Fúria da Estrada e, talvez, sua própria vida. Ele não tinha planejado que as coisas chegassem tão longe, mas agora não havia mais volta.

— E então, Kai? — Tom provocou, com um sorriso arrogante, seus homens armados ao lado dele. — Vai continuar fingindo que ainda tem o controle? Ou vai fazer o que deveria ter feito desde o começo e se render?

Kai sentiu o peso das palavras de Tom. Ele poderia tentar negociar, mas sabia que, com Tom, não havia mais espaço para diálogo. O ódio e a sede de poder haviam consumido o homem que ele um dia chamou de irmão. Agora, Tom não via limites para o que faria para alcançar seus objetivos.

— O controle nunca foi só meu, Tom — Kai disse, sua voz calma, mas firme. — Era de todos nós. E você escolheu trair isso.

Tom riu, um som áspero e frio. — Eu traí? — Ele deu alguns passos à frente, ficando mais próximo de Kai. — Eu só vi o que você se recusava a enxergar: que o clube precisa de poder, precisa de alguém com coragem para fazer o que for necessário. Você sempre foi fraco, Kai. Sempre tentando ser o líder justo, o cara bom. E veja onde isso nos levou. Divididos.

— E você acha que armas e acordos sujos vão nos levar a algum lugar melhor? — Kai questionou, erguendo uma sobrancelha. — Isso só vai destruir o que o clube sempre foi.

Tom fechou a cara, o sorriso desaparecendo. — O clube já está morto, Kai. O que você vê agora é o que sobrou, e eu vou reconstruí-lo, com ou sem você.

Antes que Kai pudesse responder, um dos homens de Tom sacou uma arma. Jack, ao lado de Kai, reagiu rápido, levantando sua própria arma e apontando para o homem.

— Não vamos começar isso, Tom — disse Jack, sua voz dura. — Não vai acabar bem para nenhum de nós.

O clima ficou ainda mais tenso. Era uma questão de segundos até que alguém tomasse a decisão que transformaria aquele confronto em um massacre.

Kai, sentindo o perigo aumentar, respirou fundo e deu um passo à frente. Ele ergueu as mãos, tentando acalmar a situação antes que saísse de controle.

— Ainda temos uma chance de resolver isso sem derramamento de sangue — Kai disse, olhando diretamente nos olhos de Tom. — A gente encerra isso aqui, agora. Você sai dessa estrada, desiste desse acordo, e cada um segue seu caminho. O Fúria da Estrada não precisa ser destruído por sua ambição.

Tom olhou para Kai por um longo momento, como se estivesse avaliando a oferta. Mas logo, um sorriso perverso se formou em seus lábios.

— Você realmente acredita nisso, não é? — Tom riu. — Que pode simplesmente dizer algumas palavras e tudo vai se resolver. Mas o que você não entende, Kai, é que eu não quero paz. Eu quero o controle. Eu quero o poder que você nunca teve coragem de buscar.

Com um movimento rápido, Tom sinalizou para seus homens, e o primeiro tiro foi disparado.

O som do disparo ecoou pela estrada, e tudo aconteceu em um piscar de olhos. Kai se jogou para o lado, enquanto Jack revidava o tiro, criando um caos imediato. As motos guincharam enquanto os dois grupos se moviam rapidamente, buscando cobertura atrás dos veículos.

Kai rolou pelo chão, sentindo o impacto dos tiros ricocheteando ao seu redor. Ele não queria que as coisas chegassem àquele ponto, mas agora não havia escolha. Eles precisavam lutar.

— Jack, cuidado! — Kai gritou, vendo Jack se proteger atrás de uma moto.

Os homens de Tom disparavam sem hesitar, e o tiroteio encheu a noite com um som ensurdecedor. Kai, tentando se recompor, sacou sua própria arma, sabendo que sua prioridade era proteger seus homens.

Tom, do outro lado da estrada, também estava em movimento. Ele parecia implacável, liderando seus homens com uma confiança que só alguém cegado pelo poder poderia ter. A escuridão da noite e as luzes piscantes dos faróis faziam o cenário parecer uma batalha fantasmagórica, onde cada erro poderia ser fatal.

Kai conseguiu se mover até um ponto mais seguro, ao lado de Jack, que mantinha a calma apesar da intensidade do combate.

— Precisamos recuar! — Jack gritou, sobre o barulho dos tiros. — Eles estão em maior número, e essas armas pesadas vão nos engolir!

Kai sabia que Jack estava certo. Eles não estavam preparados para um confronto tão violento e direto. Mas recuar agora poderia significar a perda definitiva do controle sobre o clube. Ele sentia o peso de cada decisão sobre seus ombros.

Antes que Kai pudesse tomar uma decisão, o som de mais motos se aproximando cortou o ar. Ele virou a cabeça para ver, por um instante, a figura inconfundível de Eleanor surgindo na estrada, acompanhada de outros motociclistas. Não era uma visão que ele esperava, mas também não poderia ser mais bem-vinda.

Eleanor e seu grupo entraram na batalha com velocidade, desviando das balas e avançando contra os homens de Tom. O reforço inesperado criou uma distração, o suficiente para Kai e seus homens reorganizarem suas posições.

Kai se levantou, correndo em direção a Eleanor, que havia parado sua moto em um ponto estratégico.

— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, surpreso e aliviado ao mesmo tempo.

Eleanor deu de ombros, com um sorriso de quem já sabia a resposta antes mesmo de ser questionada. — Não posso deixar você se divertir sozinho, pode? — Ela então apontou para Tom. — Ele está prestes a ser encurralado. Vai ser agora ou nunca, Kai.

Kai olhou para Tom, que agora parecia estar percebendo que havia perdido o controle da situação. Seus homens estavam sendo pressionados, e o próprio Tom se viu encurralado entre os membros do Fúria da Estrada e o grupo de Eleanor. O sorriso arrogante desaparecera, substituído por uma expressão de pura raiva.

— Tom! — Kai gritou, avançando em direção a ele, mesmo com os tiros ainda ecoando ao redor. — Acabou!

Tom, furioso, ergueu sua arma e apontou diretamente para Kai. Tudo parecia acontecer em câmera lenta. Kai viu o brilho da arma nos faróis e ouviu o estalo da bala sendo disparada. Mas antes que o tiro pudesse atingi-lo, Eleanor entrou em cena, derrubando Tom com um golpe preciso.

A arma de Tom caiu ao chão com um som metálico, e ele, atordoado, tentou se levantar. Mas antes que pudesse reagir, Kai estava sobre ele, segurando-o pelo colarinho.

— Você acabou com isso! — Kai rosnou, segurando Tom com força. — Isso não é mais sobre o clube. É sobre você e sua ambição doentia.

Tom tentou lutar, mas estava exausto. Seus homens já haviam sido neutralizados ou recuado, e a batalha que ele começara com tanto desejo de poder agora estava perdida.

— Eu nunca me renderei a você — Tom murmurou, cuspindo sangue no chão.

Kai, com raiva e tristeza em seus olhos, o soltou, deixando-o cair no asfalto.

— Você não precisa. Mas não tem mais lugar entre nós. Está acabado.

O confronto chegou ao fim, deixando apenas o eco dos motores que aos poucos foram silenciando. Kai olhou ao redor, vendo seus homens, exaustos mas inteiros, e os de Tom, rendidos ou dispersos.

Eleanor se aproximou, a respiração pesada, mas com um sorriso no rosto.

— Parece que você conseguiu, afinal.

Kai, ainda ofegante, sorriu de volta. — Consegui, mas graças a você.

Eleanor riu suavemente. — A estrada nos levou ao mesmo lugar de novo, Kai. Acho que ela sabe o que faz.

Com o fim do confronto, o destino do Fúria da Estrada estava garantido, mas as cicatrizes da batalha permaneceriam por muito tempo. Kai sabia que ainda havia muito a ser feito, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia que o clube poderia, enfim, voltar a seguir em frente.

Entre Estradas e CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora