Caminhos Solitários

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Kai freou sua moto no alto de uma colina, de onde podia ver a cidade distante, um conjunto de luzes pálidas no meio da escuridão. Ele se inclinou sobre o tanque da moto, observando o vazio à sua frente, mas sua mente não estava ali. Pensava nas corridas que viriam e nas disputas que inevitavelmente teriam início com Tom. Seu rival estava se tornando uma sombra constante, e Kai sabia que ele não pararia até conseguir o que queria.

Mas havia algo mais naquela noite. Algo que incomodava Kai, algo que ele não conseguia nomear. A liberdade que costumava sentir nas estradas parecia cada vez mais distante, quase inalcançável. Talvez, no fundo, ele soubesse que não podia correr da vida para sempre.

Ao longe, o som de uma moto cortando o silêncio o fez sair de seus pensamentos. Não era um som conhecido, não era de alguém do clube. O motor tinha um ritmo suave, quase musical, diferente dos ruídos agressivos que estava acostumado. Quem quer que fosse, estava chegando perto, mas sem pressa, como se apreciasse o caminho.

Eleanor, por outro lado, dirigia sem destino naquela noite. O farol de sua moto iluminava as curvas suaves da estrada, e o som constante do motor era a única companhia que ela precisava. Havia algo especial em pilotar sob o céu aberto, com as estrelas brilhando acima e o vento fresco em seu rosto. Era o único momento em que ela se sentia verdadeiramente conectada com o mundo, longe das expectativas dos outros.

Ela não sabia para onde estava indo, mas também não se importava. A estrada era o seu escape, um refúgio onde nada parecia importar além do agora.

Então, quando chegou ao topo da colina, avistou outra moto estacionada. De imediato, reconheceu o símbolo pintado no tanque: Fúria da Estrada. Eleanor já havia cruzado com alguns dos membros do grupo, mas sempre evitava se envolver. Eles eram conhecidos por sua competitividade, e isso nunca a atraiu.

Kai sentiu a presença de Eleanor antes mesmo de vê-la. O som suave do motor se aproximando fez com que ele se levantasse da moto e olhasse para trás. Seus olhos se estreitaram ao ver a moto se aproximar. Não era uma das deles. Ele não sabia quem era, mas o modo como a pessoa pilotava mostrava que ela tinha controle.

Quando Eleanor estacionou a poucos metros de Kai, eles ficaram em silêncio por um momento, apenas o ronco suave do motor preenchendo o espaço entre eles. O olhar de Kai, normalmente fechado, era agora uma mistura de curiosidade e desconfiança. Eleanor, por outro lado, manteve-se serena, sua expressão tão impenetrável quanto a noite ao redor.

Aquela noite, que começara como qualquer outra, estava prestes a mudar.

Entre Estradas e CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora