Ventos de Mudança

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O som da moto de Tom já havia sumido há muito tempo, mas o peso de sua presença ainda pairava sobre a estrada. Kai olhou para Eleanor por um momento, seus pensamentos ainda em conflito. Ele nunca quis envolver ninguém em seus problemas, muito menos alguém como ela — uma estranha, mas que já mexia com algo dentro dele que ele não conseguia nomear.

— Desculpe por isso — Kai quebrou o silêncio, passando a mão pelo cabelo, visivelmente desconfortável. — Não era pra você estar no meio disso.

Eleanor, tranquila, voltou a encará-lo. — Você não tem que se desculpar. Eu escolhi estar aqui.

A resposta dela pegou Kai de surpresa. Poucas pessoas eram tão diretas com ele. A maioria preferia manter distância de seus conflitos, mas Eleanor parecia não se abalar. Havia algo nela — uma confiança tranquila que ele admirava, embora não quisesse admitir.

— Tom é um problema que vou resolver. Sozinho. — Ele hesitou antes de continuar. — Não quero que você se envolva nisso.

Eleanor inclinou a cabeça, analisando Kai. Ela já havia conhecido muitos motoqueiros ao longo da vida, mas ele era diferente. Não era só o líder frio e calculista que mostrava aos outros. Havia uma profundidade nele, algo que Eleanor sentia que ele escondia.

— Parece que você está sempre carregando o peso de tudo sozinho — ela comentou, seu tom casual, mas observador. — Já pensou em não fazer isso?

Kai riu de leve, mas sem humor. — A estrada é solitária, Eleanor. Você sabe disso.

Ela assentiu, mas havia algo nos olhos dela que o fez perceber que, para ela, a solidão era uma escolha, não uma imposição. Eleanor subiu na moto novamente, pronta para continuar seu caminho, mas algo a fez hesitar.

— Se precisar de uma rota de fuga... — Ela disse, ligando o motor. — Estou por aí. Mas não espere que eu fique parada assistindo. — Com um último olhar, ela acelerou suavemente, desaparecendo na estrada como uma sombra.

Kai ficou parado, observando enquanto as luzes da moto de Eleanor desapareciam na distância. Ele não sabia o que pensar. Ela era diferente de qualquer pessoa que ele já havia conhecido. E agora, sua presença o fazia questionar muito mais do que o conflito com Tom. Por um momento, ele se perguntou se o destino tinha algo mais reservado para ele além de brigas e corridas.

De volta ao esconderijo do Fúria da Estrada, a tensão aumentava entre os membros do clube. Os rumores sobre a possível tomada de poder por Tom estavam se espalhando, e Kai sabia que tinha pouco tempo antes que a situação saísse de controle. Ele precisaria agir rápido, mas as coisas estavam complicadas. Tom estava ganhando influência dentro do clube, e havia olhares desconfiados por todos os lados.

Kai não conseguia tirar Eleanor da cabeça. Aquela noite, ao invés de planejar o próximo movimento contra Tom, ele se viu pensando nela — na maneira como ela pilotava com tanta confiança, no jeito calmo como ela lidava com tudo. Ele sabia que ela seria um alvo se continuasse se envolvendo com ele, mas ao mesmo tempo, havia algo nela que ele não conseguia afastar.

No dia seguinte, a tensão chegou ao limite. Enquanto Kai se preparava para uma reunião com os membros mais antigos do clube, ele recebeu uma mensagem curta, mas direta:

"Nos encontramos esta noite. Resolve isso, ou eu resolvo por você. — Tom."

Era o ultimato. Tom queria forçar um confronto, e Kai sabia que não poderia evitar. A pergunta era: estaria ele preparado para as consequências, especialmente com Eleanor agora tão próxima desse turbilhão?

Com o sol se pondo, Kai pegou seu capacete e partiu em direção ao local combinado. Ele sabia que seria uma longa noite, mas dessa vez, não estava certo de que sairia dela como o mesmo homem.

Entre Estradas e CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora