Acordos Quebrados

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Os dias que se seguiram à conversa com Eleanor foram tumultuados. A tensão no Fúria da Estrada aumentava a cada nova pista de que Tom estava se preparando para algo maior. Os membros do clube começaram a se dividir entre aqueles que estavam dispostos a confrontá-lo e aqueles que preferiam evitar um confronto direto.

Kai, sempre focado em manter a unidade, sentia o peso dessas decisões. Sentado na sede do clube, ele olhava para o mapa da região em uma velha mesa de madeira, pensando nas rotas que Tom poderia estar usando para movimentar armas e recrutar mais gente. O som dos motores lá fora era constante, mas a inquietação no ar era palpável.

Jack entrou na sala com passos firmes, como se já soubesse o que precisava ser dito. Ele se aproximou de Kai e jogou um envelope na mesa. Estava amarrotado, como se tivesse passado por várias mãos antes de chegar até ali.

— O que é isso? — Kai perguntou, erguendo uma sobrancelha.

— Informação. — Jack respondeu, cruzando os braços. — Chegou de um dos caras que a gente mantém de olho nas gangues rivais. Parece que Tom está fazendo acordos com o pessoal de fora da cidade, possivelmente traficantes de armas.

Kai abriu o envelope e puxou um papel que continha um local e uma data. Seu coração disparou ao perceber que o encontro estava marcado para aquela mesma semana.

— Ele vai tentar expandir rápido — Kai disse, sua voz grave. — Se Tom estiver mesmo fechando acordos com traficantes, isso não é só uma briga de clube. Vai atrair a atenção da polícia e dos federais.

Jack assentiu, a preocupação visível no rosto. — E se ele conseguir, estaremos todos envolvidos, quer a gente queira ou não.

Kai sabia que eles estavam em um ponto crítico. Não havia mais como esperar que o problema desaparecesse sozinho. Ele precisava agir, e rápido. Reuniu os membros mais confiáveis e marcara uma reunião para aquela noite. Não seria apenas uma discussão sobre o futuro do Fúria da Estrada, mas uma estratégia para impedir que Tom destruísse tudo o que construíram.

A reunião no galpão foi tensa. Cerca de vinte membros se reuniram em torno da mesa central, todos com expressões sérias. Kai se levantou, olhando para o grupo. Alguns estavam visivelmente preocupados com o rumo que as coisas tomavam, mas todos sabiam que precisavam estar prontos para o que viesse.

— Temos informações confiáveis de que Tom está negociando com traficantes de armas — Kai começou, direto ao ponto. — Isso significa que, se ele continuar, vai nos arrastar para uma guerra que não é nossa. E eu não vou deixar isso acontecer.

Alguns murmúrios surgiram entre os presentes, mas ninguém se manifestou abertamente. Jack tomou a palavra.

— Kai está certo. Se Tom continuar com isso, não vai demorar até que a polícia comece a nos investigar. E, quando isso acontecer, estaremos todos ferrados, mesmo que não tenhamos feito nada. Precisamos impedir esses acordos antes que seja tarde.

Um dos membros mais novos, Dylan, ergueu a mão. — E como vamos fazer isso? Se Tom está se armando, a última coisa que queremos é uma briga aberta com eles.

Kai olhou para Dylan com seriedade. — Não precisamos entrar em guerra. Ainda temos a vantagem do terreno. Conhecemos as rotas, os contatos. Podemos interceptar Tom antes que ele conclua o negócio. E faremos isso sem chamar atenção.

Dylan assentiu, mas a dúvida ainda estava em seu rosto. Outros membros começaram a sussurrar entre si, enquanto Kai esperava que a proposta fosse absorvida.

— E se falharmos? — perguntou um dos veteranos, Jonas. — E se ele já estiver com os traficantes do lado dele? Podemos estar caminhando direto para uma armadilha.

— Eu não estou pedindo para vocês correrem riscos à toa — Kai respondeu. — Mas se não agirmos agora, Tom vai destruir tudo o que temos. E, nesse ponto, não se trata apenas de proteger o clube. É sobre proteger as nossas vidas e nossa liberdade.

O silêncio se seguiu, pesado e carregado de tensão. Todos sabiam o que estava em jogo. Finalmente, Jack quebrou o silêncio.

— Eu tô com o Kai. Não vamos deixar Tom nos arrastar para o inferno. Se precisarmos parar ele, faremos isso agora. Quem está com a gente?

Um a um, os membros começaram a concordar. Mesmo aqueles que estavam receosos sabiam que não podiam ficar de braços cruzados. Eles estavam em uma encruzilhada, e qualquer passo em falso poderia ser fatal.

Na noite seguinte, o plano foi colocado em ação. Kai e alguns dos melhores pilotos do clube se posicionaram ao longo de uma estrada deserta, perto de onde Tom planejava fechar o acordo. A escuridão era densa, e as únicas luzes vinham dos faróis das motos escondidas entre as árvores. O silêncio era quebrado apenas pelo ocasional barulho de insetos e o vento soprando pela estrada.

Kai, com o olhar fixo na entrada da estrada, sentia a tensão nos ossos. Ele sabia que aquela noite poderia mudar tudo. Se interceptassem Tom com sucesso, o clube voltaria a ter controle. Se falhassem, as consequências seriam imprevisíveis.

De repente, o som de motores se aproximando ecoou na distância. Kai fez sinal para que os outros ficassem prontos. Era a hora.

Vários faróis apareceram no horizonte, e logo ficou claro que Tom não estava sozinho. Pelo menos quatro veículos — motos e uma caminhonete — vinham com ele. Kai podia ver Tom na frente do grupo, liderando a escolta.

— Lá estão eles — murmurou Jack ao lado de Kai. — Você tem certeza disso?

— Não temos escolha — Kai respondeu, já decidido.

No momento certo, Kai deu o sinal, e os membros do Fúria da Estrada saíram de seus esconderijos, bloqueando a estrada. As motos de Tom pararam abruptamente, e o silêncio momentâneo que se seguiu foi como a calmaria antes da tempestade.

— Kai! — Tom gritou, descerndo de sua moto. — O que pensa que está fazendo?

Kai desceu da sua moto e caminhou até o centro da estrada, a tensão entre eles quase palpável.

— Acabou, Tom — disse Kai, sua voz firme. — Eu não vou deixar você arrastar o clube para o caos. Esses acordos que você está fazendo? Eles vão destruir tudo o que construímos.

Tom riu, um som áspero e cheio de desprezo. — Você realmente acha que pode me parar? Já estou muito além do que você pode controlar, Kai. A única coisa que está no meu caminho agora... é você.

O clima pesou. A ameaça estava clara. Se Kai não recuasse, Tom estava pronto para usar força. E, com os homens armados ao seu lado, as chances não pareciam estar a favor do Fúria da Estrada.

Kai respirou fundo, sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. Naquela estrada deserta, sob a luz fraca dos faróis, ele sabia que aquele era o momento em que tudo mudaria.

Mas ele também sabia que, independente do resultado, não podia recuar agora.

Entre Estradas e CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora