11 - Ecos do Passado

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Henri havia passado os últimos meses imerso no trabalho em Gorean, tentando manter-se ocupado e afastar os pensamentos que o perturbavam. Contudo, a sombra de Joanne não deixava sua mente em paz. Ele evitava relacionamentos, focando inteiramente em suas responsabilidades no reino, mas o pensamento dela persistia, uma presença constante que o distraía em momentos de quietude. O vínculo mágico que haviam compartilhado, mesmo por um breve período, parecia ter deixado uma marca indelével nele.

Em setembro, a situação em Gorean começava a piorar visivelmente. A terra, que já dava sinais de desgaste, agora parecia estar morrendo lentamente. A preocupação com o estado do reino se tornava um fardo pesado que Henri, junto com outros bruxos e feiticeiras, precisava carregar.

— Pode ser alguma praga? — perguntou uma das bruxas, sua voz marcada por um tom de preocupação, ao relatar a situação nas aldeias.

— Não é uma praga — respondeu outra bruxa, mais velha e experiente, com um olhar sombrio. — Gorean está morrendo. Sem uma Suprema, este reino não vai sobreviver. Precisamos encontrá-la.

— O Senhor Gainer tentou e não a encontrou. Se ele não conseguiu, nós também não teremos mais sucesso — observou uma terceira bruxa, o desânimo evidente em sua voz.

— Então só nos resta sucumbir junto com este reino. Nesse ritmo, talvez não demore nem cinco anos — disse a bruxa mais jovem, sua voz carregada de resignação.

Henri estava ali, presente fisicamente, mas sua mente vagava longe. Ele refletia sobre Joanne e o vínculo inexplicável que continuava a perturbá-lo. As vozes ao seu redor se misturavam em um murmúrio distante até que uma das bruxas o chamou, interrompendo seus pensamentos.

— Henri? Você escutou algo do que eu disse?

Ele piscou algumas vezes, como se estivesse despertando de um sonho profundo. — Me desculpe. Parece que estou desatento este mês.

A bruxa o olhou com preocupação e uma pitada de frustração. — Este mês? Estamos em setembro. Você tem estado assim desde que voltou há cinco meses. O que está acontecendo com você? Você costumava ser mais focado.

Henri hesitou por um momento, mas sabia que esconder o que sentia não ajudaria. — É a Joanne... não consigo parar de pensar nela desde que compartilhamos um vínculo mágico.

A revelação causou um silêncio momentâneo na sala. Uma das bruxas, mais velha e sábia, arregalou os olhos. — Você teve um vínculo mágico com uma humana? Isso não acontece há milênios.

— Eu sei. E, desde então, não consigo tirá-la da minha cabeça. Não durmo direito, não consigo comer e me falta concentração no trabalho. — Henri admitiu, sua voz cheia de frustração e cansaço.

A bruxa mais jovem sorriu, um pouco cínica. — Você transou com ela? Isso se resolve facilmente depois de algumas noites.

— Ela é virgem. Eu não ia tirar a honra dela só para depois desaparecer. Isso é errado — Henri respondeu com firmeza, seu tom deixando claro que a ideia lhe era abominável.

A bruxa deu de ombros, como se isso não fosse tão importante. — Então vá resolver isso. Afinal, Gorean está morrendo, e você poderia viver tranquilamente no mundo mortal.

Essas palavras ecoaram na mente de Henri. — Morrendo? O que quer dizer? — ele questionou, alarmado.

A bruxa mais velha respondeu, sua voz grave. — Desde que você voltou, a podridão que assolava nossas terras tem progredido rapidamente. Muitas pessoas perderam lavouras e os animais estão morrendo.

Henri franziu o cenho, processando as informações. — Isso não deveria acontecer, já que o príncipe está esperando outro herdeiro. Tenho certeza de que desta vez é uma menina.

— O bebê é um menino. Ele nasceu esta madrugada — corrigiu a bruxa, seu tom sombrio. — Só têm nascido meninos nos últimos três anos. E sabemos que a Suprema só nasce no sangue dos Craine.

A preocupação tomou conta de Henri. — Então ela ainda está lá fora, em algum lugar. A única mulher que eu nunca testei foi a Joanne. Nunca vi necessidade por conta da idade dela.

— Você não acha que ela seja a princesa, né? — perguntou a bruxa, surpresa.

Henri suspirou profundamente. — Não sei. Vou me encontrar com Joanne novamente e convencê-la a fazer um teste sanguíneo.

Henri se retirou da reunião, suas mãos trêmulas enquanto preparava suas malas. Ele sabia que teria que lidar com o inesperado, tanto na corte quanto em seu próprio coração. O peso da incerteza de Gorean e de seus sentimentos por Joanne o deixava dividido.

***

Longe dali, em um mundo que Henri não podia alcançar, Joanne passava seus dias em seu ateliê. As paredes estavam cobertas de pinturas que ela mal conseguia terminar, seu coração pesado com a dor de uma ausência inexplicável. Cada pincelada em uma nova tela era um reflexo de seu sofrimento, mas ela não podia deixar de pintar. Pintar era a única maneira que conhecia de tentar processar o vazio deixado por Henri e pela súbita perda de Bella, sua gata desaparecida.

Naquele momento, ela trabalhava em um retrato de Henri. Seus dedos tocavam a tela com uma mistura de ternura e tristeza, e seus lábios murmuravam palavras de saudade que não ousava admitir em voz alta. A imagem dele, com seus olhos profundos e expressão distante, parecia olhar para ela, questionando silenciosamente o que havia acontecido.

Uma de suas alunas entrou no estúdio, interrompendo seus pensamentos. A jovem olhou para a tela e sorriu curiosa. — Quem é? Ele é um gato? — perguntou a aluna.

Joanne forçou um sorriso, mas a dor em seus olhos era clara. — Ninguém importante — respondeu, a tristeza escapando por entre suas palavras, que soaram mais vazias do que pretendia.

À medida que a noite se aproximava, Joanne pedalou de volta para casa, seu corpo cansado e sua mente em um torpor emocional. Em um ponto não muito distante dali, Henri, encoberto pelas sombras, observava o prédio de Joanne. Ele a viu chegar, sua postura abatida revelando o peso emocional que carregava. A distância entre eles não era apenas física, mas também emocional e mágica, e ele sentia isso em cada gesto cansado que ela fazia.

Ele se acomodou em um banco próximo, mantendo os olhos fixos na varanda onde Joanne apareceu. Ela acendeu a luz brevemente, como se estivesse verificando algo, e depois apagou, indicando que se preparava para dormir. Henri notou a expressão de desamparo no rosto dela através da janela. Uma mistura de preocupação e tristeza o atingiu profundamente.

Enquanto Joanne se deitava, uma lágrima rolou por seu rosto. Ela pegou os remédios para dormir, buscando algum alívio para a dor emocional que parecia crescer dentro dela a cada dia que passava. A tristeza era um manto que a cobria completamente, e a ausência de Bella, sua gata desaparecida, junto com a distância de Henri, a colocava em um estado constante de melancolia e solidão.

Henri, ainda escondido na escuridão, sentiu o peso da situação tornar-se quase insuportável. Ele precisava encontrar uma maneira de resolver esse dilema, tanto pelo futuro de Gorean quanto pelo bem de Joanne. Convencê-la a fazer um teste sanguíneo não seria fácil, especialmente quando ela estava tão mergulhada na dor e na solidão. Ele sabia que a resposta poderia estar com ela, mas como abordá-la sem piorar a situação?

Com a mente cheia de perguntas e o coração dividido entre dever e desejo, Henri se preparou para enfrentar esse desafio com a esperança de restaurar tanto o reino quanto sua própria paz de espírito. Ele sabia que os próximos passos seriam cruciais e que cada movimento teria consequências profundas, tanto para ele quanto para Joanne, e, possivelmente, para o destino de Gorean.

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⏰ Última atualização: Sep 11 ⏰

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Poção da Bruxa - O Despertar da SupremaOnde histórias criam vida. Descubra agora