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A música alta ecoava pela boate, mas Julia mal notava

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A música alta ecoava pela boate, mas Julia mal notava. Cada passo que dava em direção ao bar parecia pesar toneladas, e seu coração batia rápido no peito. Ainda se sentia confusa, perdida entre os próprios pensamentos e as emoções que a dominaram desde a noite em que conhecera Luiza. O que mais a assustava não era o que aconteceu, mas o que ainda não conseguia entender sobre si mesma.

Ao entrar no salão, os olhos de Julia procuraram automaticamente por Luiza. A boate estava cheia, como sempre, mas, como um farol na tempestade, Luiza estava sentada em uma mesa no canto, de cabeça baixa, concentrada no celular. O brilho suave das luzes coloridas refletia em seus cabelos, criando uma imagem quase hipnótica.

Julia respirou fundo e caminhou até ela, sentindo cada batida do coração ressoar em seus ouvidos. Quando se aproximou o suficiente, Luiza levantou o olhar, surpresa, mas logo um sorriso suave apareceu em seus lábios.

— Julia? — Luiza disse, colocando o celular de lado. — Não esperava te ver aqui tão cedo.

Julia mal conseguiu responder, sentindo um nó na garganta. Sentou-se à frente de Luiza, sem saber por onde começar. Após um momento de silêncio, ela finalmente sussurrou:

— A gente precisa conversar.

Luiza franziu a testa levemente, mas manteve sua expressão calma e acolhedora.

— Claro, o que está acontecendo?

Julia apertou as mãos no colo, sentindo o nervosismo aumentar. As palavras pareciam presas, mas ela sabia que precisava dizer algo. Precisava se abrir, mesmo que ainda não soubesse como lidar com aquilo.

— Eu… — Julia começou, respirando fundo, encarando as mãos. — Eu não sei o que você fez comigo. Você me deixou… tão confusa.

Luiza arqueou as sobrancelhas, mas não interrompeu, apenas assentiu, dando a Julia o tempo que precisava.

— Eu nunca senti atração por mulher antes. Isso nunca foi uma questão para mim, entende? — Julia continuou, agora encarando Luiza nos olhos, sentindo seu rosto esquentar. — E agora… eu não sei mais o que pensar. Eu não sei quem eu sou. E isso me assusta.

Luiza manteve o olhar firme, mas cheio de compreensão.

— Eu não vou mentir, Julia. Essas coisas podem ser confusas no começo. Mas você não precisa ter medo de quem você é ou do que está sentindo. Não tem nada de errado nisso.

— Não é só isso… — Julia desviou o olhar, mordendo o lábio. — A mídia… o que eles fariam se soubessem? Minha carreira, minha imagem… Eu tenho medo de tudo isso desmoronar.

Luiza inclinou-se um pouco para frente, colocando a mão sobre a de Julia.

— Eu entendo o seu medo, mas a vida é muito curta para viver tentando agradar todo mundo. Você tem que se perguntar o que te faz feliz. O que te faz sentir completa.

Julia riu nervosa, balançando a cabeça.

— Você está falando como se a gente se conhecesse há muito tempo. Nós mal tivemos um dia juntas.

Luiza sorriu, piscando para ela.

— Verdade, foi só um dia. Mas às vezes, um dia pode mudar muita coisa.

Julia encarou Luiza por um longo momento. As palavras que saíram da boca dela ainda estavam ecoando em sua mente. Um dia. E, com apenas um dia, Luiza tinha virado seu mundo de cabeça para baixo.

— Um dia — murmurou Julia, sorrindo suavemente. — Um dia foi o suficiente para você me desmontar mais fácil do que desmonta um lego.

As duas riram, quebrando a tensão entre elas. O riso de Luiza era leve, desarmando qualquer barreira que ainda restava no coração de Julia.

Então, o silêncio voltou a cair entre elas, mas dessa vez não era desconfortável. Era cheio de expectativa, de algo não dito, mas que ambas sentiam. Julia olhou para Luiza, os olhos escuros da outra mulher brilhando sob a luz suave da boate.

A respiração de Julia ficou mais curta, e seu corpo reagiu antes mesmo que sua mente pudesse processar. Ela se inclinou devagar, aproximando-se de Luiza. O ar parecia mais denso entre elas, a tensão quase palpável.

— Eu… — Julia sussurrou, com a voz falhando um pouco. — Eu quero você.

Os olhos de Luiza brilharam com uma mistura de surpresa e ternura. Delicadamente, ela ergueu a mão e puxou Julia para mais perto, os dedos passando suavemente pela pele da nuca de Julia. E então, com uma delicadeza que Julia não esperava, os lábios de Luiza encontraram os seus.

Foi um beijo calmo, sem pressa. Julia sentiu a confusão que a atormentava por dias começar a dissipar, como se aquele contato fosse a resposta para o caos que ela havia carregado. Cada segundo parecia durar uma eternidade, e ainda assim, não era o suficiente. Ela se perdeu na sensação, no toque de Luiza, no alívio de finalmente se permitir sentir.

Quando o beijo terminou, Julia ainda tinha os olhos fechados, tentando prolongar aquela sensação por mais um instante. Quando os abriu, encontrou o olhar gentil de Luiza, e pela primeira vez, sentiu que não precisava de respostas imediatas. Talvez, por agora, só precisasse sentir.

 Talvez, por agora, só precisasse sentir

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𝙴𝚗𝚝𝚛𝚎 𝙱𝚊𝚛𝚛𝚊𝚜 𝚎 𝚋𝚊𝚛𝚎𝚜 | Júlia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora