Doces

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Era uma manhã tranquila na casa de Momo e Sana. As duas já haviam terminado o café da manhã e agora estavam na cozinha, ocupadas com suas rotinas. Momo folheava e separava papéis em sua pasta, a maioria deles referentes às competições extracurriculares que os alunos participariam nas semanas seguintes.

Do outro lado da cozinha, Sana retirava o leite materno que havia extraído pela manhã, armazenando-o em pequenos saquinhos. Parte desse leite seria doado, enquanto outra parte seria descartada.

Esse ato, aparentemente simples, trazia uma sombra de melancolia para Sana. A situação de ser lactante ainda era um reflexo de uma decisão que ela e Momo tomaram no passado – uma decisão que, para ambas, representava um sonho que não se concretizou.

Sana, ao terminar de guardar os saquinhos no congelador, apoiou-se sobre a bancada da cozinha. Um suspiro escapou de seus lábios antes de ela murmurar, mais para si mesma do que para Momo:

—"Eu deveria ter pensado duas vezes antes de ter feito essa burrada."

Momo levantou o olhar da pilha de papéis e aproximou-se de Sana. Com carinho, Momo deslizou a mão pelas costas da esposa, acariciando-a com ternura.

—"Não foi uma burrada, amor...Você sabe disso." -A voz de Momo era calma. —"Não há nada de errado no que fizemos, nem na esperança que tínhamos."

Sana, no entanto, não conseguia afastar o peso de suas emoções e da frustração que carregava consigo. Ela suspirou novamente, fechando os olhos por um momento, tentando organizar seus pensamentos.

—"Como não?" -Sana perguntou, a voz levemente embargada. —"Eu estava tão ansiosa, tão empolgada, que mal pensei nas consequências. Agora estou presa nessa situação."

Momo não hesitou em puxar Sana para um abraço apertado. A verdade era que aquele sonho, que as duas compartilharam tão intensamente, havia se dissipado com o tempo. Não por falta de amor, vontade ou saúde, mas por circunstâncias que estavam além do controle de ambas.

—"Nós fizemos o que acreditávamos ser o certo." -Momo sussurrou enquanto acariciava o cabelo de Sana. —"Não se culpe por ter acreditado em algo tão bonito."

Após um breve momento de silêncio, Sana correspondeu ao abraço, se permitindo relaxar nos braços de Momo. Quando se afastaram, Momo olhou para sua esposa com uma expressão determinada.

—"Vou procurar outro médico para você, querida." -Momo disse. —"Vamos encontrar uma solução para isso."

Sana assentiu, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. Ela se inclinou para frente e deu um selinho em Momo.

—"Obrigada, meu bem.." -Foi tudo o que Sana conseguiu dizer. —"Vou guardar a bombinha no quartinho, já volto."

Sana pegou a bombinha de extração de leite, preparada para guardá-la em um espaço da casa que costumava ser o lugar onde elas sonhavam com um futuro diferente. Aquele espaço ainda era um assunto delicado para as duas, especialmente para Momo.

—"Eu vou com você." -Disse Momo.

Sana olhou para Momo, surpresa, mas logo concordou com um leve aceno de cabeça. Elas deram as mãos e, juntas seguiram.

Ao chegarem ao quarto, Sana abriu a porta e, sem hesitar, dirigiu-se diretamente à cômoda. Guardou o utensílio com calma, fechando a gaveta, enquanto Momo permanecia à porta, observando.

Momo deixou o olhar vagar pelo quarto, capturando os detalhes que tanto elas haviam trabalhado juntas para montar. Cada objeto, cada móvel, havia sido cuidadosamente escolhido. Ela caminhou até o armário, abrindo-o. Lá dentro, penduradas, estavam as roupas que elas haviam comprado há tanto tempo. Momo pegou uma das peças, um macacão branco e delicado, segurando-o em suas mãos.

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