'ecos do passado?

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S/N começava mais um dia em seu consultório no Rio. Já havia se passado dois meses desde que decidira se dedicar inteiramente ao trabalho, atendendo mais pacientes e mantendo sua agenda cheia. Helena, sua recepcionista, lhe entregava um sorriso caloroso enquanto lhe informava sobre os pacientes agendados.

— Bom dia, doutora! — Helena disse, já acostumada à rotina acelerada da clínica. — Hoje temos uma lista cheia. Primeiro, a senhora Carvalho, para a avaliação de retorno, depois o senhor Oliveira para a primeira consulta, e em seguida o senhor Bastos.

S/N acenou com a cabeça, ajustando o jaleco e se preparando mentalmente para as consultas. Tentava manter o foco, mas sabia que, nos momentos de silêncio, os pensamentos sempre voltavam para Julia e, inevitavelmente, para Priscila.

Seu primeiro paciente, a senhora Carvalho, era uma senhora de idade, mas ainda cheia de energia, que vinha regularmente ao consultório para acompanhamento de uma antiga lesão no joelho.

— Bom dia, dona Maria. Como tem se sentido? — Perguntou com um sorriso, enquanto a ajudava a se sentar.

— Ah, doutora, eu diria que como uma jovem de trinta anos, se não fosse por essa dor no joelho! — Respondeu a senhora, com um brilho nos olhos que sempre a fazia sorrir.

— Vamos ver como está, então. — S/N começou a examinar o joelho de Maria com atenção. — Mantenha o repouso que eu recomendei, e continue com os exercícios de fortalecimento. Em pouco tempo, a senhora vai estar como um adolescente no auge da vida.

Elas riram juntas, e S/N se sentiu, ainda que brevemente, reconfortada pela leveza daquele momento. Seguiram as consultas da manhã, o senhor Oliveira foi um pouco mais difícil, reclamando de dor persistente nas costas, mas S/N, com paciência e habilidade, ajustou os exercícios prescritos e o tranquilizou.

Depois de atender o senhor Bastos, ela olhou para o relógio e percebeu que já passava do meio-dia. A fome começava a dar sinais, e ela decidiu que seria uma boa ideia almoçar fora para espairecer um pouco. Disse a Helena que sairia e que voltaria em breve.

Dirigindo pela área nobre do Rio, S/N deixou a brisa da cidade entrar pela janela aberta. As ruas movimentadas, a correria do dia a dia, a distraíam de pensamentos indesejados. Pensou em um lugar agradável, talvez um restaurante famoso onde pudesse comer algo leve e relaxar. Decidiu parar no Gero, um restaurante bem conhecido pela mesma.

Estacionou o carro em frente ao restaurante e, ao descer, sentiu o celular vibrar no bolso. Franziu o cenho ao ver que era um número desconhecido. Hesitou por um segundo, mas atendeu.

— Alô?

Uma risada suave e familiar soou do outro lado da linha. S/N sentiu seu coração acelerar, reconhecendo instantaneamente a voz.

— Oi S/N.

Ouvir a voz de Priscila depois de algum tempo trazia um impacto para S/N. Não haviam mais conversado desde que ela havia voltado pro Rio. Era difícil para ambas, sabiam que ainda precisam se resolver, e resolver o que sentiam ainda uma pela outra.

— Não esperava te ouvir assim, do nada. — comentou, tentando manter a voz casual, mas sentindo o coração bater um pouco mais rápido.

Priscila riu do outro lado da linha. — É, eu também não estava esperando te ligar, mas aqui estamos. — Fez uma breve pausa antes de acrescentar: — Eu tô aqui no Rio.

— Pelo jogo de sexta?

— Não, eu pedi pro Zé um tempo. — Suspirou fundo.

— Quer sair pra fazer algo? — S/N perguntou esperançosa, embora ficasse curiosa pela resposta de Daroit.

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